O acervo da Cinemateca é múltiplo, extenso e variado, constituindo uma tipologia documental que exige diferentes tratamentos arquivísticos. A disponibilização das bases de consulta em versão simplificada visa uma interface amigável com o usuário e não elimina a possibilidade de arguição direta em função de demandas e especificidades que ultrapassem as informações aqui consolidadas.
Procedimentos de consulta
A consulta à documentação sob guarda da Coordenadoria de Documentação e Pesquisa é livre e gratuita, com direito à reprodução para fins de estudo, pedagógicos e de divulgação não comercial, à exceção de alguns pouco itens, que exigem autorização expressa por escrito do detentor de direitos para consulta ou duplicação. Se o uso das informações de qualquer natureza ou suporte for ter outro fim que não os indicados acima, em particular se for objeto de inserção em peça comercial de qualquer natureza, uso e meio, é necessário informar previamente o setor, sob pena de processo judicial pelas instituições e pelos terceiros diretamente atingidos.
Os procedimentos de consulta são simples. Uma verificação prévia pode ser feita quanto à possibilidade de existência de fontes que interessem ao pesquisador/usuário nas bases disponibilizadas neste sítio (para outras fontes consulte diretamente o setor). Para agendar a pesquisa, basta enviar um e-mail para o endereço eletrônico [email protected], indicando nome, materiais ou temas que quer consultar, instituição a que está vinculado e uso pretendido das informações. O usuário receberá uma resposta por correio eletrônico, esclarecendo se há materiais disponíveis para consulta e marcando dia e hora para a vinda ao setor. Quaisquer dúvidas adicionais poderão ser esclarecidas por força de correspondência eletrônica.
A coleção de cópias de difusão da Cinemateca do MAM, disponibilizada mediante consulta direta ao Arquivo, apresenta-se em suporte película (35mm e 16mm) e digital (DCP, MOV, MP4 e outros formatos). Para pesquisa e agendamento de títulos é necessário acessar a aba ACERVO/Audiovisual/Fílmico e/ou entrar em contato com o Arquivo de Filmes pelo e-mail [email protected].
As coleções de cartazes e de imagens fotográficas da Cinemateca do MAM estão disponíveis ao acesso público mediante consulta direta ao arquivo. O empréstimo se fará sob condições e especiais e mediante seguro no caso de cartazes de documentos raros. Para pesquisa no acervo é necessário acessar a aba ACERVO/Documental e/ou entrar em contato com a Coordenadoria de Documentação e Pesquisa, pelo e-mail [email protected].
Histórico de Documentação e Pesquisa
Embora formalmente constituído em 1960, pode-se dizer que a existência da Coordenação de Documentação e Pesquisa da Cinemateca remonta ao envio de livros, revistas, cartazes, lanternas mágicas e outros itens feito em 1956 pelos diretores Antônio Moniz Vianna e Ruy Pereira da Silva, por ocasião de uma viagem de visita e consulta a outros arquivos na Europa e nos Estados Unidos. Ainda na década de 1950 seriam acrescidas novas doações, como a de impressos e press-books dos filmes lançados pela United Artists no Brasil, de 1916 a 1949, e a de materiais de divulgação do produtor e diretor Moacyr Fenelon, feita por sua viúva Olga e sua filha Yeda em 1959. No ano seguinte o crítico e romancista Octávio de Faria, compreendendo o alcance da iniciativa entrega grande parte de sua biblioteca particular de cinema para a instituição.
Logo em seguida, o primeiro periódico é ofertado sob a forma de uma assinatura da crescentemente prestigiosa Cahiers du Cinéma pela Maison de France. O volume de materiais já era suficiente em 1964 para suscitar a contratação de um profissional encarregado de organizá-los, o crítico Jorge Kuriaem Filho, e a definição de um local apropriado para o acervo, que se instala junto à sala de projeção do terceiro andar do Bloco de Exposições. Com o crescente sucesso da Cinemateca ficou claro que as seguidas doações exigiam um tratamento mais amplo e profissional, assumindo também o setor a tarefa de promover uma coleta organizada de informações, sobretudo junto à imprensa diária de todo o país, o que ampliava ainda mais o volume da empreitada.
Com a entrada dos críticos José Carlos Avellar e Ronald Monteiro em 1969, estrutura-se uma separação e catalogação das diferentes tipologias documentais, configurando-se a biblioteca, que segue ainda hoje como a maior do país em sua área, o arquivo de papéis, constituído principalmente por dossiês de imprensa e, nesta época, por ampliações fotográficas, e a seção de cartazes. Com o incêndio de 1978, parte do acervo é atingido pelos trabalhos de combate ao sinistro e de rescaldo, requerendo um novo tratamento e disposição. Com o desenvolvimento do projeto de reestruturação de toda a Cinemateca, instituído no ano seguinte, o setor passa a ser abrigado no Bloco Escola. Coordenado por Monteiro, com a colaboração de Vera Brandão de Oliveira e outros funcionários da Cinemateca, a Documentação e Pesquisa passa a trabalhar com a orientação e os instrumentos de pesquisa recomendados pela Federação Internacional de Arquivos de Filmes. Parte dos dossiês de imprensa é microfilmado em parceria com a Casa de Ruy Barbosa e periódicos históricos como Cinearte e A Scena Muda são emprestados à Biblioteca Nacional com o mesmo fim.
Já no século 21, a Cinemateca colaboraria com o projeto de digitalização destes mesmos títulos, empreendido pela Biblioteca Jenny K. Segall. Crescendo continuamente ao longo dos últimos 20 anos, torna-se o maior centro de documentação de cinema do país, acumulando quase 3 milhões de itens documentais em seu acervo e uma diversificada gama de materiais, indo de brinquedos e cromos a roteiros originais e story-boards, de programas de salas de exibição do início do século 20 a uma “biblioteca” digital com conteúdos coletados na rede mundial de computadores, muitos deles já desativados para consulta online, denominada Centro de Documentação Virtual. Parte do acervo ainda está sendo tratado arquivisticamente e parte já está passando por um processo de digitalização, alimentando os instrumentos de pesquisa e as formas rápidas e seguras de consulta do ponto de vista da conservação dos documentos. Para os materiais protegidos por direitos patrimoniais, autorais e de imagem, o acesso a este patrimônio ainda implica em grande parte na presença física do usuário na instituição.
Em 2020 a Cinemateca do MAM deu início à mudança de seu acervo não fílmico para um novo Centro de Conservação à rua do Senado, no Centro do Rio. Veja detalhes no vídeo abaixo.
Aparatos tridimensionais
A coleção de equipamentos, instrumentos e peças tridimensionais é originária da transferência do conjunto reunido pelo cineasta e pesquisador Jurandyr Noronha para a constituição do Museu Nacional de Cinema, iniciado em 1970 e afinal não efetivado. Ao pequeno núcleo somaram-se os importantes conjuntos do Instituto para Preservação da Memória do Cinema Brasileiro e da própria Cinemateca. São cerca de duas mil peças, distribuídas por área como fotografia de cinema, montagem, som, laboratório, cenografia, figurino, televisão, exibição. Parte do acervo fica exposta permanentemente na Galeria Jurandyr Noronha, localizada no Bloco Escola.
Acervos Particulares
Os arquivos particulares sob comodato da Cinemateca, por sua condição especial, só podem ser consultados mediante autorização dos depositantes ou detentores legais, com exceção do Arquivo Alex Viany, que foi digitalizado e disponibilizado para consulta pública direta na internet (www.alexviany.com.br).
O banco de dados e os documentos integrantes do Arquivo Alex Viany (1918 – 1992) podem ser consultados diretamente no endereço eletrônico www.alexviany.com.br. Para um acesso físico às coleções e séries, assim como à biblioteca do titular, entre em contato com a Coordenação de Documentação e pesquisa, pelo endereço eletrônico [email protected], informando os dados do usuário e as razões para o pedido. O acervo compreende a documentação coletada ao longo da vida pelo historiador, crítico e cineasta Almiro Viviani Fialho (Rio de Janeiro, 1918-1992), mais conhecido pelo nome artístico de Alex Viany. Considerado um dos precursores do movimento do Cinema Novo, por conta da realização de filmes como Agulha no Palheiro e Ana, episódio do longa Die Windrose, desenvolveu uma longa carreira como crítico de cinema junto à imprensa diária e à periódicos como O Cruzeiro e A Scena Muda. Distinguiu-se pela redação e publicação daquele que é considerado a primeira história significativa do cinema brasileiro, o livro Introdução ao Cinema Brasileiro, publicado em 1959 e de enorme influência junto às novas gerações de realizadores e estudiosos. Publicou outros trabalhos, entre os quais se destaca a coletânea O Processo do Cinema Novo, de edição póstuma. A documentação reunida em seu arquivo particular contempla sua produção intelectual na imprensa diária, assim como as pesquisas que desenvolveu e as entrevistas que realizou, gravadas e/ou transcritas. Refere-se tanto a materiais publicados quanto a inéditos. Apresenta ainda a coleta de fontes que empreendeu, referentes principalmente ao cinema brasileiro, onde se destaca sua tentativa enciclopédica de reunião de dados a respeito dos que trabalharam com cinema no Brasil desde os primórdios, e ao cinema estadunidense. O acervo se complementa com fontes iconográficas de igual teor.
Importante realizador latino-americano, com passagens pela Argentina, Peru, Chile, Venezuela e Brasil, onde chegou em 1954 e desenvolveu a maior parte de sua carreira. Carlos Hugo Christensen (Santiago del Estero, 1914 – Rio de Janeiro, 1999), um dos nomes mais significativos do cinema sonoro de estúdio portenho, destacou-se pelos métodos singulares de filmagem, ao mesmo tempo rápidos e de resultados rigorosos em termos de acabamento técnico e estético. Em seus filmes argentinos explora uma leve sensualidade e constrói um sóbrio chiaroscuro. Mostra crescente interesse pela literatura latinoamericana moderna, adaptando ao longo de sua filmografia escritores importantes como Jorge Luis Borges e Silvina Ocampo, assim como pelo universo do terror, gênero que explora em chave psicológica. No Brasil distingue-se pela abordagem inaugural de temas fortes como a violência carcerária, campesina e conjugal. Na medida do conservadorismo reinante retrata ainda de forma pioneira a repressão homossexual, em filmes como O Menino e o Vento e A Intrusa. Apaixonado pelo Rio de Janeiro, dedica á cidade inúmeros trabalhos, onde procura fixar tipos, ambientes e atmosferas, dos quais se destaca Crônica da Cidade Amada. Em rara incursão no documentário, registra de forma única no Brasil as origens da Bossa Nova. Profissional muito conceituado e sempre desejoso de experimentar novas fórmulas e processos, concebe um longa de terror rodado em estúdio, poucos planos-sequência e câmara na mão. A Casa de Açúcar, primeira co-produção oficial entre Brasil e Argentina, torna-se seu último trabalho, permanecendo montado e parcialmente sonorizado, mas nunca finalizado e lançado. A documentação encaminhada pelo sócio e amigo Francisco Marques envolve registros de produções, croquis cenográficos e artes-finais de cartazes.
Produtor, distribuidor e exibidor de origem hispânica, tornou-se conhecido ao arrendar as antigas salas de exibição especializadas nas chamadas sessões passa-tempo – projeção de filmes não-ficcionais como animações, cinejornais e documentários –, como o Cineac-Trianon e o Cine Hora, no Rio de Janeiro, reencaminhando-as para a produção adulta e erótica. O acervo constituído por releases, press-books, fotos e álbuns de produção reflete sua atuação como empresário do setor, principalmente nos anos 60 e 70 do século passado.
Crítico, escritor, tradutor, cineasta e filósofo, notável por sua precisão, concisão e julgamento. Paulo Perdigão (Rio de Janeiro, 1939 – 2006) se formou em Filosofia, área em que explora sobretudo o pensamento existencialista, ingressa no jornalismo impresso diário em meados da década de 1960, passando rapidamente do Diário Carioca ao Correio da Manhã, onde se torna um dos discípulos do Decano da crítica Cinematográfica, Antônio Moniz Vianna. Acompanhando o Mestre no Instituto Nacional de Cinema, torna-se o primeiro editor de Filme Cultura, imprimindo feição internacionalizante à pauta da revista. No órgão ainda ficou responsável pela edição do Guia de Filmes, publicação de referência sobre os filmes lançados anualmente no mercado brasileiro. Contratado pela Rede Globo de Televisão como programador em 1967, cargo que exerceu por 30 anos, imprime marca de qualidade à seleção irradiada, procurando introduzir na grade da emissora obras mais polêmicas e experimentais, além de filmes brasileiros. Paralelamente assinou a coluna Filmes na TV do jornal O Globo, onde fazia um ligeiro, incisivo e marcante comentário sobre as produções televisionadas no dia. Em seu tempo livre dedicou-se ao trabalho em torno de suas obsessões. Estudou as obras filosóficas de Jean Paul Sartre e Martin Heidegger, publicando alentados ensaios sobre suas idéias e realizando dois filmes sobre sua relação com eles e seus espaços de vida. De Sartre ainda traduziu para o português a magnus opus, O Ser e o Nada. Esmiuçou e radiografou a famosa final da Copa do Mundo de Futebol de 1950, a qual esteve presente, no texto Anatomia de uma Derrota, cujo surpreendente conto final inspirou o curta Barbosa, de Ana Luiza Azevedo e Jorge Furtado. Resgatou em livro homônimo o programa humorístico radiofônico PRK-30. E realizou exegese exemplar e definitiva do westernShane, de George Stevens, ao longo de vários artigos, entrevistas e dois livros. O Arquivo Paulo Perdigão contém o vasto material de imprensa sobre os filmes em lançamento que chegava ao crítico, concentrando-se principalmente nos anos 1960.
Helena Salem (Rio de Janeiro, 1948 – 1999) foi jornalista, escritora e cineasta com fortes ligações à questão árabe-israelense, que explorou em diversos livros. Em viagem pelo Oriente Médio em 1973, acompanha como correspondente de guerra do Jornal do Brasil a chamada Guerra do YomKippur, cobertura que catapulta sua carreira. Cansada da editoria de política, redireciona-se para o jornalismo cultural na virada para a década seguinte, fixando-se principalmente na área cinematográfica. Escreve duas elogiadas biografias sobre os cineastas Nelson Pereira dos Santos e Leon Hirzsman, além de editar em livro parte das entrevistas da série de televisão 90 Anos de Cinema, uma Aventura Brasileira e um balanço da retomada da produção cinematográfica nos anos 1990. Foi durante mais de uma década editora de cultura do jornal O Estado de São Paulo, vez por outra também exercendo a crítica diária neste e em outros veículos como Última Hora. Co-dirigiu em 1985 com Jorge Bodansky o documentário Igreja dos Oprimidos, baseado em estudo seu, estando a preparar novo filme sobre o tema quando faleceu. O acervo depositado por sua filha Dina Levy contém notas de trabalho, levantamentos de pesquisa para os livros de cinema que publicou, roteiros, documentos de produção de diversos filmes e alguns manuscritos. As entrevistas realizadas para as duas biografias encontram-se no PACC da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
O moçambicano Ruy Alexandre Guerra Pereira Coelho nasceu em Maputo quando esta ainda era capital de uma colônia portuguesa, em 1931. Cedo interessou-se por cinema e pela realidade sócio-política ao seu redor, rodando na adolescência registros em 8mm da vida dos trabalhadores portuários. Muda-se para França em 1952, indo estudar no Institute des Hautes Études Cinématographiques, atual Femis. Realiza na escola o curta Quand le soleil dort, sobrevivendo a seguir como assistente de direção e ator, até transferir-se para o Brasil em 1958, interessado pelas possibilidades do país e pelo sincretismo religioso. Desenvolve o projeto do longa O Cavalo de Oxumaré, que desavenças com o produtor não permitem a conclusão e o lançamento. Associa-se ao movimento do Cinema Novo, rodando clássicos como Os Cafajestes e Os Fuzis, premiado no Festival de Berlim. Roda em seguida Tendres Chasseurs/Sweet Hunters, dando início a uma carreira internacional que o levaria do Panamá à França, de Moçambique ao México, de Portugal à Cuba, com retornos regulares ao Brasil, sendo considerado uma dos mais importantes realizadores em atividade no país. Paralelamente desenvolve carreira bissexta com letrista, dramaturgo e ator, assumindo na última década também a função de professor de cinema junto às universidades Estácio de Sá e Gama Filho e mais recentemente junto à Escola de Cinema Darcy Ribeiro. O Arquivo Ruy Guerra cobre a produção intelectual e documentação de produção de sua carreira brasileira até o ano de 1989. Para consulta ao acervo é necessária autorização por escrito do titular.