RENATA TUPINAMBÁ
Assista em: http://www.corposdaterra.com.br
Invocando narrativas da Mãe Terra, fonte feminina de vida, útero de criações que sustentam as muitas filosofias, universos cosmológicos, realidades dos povos que compõem nações em diálogos interculturais, o Festival Corpos da Terra conecta membros de um grande corpo — não separado da natureza — chamado humanidade. Em sua terceira edição, o Festival traz para o público a diversidade das culturas e artes contemporâneas dos territórios desconhecidos de Brasis Indígenas invisibilizados.
Nas culturas andinas, eram popularmente nomeados, no idioma quíchua, Pacha, “universo”, “mundo”, “tempo”, “lugar”, e Mama, “mãe”: “Mãe Terra”. Na língua Guarani, a chamada Nhandecy era a “mãe terra”. Cada povo nomeia, com símbolos próprios de suas culturas, esse grande espírito criador que conecta as teias dos muitos reinos, fauna, flora e tudo.
A terra é a base para a continuidade das práticas milenares e para o respeito aos saberes ancestrais na busca de um bem viver coletivo em todos os espaços. O cabelo humano pode ser comparado às matas, raízes; seu corpo, à terra fértil; seu sangue, ao líquido que se movimenta alimentado pelo ar e o fogo. Manter o céu suspenso, como alerta o líder e ancião Davi Kopenawa no pensamento do saber Yanomami, é necessário para continuarem florescendo as culturas originárias e toda forma de vida terrestre.
A edição 2021 do Festival traz curtas metragens que ampliam perspectivas e conhecimento sobre 11 povos distintos, realizados pelos cineastas indígenas e não indígenas: Michele Perito Concianza, Shawara Maxakali , Patrícia Ferreira Pará Yxapy , Olinda Muniz Wanderley, Yariato Juruna, Dadyma Juruna, Graciela Guarani, Isael Maxakali, Sueli Maxakali , Kamatxi Ikpeng , Júlia Gimenes, Associação dos Índios Cariris do Poço do Dantas, Flay Guajajara, Edivan dos Santos Guajajara, Erisvan Bone Guajajara , Charles Bicalho, Julia Vellutini, Wesley Rodrigues, Tiago Carvalho, Sérgio Guidoux e Sophia Pinheiro.
As mesas de debate contam com a presença de Yakuy Tupinambá (BA), Daiara Tukano (SP/DF/AM), Avelin Bunicá Kambiwá (MG), Juma Xipaya (PA), Olinda Muniz Tupinambá (BA), Graciela Guarani (MS/PE), Lian Gaia (RJ), Dayana Molina (RJ), Arassari Pataxó (BA/RJ), Emerson Uyra (AM), Juão Nÿn (RN/SP), Tereza Arapium (PA/RJ) e apresentações musicais etnofuturistas com as artistas mulheres Katu Mirim(SP) e Kae Guajajara (MA/RJ) que têm protagonizado grande parte da cena atual.
A luta por direitos garantidos não respeitados e as violências diárias que corpos originários enfrentam dentro da herança deixada pelo Brasil Colônia compõem um estado de constante alerta no país que tem uma das maiores diversidades étnicas mundiais. Suas etnovisões e sobrevivência são expressas no trabalho de realizadores, artistas, escritores, atores, ativistas, músicos, cineastas, lideranças.
Eles resistem em uma sociedade nacional de diferentes contextos sociais, geográficos, políticos, religiosos e culturais que invisibilizam seus modos de ser.
Renata Tupinambá, curadora do Festival Corpos da Terra – 3a Edição