Sandro Lopes era um incrível amigo, animador, professor, designer. Conheci Sandro no circuito de animação, em festivais e eventos. E cada vez que o encontrava, descobria que ele era mais. Cada vez que sabia sobre seus trabalhos e projetos e propostas, cada vez que o ouvia – fosse na mesa de debate ou na mesa do bar – descobria que ele era mais. Primeiro soube que era animador. Depois descobri que era formado em design. Depois descobri que era pesquisador. Depois descobri que era professor. E concomitantemente descobria como isso tudo era só a superfície; como cada faceta e direção eram imensamente ampliadas por bandeiras essenciais e históricas, como sua incansável luta pela presença e a voz negra foi e é fundamental para a animação brasileira, para a cultura brasileira, para o país.
Penso no Sandro e lembro de Clementino Jr., Rui de Oliveira, Cesar Custódio, Valu Vasconcelos, Ianah Maia, Fernando Nisio, Mário Aires, André Nacour, Anderson Mahanski, Fernando Timba, Ayodê França, Augusto Mattos, Diego Akel, Maria Leite, Paulo Caetano, Cris Vasconcelos, Leonardo Catapreta, Pedro Barreto, Rayk Washington, Jamile Coelho, Otoniel Oliveira. São poucos nomes, ainda muito poucos. E ao mesmo tempo envolvidos e interligados, mesmo os que não se conhecem. Cada um, individualmente, multiplicou e distribuiu uma força sem tamanho. Regionalmente, nacionalmente, no mundo inteiro. São poucos nomes, mas que crescem em progressão geométrica pelo precioso empenho e labuta diária de cada um e cada uma.
Sandro cresceu no subúrbio carioca. Sandro se formou em Desenho Industrial na UFRJ e depois fez pós-graduação em Design e em seguida Doutorado na PUC-RJ sobre o design afirmativo. Sandro foi Professor do Magistério Superior do Curso de Belas Artes da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).
Sandro foi professor do Instituto Infnet na área de animação. Sandro venceu o Prêmio Funarte Arte Negra 2012 com o brilhante projeto de animação “Nana e Nilo”, que se transformou em uma admirável série e em obras literárias. Sandro dirigiu o filme “Se essa Rua Fosse Minha”, parte da série de curtas de animação sobre cantigas de roda realizada pela Multirio, onde trabalhou também como animador
na série “Juro que Vi”.
Sandro foi animador na série “Meu Amigãozão” para a TV Brasil (cuja privatização lutou contra até seus últimos dias) e foi Storyboarder para a série “Sítio do Picapau Amarelo”. Sandro foi um dos pioneiros do Movimento 21 Dias de Ativismo Contra o Racismo. Em todos os seus trabalhos, Sandro colossalmente incluía personagens negros no imaginário infantil para aproximar crianças das tradições de matriz africana.
Tudo que Sandro fez e foi mudou tanto tudo ao seu redor, afetou tanta gente durante tanto tempo – e continua afetando e mudando e inspirando – que compartilho meu orgulho em redigir este texto munido do que recebi e aprendi e me recordo com mais intensidade do meu amigo: humor, inteligência, imaginação, dedicação, paciência, generosidade, pé firme, união, lucidez, talento, afeto.
Sandro faleceu injustamente e cedo demais – aos 41 anos – por complicações de covid durante um desgoverno avesso à ciência e à cultura. Mas ele pelejou até o fim. E o legado que deixa é de arte, de cultura, de educação e de amor. Arte e amor encantadoramente eternos, que continuam e que permanecem em nós, seus amigos, seus companheiros de profissão, seus alunos, sua família.
Saudades de você, Sandro.
Marcelo Marão é curador da 2ª Mostra Petrobras de Filmes para Crianças.
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