4 set 2021 – 6 fev 2022
Curadoria: Beatriz Lemos, Keyna Eleison e Pablo Lafuente
O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro inaugura a exposição A memória é uma invenção, como parte do projeto Legados vivos, desenvolvido com o apoio do Instituto Cultural Vale. Sob a curadoria de Beatriz Lemos, Keyna Eleison e Pablo Lafuente, a mostra reúne cerca de 300 obras provenientes do acervo do MAM Rio e de outras duas instituições: o Museu de Arte Negra/IPEAFRO, associação sediada no Rio de Janeiro, responsável pelo legado de Abdias Nascimento; e o Acervo da Laje, dedicado à memória artística, cultural e de pesquisa sobre o Subúrbio Ferroviário de Salvador, fundado em 2011.
Com pinturas, gravuras, esculturas, fotografias e azulejos, a exposição reflete sobre os processos de construção de patrimônio, legado e cultura comum, ao apresentar no mesmo espaço expositivo os três acervos de arte com diferentes histórias, dinâmicas e projetos. Reunidas, as coleções mostram repetições e semelhanças nas escolhas de categorias e formatos, nos entendimentos do que faz uma obra ser conservada como parte de um legado, e nos métodos de compartilhamento das obras como parte de uma memória coletiva.
Vindos do acervo do Museu de Arte Negra/IPEAFRO, trabalhos de Abdias Nascimento, Heitor dos Prazeres, Carlos Scliar, Gerson de Souza e Chico Tabibuia, entre outros, estabelecem relações de convergência com obras de Adilson Paciência, Zaca Oliveira e Indiano Carioca, artistas que fazem parte do Acervo da Laje. As duas coleções dividem espaço com peças de Anita Malfatti, Inimá de Paula, Lucio Fontana, Maria Leontina e Yara Tupinambá, do acervo do MAM Rio.
Para Pablo Lafuente, diretor artístico do MAM Rio, A memória é uma invenção pretende provocar reflexões sobre a construção da história e suas narrativas, ao mesmo tempo em que propõe um exercício de imaginação: “esta exposição inaugura uma maneira de repensar patrimônio e acervo. Um caminho que, longe de compensar as violências do passado, acredita em outras formas de criar memórias que inspirem múltiplas possibilidades de vida no presente e no futuro”.
Compõe o projeto de troca institucional entre o MAM Rio e o Instituto Cultural Vale: o ciclo de conversas Cenas de Cultura Imaterial, iniciado em julho e realizado em parceria com o Centro Cultural Vale Maranhão. Em paralelo à exposição, as conversas permitem pensar a cultura a partir de paradigmas mais complexos, constituindo um horizonte para conceber novas possibilidades e questionar os limites das instituições culturais, incluindo os museus.
Com o intuito de suscitar diálogos sobre os processos de construção de patrimônio, a mostra A memória é uma invenção gera uma publicação de mesmo título, com 200 páginas, a ser lançada em dezembro. A publicação refletirá acerca de como a história e o patrimônio estão representados nas coleções e sobre como a memória múltipla e as transversalidades nos unem, a partir das diferenças.
“Este projeto trata de legitimidade e invisibilidade, presenças e ausências, bem como de apagamentos de certos acervos constituídos por artistas periféricos, racializados e de fora do eixo econômico do país”, analisa Beatriz Lemos, curadora adjunta do MAM Rio.
ACERVO DA LAJE
O Acervo da Laje é uma casa-museu-escola criada por Vilma Santos e José Eduardo Ferreira Santos em 2011, na cidade de Salvador (BA). Localizado no bairro de São João do Cabrito, perto da antiga região conhecida como Novos Alagados, resguarda uma coleção de obras de artistas e e outras coleções que evidenciam a história ancestral do Subúrbio Ferroviário de Salvador.
Divididas em duas casas, as obras convivem com biblioteca de manuscritos e livros raros sobre futebol, poesia, sobre a Bahia e arte; hemeroteca; CDs e discos; croquis; conchas; tijolos; azulejos; porcelanas antigas; artefatos e outros objetos que remontam ao passado da região.
Com o intuito de contar uma narrativa até então invisível do Subúrbio Ferroviário de Salvador, o Acervo da Laje se forma por meio de doações e aquisições, com muitos trabalhos encontrados no lixo. O Acervo começou com o mapeamento da produção artística do bairro, o que gerou, por meio de entrevistas e fotografias, uma grande rede que foi consolidada durante o ano de 2010. Até então, os registros mais difundidos da produção de arte na Bahia davam conta de artistas com maiores possibilidades de acessos, seja por recursos, raça ou gênero, e com pouca ou nenhuma vivência nos territórios periféricos da cidade.
Em 2020, trezentas obras do Acervo ganharam reprodução digital, com o objetivo de ampliar o acesso aos artistas de outras localidades. Em 2021, foi possível realizar novas digitalizações, além da elaboração de biografias de alguns artistas presentes no Acervo da Laje. Desenvolvido durante a pandemia, o Acervo da Laje Digital proporcionou maior alcance da coleção, e contribuiu para melhorias em seu espaço físico.
MUSEU DE ARTE NEGRA / IPEAFRO
A coleção Museu de Arte Negra emerge do trabalho do poeta, escritor, dramaturgo, artista plástico e ativista Abdias Nascimento (1914–2011) e seus colaboradores do Teatro Experimental do Negro, na interlocução com artistas brasileiros, sobre o tema da arte negra e seu papel na constituição da própria arte moderna. Abdias Nascimento foi diretor do Teatro Experimental do Negro e curador-fundador do Museu de Arte Negra entre 1944 e 1968. Exilado do regime militar de 1968 a 1981, ao voltar ao país foi deputado federal, senador e secretário do governo do Estado do Rio de Janeiro.
O projeto Museu de Arte Negra teve sua origem em agosto de 1950, numa resolução do 1o Congresso do Negro Brasileiro. Seu acervo reúne trabalhos de artistas renomados com outros pouco conhecidos, apresentando, assim, grande diversidade de temas, materiais e técnicas, incluindo pinturas, desenhos, gravuras, fotografias e esculturas. Sua primeira exposição foi em 1968.
Durante o exílio e depois do seu retorno ao Brasil, Abdias Nascimento continuou sua ação de curadoria, mediante intercâmbios com artistas brasileiros e internacionais, cujas obras doadas enriqueceram o acervo. Invisibilizada pela cultura estabelecida e ignorada pelo contexto das artes, a coleção reúne obras percebidas muitas vezes, erroneamente, como manifestações artesanais.
O acervo do projeto Museu de Arte Negra se encontra sob a guarda do Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-brasileiros (IPEAFRO), dirigido por Elisa Larkin Nascimento. Localizado na região central do Rio de Janeiro, o IPEAFRO se dedica, desde 1981, à preservação e divulgação da cultura negra no país, por meio de projetos de educação, pesquisa e documentação.
MAM RIO
Com mais de 70 anos de história, a coleção do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro reúne obras de arte moderna e contemporânea de artistas brasileiros e internacionais. As mais de sete mil obras que formam o acervo hoje são o resultado de ênfases e dinâmicas que mudaram ao longo dos anos, de acordo com os interesses institucionais e curatoriais, atualizações nas práticas artísticas, e a eventos específicos. Um dos mais marcantes é o incêndio que, em 8 de agosto de 1978, consumiu aproximadamente metade da coleção, que naquele momento contava com cerca de 1.000 itens. As obras incluídas em A memória é uma invenção foram adquiridas pelo museu antes do incêndio, por meio de compras, doações pessoais e doações de empresas.
Durante as três primeiras décadas após sua fundação, a ênfase das aquisições estava na arte moderna euro-
peia e dos Estados Unidos, na arte latinoamericana, e na arte brasileira, principalmente desde uma perspetiva moderna, porém com espaço para obras que respondiam a tradições populares.
Além do acervo de arte pertencente a instituição, o MAM Rio conserva em comodato 6.621 obras da Coleção Gilberto Chateaubriand, em sua maior parte de arte moderna e contemporânea brasileira, e 2.687 fotografias da Coleção Joaquim Paiva. O museu é também responsável por acervos documentais e bibliográficos especializados em arte moderna e contemporânea, e pela Cinemateca do MAM, que salvaguarda um acervo de aproximadamente 70.000 filmes, acompanhado de um acervo documental de cinema.
Diagrama Ritual Sincrético (1993), Abdias do Nascimento. Acervo Museu de Arte Negra/IPEAFRO
Sem título (2011), Indiano Carioca. Acervo da Laje
Carnaval (1952), Elisa Martins da Silveira. MAM Rio/Doação da artista
Sem título (1955), Maria Leontina. MAM Rio
ARTISTAS NA MOSTRA
Lei de Incentivo à Cultura
Organização: Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro
Coorganização: Acervo da Laje, Centro Cultural Vale Maranhão, Museu de Arte Negra/IPEAFRO
Parceria Estratégico do MAM Rio e patrocínio do projeto Legados vivos: Instituto Cultural Vale
Patrocínio Master: Grupo Petragold, Petrobras, Ternium
Realização: Secretaria Especial da Cultura, Ministério do Turismo – Governo Federal