Éric Rohmer, a poesia do espaço

RUY GARDNIER

Assista à mostra “Éric Rohmer, a poesia do espaço”, de 4 a 27 de março, no auditório da Cinemateca do MAM. Entradas gratuitas em www.mam.rio/ingressos.

Para Éric Rohmer, a arte e a magia cinematográfica residem no uso do espaço. Seu primeiro artigo de envergadura mais teórica, em 1948, chamou-se “O cinema, arte do espaço”, e sua dissertação de mestrado tem o nome A Organização do Espaço no ‘Fausto’ de Murnau. O cinema é a captura da realidade e essa captura se dá no modo como o cineasta enquadra e ilumina o mundo, as ruas, as pessoas, as coisas. E os filmes de Éric Rohmer são apaixonantes por sua entrega ao real sem artifícios. Diante de sua câmera, tudo parece ter uma concretude que não se encontra facilmente em outros filmes. Seu cinema é uma partilha completamente original entre documentário e ficção: enquanto as intrigas são inspiradas na comédia teatral francesa (Marivaux, Musset), a apreensão do mundo é frontal, com locações reais, sem intervenções decorativas ou ostentações de expressividade. Rohmer deixava o mundo fazer sua própria poesia: o mágico é fazer a câmera captar esse milagre, como em O Raio Verde (o fenômeno que dá título ao filme) e 4 Aventuras de Reinette e Mirabelle (a “hora azul”).

A parte mais conhecida da obra de Rohmer é serial: são os conjuntos Seis Contos Morais (1963-1972), Comédias e Provérbios (1981-1987) e Contos das Quatro Estações (1990-1998). Mas há também nove outros longas-metragens, “sem série” por assim dizer, em especial alguns filmes de época, em que a literalidade rohmeriana incita a cenografia a não falsificar o distanciamento histórico, que adicionam densidade à estética do cineasta. E também diversos filmes educativos feitos para a televisão francesa, principalmente nos anos 60, que até hoje circularam muito pouco, e que no entanto revelam muito a respeito de seus interesses artísticos, literários e cinematográficos.

Nascido Maurice Schérer em 1920, Rohmer foi um dos “jovens turcos” da revista Cahiers du Cinéma que revolucionaram a crítica cinematográfica. Sua carreira profissional de cineasta começa em 1958, no seio da Nouvelle Vague, engata realmente em 1967 e vai até 2007. Falecido em 2010, ele deixou uma obra cinematográfica de intenso rigor e notável coerência expressiva e temática. São filmes que adequam elegância e simplicidade, um gosto pela beleza discreta e pelo exercício da inteligência. Convidamos o espectador a descobrir ou redescobrir o prazer de se sentir envolto pelo espaço das imagens de Éric Rohmer.

Ruy Gardnier é jornalista e crítico de cinema.

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