O outro Reichenbach

LOUIS SKORECKI (Libération) 

“Por acaso, nada tem a ver com o francês o Carlos Reichenbach. Grande personalidade de São Paulo, alucinado por cinema e grande especialista em cinema japonês, do qual já falamos uma vez aqui, à época de Roterdã/85 (descoberta maravilhosa de Lilian M. e Amor Palavra Prostituta), e mais recentemente no Festival de Amiens, quando Edouard Waintrop teve a boa ideia de o confrontar com outra cineasta paulista, Ana Carolina, ainda mais delirante (de um jeito histérico-intelectual) que Reichenbach. 

Esperando seu momento aqui em Roterdã, Carlos Reichenbach comenta seu desafio atual: ter feito um filme oficial, isto é, com aporte financeiro correto e sobretudo com o apoio da Companhia Nacional Brasileira, a poderosa Embrafilme. A despeito de pequenos problemas puramente técnicos (apoio muito forte em atores meio esquecidos que foram o charme do cinema “B” e de novelas brasileiras, Reichenbach, apesar de criar efetivamente um estilo original de jogo cênico, corre o risco de verdadeiramente fazer-se meio esquecido!) Filme Demência (Le Dernier Faust) é realmente fascinante: reencontramos obsessões familiares de Reichenbach (um burguês urbano em confronto com seus fantasmas intelecto-pornôs sob a forma de prostitutas lascivas e de esposas masoquistas), acompanhadas de uma nova reflexão sobre a força (e a fraqueza) o êxito (e o fracasso) e o desejo forçado do sonho (com alguns momentos de realidade em volta).

A partir da história de Fausto, Filme Demência deriva docemente (mas seguramente) para o thriller poético, enquanto a encenação de Reichenbach passa, depois de extremos porno-tropicais a um estilo mais próximo do esboço. As mais belas cenas são violentamente inventivas com, em particular, uma utilização muito astuciosa do “carrinho óptico” inventado por Cocteau (em lugar de fazer um zoom ou um traveling para aproximar a câmera de um personagem, faz-se o contrário, isto é, leva-se o personagem até a câmera); esta técnica associada a efeitos de profundidade de campo permite a Reichenbach inventar um espaço absolutamente inédito, em que seus heróis (Fausto, Mefisto…) deslocam-se como fantasmas.

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