Espiralar, por Valéria Alencar

O que pode ser maior que a ousadia, quando esta levanta a neblina densa da floresta e revela paisagens tão concretas quanto divinas? O que pode ser maior do que o desejo de expandir? O desejo pressupõe paixão por algo latejante que atiça os cinco sentidos e as nove consciências, faz tremer as emoções carregadas de afetos, numa intensidade alucinante, quebra todas as regras, sobrepondo-se a razão. O manejo dos corpos Homem-Violão, provoca arrebatamentos! Há de afrouxar as cordas rasgadas pela luz veloz do tempo, de sons coloridos com timbres poéticos, peitorais, viscerais, entre dentes compondo pausas com as mãos. Quase uma prece, um rito, a evocar Deuses adormecidos pela mesmice. Aqui, neste lugar, documentar é voltar a ser criança, brincar seriamente com ofício de tocar a alma, o espírito.O peito sobre as ancas do violão, viola regras e nada é em vão, como o delirante apaixonado se arrepia ao toque, vibra staccato, transpira legato com os punhos enquanto apalpa com os dedos e unhas o invisível.

É pura leveza ouvir os sussurros e gemidos a beber de colher a falta de ar. O amor é sinônimo de liberdade, tons imemoriais, é o Éter, a essência perambulante, pés flutuantes em água doce. Nana neném, escuta o tilintar do artista, faz-me nascer – acordais em acordes-ais – acorde em mim os sonhos de vagarezas, pais, mães, tias e Terezas da minha infância. Rezo neste palco, altares uterinos, daí-me à Luz de um parto sem dor. O artista diz “Rir de si próprio”, pois então rir é transgredir, dançar o drama da vida entre o sagrado e o profano e descobrir-se em movimento, bailar com todos os corpos para aguçar o homem antes do artista.Ping Pong, Ping Pong, um jogo, um mito a orquestrar, florestas, aromas e lagartos!

Valéria Alencar atriz e escritora, com diversos trabalhos para cinema, teatro e tv, participou do filme Bicho de Sete Cabeças de Laís Bodanzky, além de inúmeras participações em telenovelas. Participou do espetáculo Residue (Pares no Lixo e no Luxo) dirigido por Lu Grimaldi, com Mario da Silva, Rocio Infante e João Vitti.

A Cinemateca do MAM é patrocinada pela Samambaia Filantropias.

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Informações
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