O carioca Ivan Serpa (1923-1973) foi um artista de extensa produção, professor e formador do Grupo Frente, um marco histórico no movimento construtivo no Brasil. Convidado pelo MAM Rio, Serpa começou a dar aulas em 1952 e formou diferentes gerações de artistas. Com o crítico Mário Pedrosa, escreveu o livro “Crescimento e Criação” em 1954, sobre sua experiência no ensino de arte para crianças. Nas palavras de Pedrosa, nessas aulas “se cultiva a liberdade completa de expressão”.
Serpa foi aluno do gravador austríaco Axl Leskoschek em 1946. No ano seguinte, expôs na divisão moderna do Salão Nacional de Belas Artes. Nesse período já demonstrava preocupação com o plano pictórico, que o levou ao abstracionismo geométrico e ao concretismo na década de 1950.
Sem título, série Mangueira (1972), óleo sobre tela, 202,3 X 135,5 cm / 203 X 137 X 2,8 cm. Coleção Gilberto Chateaubriand MAM Rio.
“Formas nº 16” (1952), óleo sobre tela (fundo em madeira), 73,4 X 60,1 cm. Doação do artista para a Coleção Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
Na I Bienal de São Paulo, em 1951, recebeu o Prêmio Jovem Pintor Nacional. No ano seguinte participou da representação brasileira na Bienal de Veneza e passou a exercer a atividade didática sistematicamente, na sede provisória do MAM Rio. Por duas décadas deu aulas no museu para adultos e crianças. Foi professor de Aluísio Carvão, Antonio Manuel, Décio Vieira, Hélio Oiticica, Lygia Pape, Raimundo Colares, Waltercio Caldas e Wanda Pimentel, entre outros artistas, e estimulava seus alunos a encontrarem suas próprias respostas artísticas.
Em 1953, participou da Exposição Nacional de Arte Abstrata no Hotel Quitandinha, em Petrópolis. No ano seguinte, fundou o Grupo Frente que, apesar de bastante heterogêneo, adotava a abstração geométrica. Fizeram parte os artistas Abraham Palatnik, Aluísio Carvão, Hélio Oiticica, Lygia Clark, Lygia Pape, Franz Weissmann, Eric Baruch, João José da Silva Costa, Vincent Ibberson, Rubem Mauro Ludolf, César Oiticica, Elisa Martins da Silveira, Carlos Val e Décio Vieira. As mostras do grupo foram realizadas na Galeria Ibeu (1954), MAM Rio (1955), Resende e Volta Redonda (1956).
Outras participações importantes de Ivan Serpa foram na Bienal de Veneza (1954 e 1962); Bienal de São Paulo (1953, 1955, 1957, 1961, 1963 e 1985). Em 1957, recebeu o prêmio de viagem ao exterior do Salão Nacional de Arte Moderna. Viveu na Europa entre os anos de 1958 a 1959, quando voltou ao Brasil.
“Pintura nº 159” (1955), colagem, nanquim e guache sobre papelão, 33 X 919333 cm, 38,5 x 37,5 cm (suporte). Doação do artista para a Coleção Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
“Eles e elas” (1965), óleo sobre tela, 90 X 100 cm/ 90,5 X 100,5 X 2 cm. Coleção Gilberto Chateaubriand MAM Rio.
Com uma obra marcada por uma grande diversidade de linguagens, utilizando várias técnicas, Serpa também sofreu muitas influências. Uma delas foi o trabalho da terapia ocupacional dos internos do Hospital Psiquiátrico D. Pedro II, no Engenho de Dentro, criado pela médica psiquiatra Nise da Silveira em 1946. Ele visitou o lugar com Mário Pedrosa, Abraham Palatnik e Almir Mavignier.
Seu traço passou a apresentar mais gestualidade, o que marcou sua produção dos anos 1960, com obras de nuances expressionistas, mais conhecida como “fase negra”, mas que o artista preferia chamar de “Crepuscular”. Em 1965, voltou à fase geométrica. Continuou participando de exposições no Brasil e no exterior, entre as quais as mostras individuais realizadas no MAM Rio em 1961, 1965 e 1971, as coletivas Opinião 65 e 66, que marcaram uma nova arte figurativa, e o 10º Resumo de Arte, conhecido como Resumo JB (1972).
Em 1970, fundou com Bruno Tausz o Centro de Pesquisa de Arte em Ipanema. Três anos depois, vítima de complicações cardíacas devido ao derrame cerebral sofrido meses antes, o artista faleceu aos 50 anos no Rio de Janeiro. Em 1974, Serpa foi homenageado com uma grande retrospectiva com curadoria de Roberto Pontual. Outras retrospectivas de sua obra foram realizadas, inclusive em 2020, no CCBB, no Rio de Janeiro. Nove obras suas estão na Coleção Gilberto Chateaubriand MAM Rio e outras 17 fazem parte da Coleção MAM Rio, perfazendo um total de 26 obras.