Constantin Brancusi

Mademoiselle Pogany II, 1920, de Constantin Brancusi, bronze, 43,4 x 19 x 26,5 cm. Coleção Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Doação Stella e Roberto Marinho. Obra selecionada no ateliê do artista em Paris por Maria Martins e Niomar Sodré, e doada em 1952. Foto: Jaime Acioli, Acervo MAM Rio

MÁRION STRECKER

Entre os ícones da Coleção do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro está a escultura em bronze polido Mademoiselle Pogany II (1920), de Constantin Brancusi. Ele é considerado o patriarca da escultura moderna por ter criado uma linguagem artística que reduziu as formas a seus elementos essenciais. Nascido na Romênia em 1876, Brancusi imigrou para Paris em 1904, onde viveu até sua morte, em 1957. 

Margit Pogany era uma estudante de arte húngara, recém-chegada a Paris quando Brancusi a conheceu. Margit teria posado diversas vezes ao artista em seu ateliê, mas a escultura teria surgido depois de tais sessões. A versão mais antiga existente de Mademoiselle Pogany foi esculpida em mármore em 1912 e pertence ao acervo do Philadelphia Museum of Art, nos Estados Unidos. Exposta no Armory Show em Nova York em 1913, foi ridicularizada pelo público e pela imprensa, que alegaram que a obra mais parecia um ovo do que o busto de uma mulher.

O Philadelphia Museum of Art também possui um desenho em grafite e carvão que aparenta ser esboço para a escultura. De Margit Pogany (1879-1964), a própria, o museu possui um autorretrato, com seus olhos grandes e o mesmo gesto das mãos que aparece nas várias versões da escultura de Brancusi.

Existem outras versões de Mademoiselle Pogany no Centre Georges Pompidou de Paris e no Museum of Modern Art de Nova York.  Brancusi dedicou muitos anos a esse trabalho, fazendo simplificações até as últimas versões.

A Mademoiselle Pogany II do MAM Rio, de 1920, foi escolhida no ateliê de Brancusi pela artista Maria Martins e pela jornalista Niomar Moniz Sodré Bittencourt, que era diretora do museu. A doação foi feita pelo casal Stella e Roberto Marinho em 1952. Outras duas esculturas com o mesmo nome e do mesmo ano estão nos Estados Unidos, uma na Albright-Knox Art Gallery de Nova York e outra na Katherine Ordway Collection – Yale University Art Gallery.

Em julho de 1978, Mademoiselle Pogany II enfrentou bravamente o trágico incêndio ocorrido no Bloco de Exposições do MAM Rio que destruiu centenas de obras de arte que estavam ali. Danificada, um mês depois ela apareceu na capa da revista Arte Hoje n. 14, que trazia a seguinte expressão como título: “O MAM renascerá”. A revista, que funcionou de 1977 a 1979, era publicada pela Editora Globo e editada pelo jornalista Milton Coelho da Graça e pelo crítico de arte Wilson Coutinho, que nos anos 1990 ocuparia a função de curador do museu.

Mademoiselle Pogany II , de Brancusi, em julho de 1978, após o incêndio e antes da restauração. Fotos: André Papi / revista Arte Hoje, Acervo MAM Rio

Selo postal da escultura Mademoiselle Pogany II, de Brancusi. Foto: Fábio Souza, MAM Rio

Capa da revista Arte Hoje n. 14, de agosto de 1978

O especialista e professor Edson Motta restaurou Mademoiselle Pogany II, num trabalho que se estendeu de 1978 a 1980. Tornada símbolo da reconstrução do museu, a obra foi tema de artigo da pesquisadora Ana Chaves, doutora em História e Crítica da Arte pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Publicado originalmente no site da Revista do Programa de Pós-Graduação em Estudos Contemporâneos das Artes da Universidade Federal Fluminense, em julho de 2016, o artigo foi atualizado para publicação no site do MAM em setembro de 2020. No mesmo mês, Mademoiselle Pogany II voltou novamente a ser exposta com a reabertura do museu, depois de seis meses fechado no esforço de combate à pandemia do Covid-19. 

“Ao interrogar a imagem, interrogamos o nosso próprio conhecimento”, escreve Ana Chaves, ao explorar um amplo leque de possibilidades discursivas que a imagem da escultura oferece. “Podemos afirmar que esta imagem não pertence a um só tempo, mas é fruto de uma confrontação de tempos distintos.  Estar diante desta imagem não é simplesmente estar diante de esquematismos estilísticos, arranjos formais e estetizantes, mas perceber a rede complexa de relações que a constitui. Ao contrário de outras imagens que retratam o incêndio, onde as obras são identificadas em meio às fuligens e destroços, esta obra aparece isolada na capa da revista tal qual a página de um livro de história da arte: em destaque sobre um fundo branco. O que fazer diante dessa imagem? Como interpretá-la?”

Mademoiselle Pogany II observada pela artista Fernanda Sattamini na exposição Alucinações à beira-mar, com acervo do MAM Rio. Foto: Fábio Souza, MAM Rio

Links relacionados

PDF com a íntegra do artigo “Entre a obra e a imagem: a sobrevivência da escultura Mademoiselle Pogany II de Constantin Brancusi”, da pesquisadora Ana Chaves.

PDF da reportagem de capa da revista Arte Hoje n. 14, sobre o incêndio do MAM, edição de agosto de 1978.

Esboço, versão em mármore de Mademoiselle Pogany, 1912, de Brancusi, e autorretrato da artista Margit Pogany no acervo do Philadelphia Museum of Art.

Vídeo do Museum of Modern Art (MoMA) de Nova York sobre Mademoiselle Pogany



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