Lygia Clark

Pinturas em tinta automotiva sobre madeira intituladas Unidade (1959/1986), de Lygia Clark, medindo cada uma 30 x 30 x 4 cm, Coleção Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Doação da artista. Foto Acervo MAM Rio

Lygia Clark (1920-1988) nasceu em Belo Horizonte (MG) e iniciou seus estudos artísticos com Roberto Burle Marx em 1947, no Rio de Janeiro, quando já tinha 27 anos. Mudou-se para Paris em 1950, onde foi aluna do pintor cubista Fernand Léger, entre outros, e fez sua primeira exposição individual, no Institut Endoplastique.

Em 1952, voltou a viver no Rio, onde expôs no Ministério da Educação e Cultura. Em 1954, integrou o Grupo Frente com Ivan Serpa, Aluísio Carvão, Abraham Palatnik, Lygia Pape e Hélio Oiticica, entre outros artistas. O grupo, criado por artistas que se reuniam no MAM Rio e na casa do crítico Mario Pedrosa, foi um marco do movimento construtivo nas artes visuais do país. Naquele ano, Clark exporia sua série Composições na Bienal de Veneza.

Bicho (1960), de Lygia Clark, alumínio, 35,5 x 57 x 60 cm. Coleção Gilberto Chateaubriand MAM Rio

Em 1959, Clark foi uma das signatárias do Manifesto Neoconcreto, que se contrapôs à “exacerbação racionalista” da chamada arte concreta, defendendo uma arte ligada “a uma significação existencial emotiva e afetiva”. Por sugestão de Clark, naquele ano aconteceu a 1a. Exposição de Arte Neoconcreta no MAM Rio. Os artistas continuaram a usar os mesmos materiais, como ferro, metal e alumínio, mas as formas arredondadas, orgânicas e recortadas foram introduzidas.

As artistas Lygia Clark e Fayga Ostrower em foto de 1956 do Fundo Correio da Manhã, Domínio Público, Acervo Arquivo Nacional

O trabalho de Clark se desenvolveu no sentido da não-representação e da superação do suporte. Não havia mais sentido em mistificar a arte ou o artista. Ao espectador não cabia mais apenas contemplar, mas participar. Os Bichos, obras em metal com partes unidas por dobradiças, realizadas entre 1960 e 1964, se prestavam a ser manipuladas pelo público. Clark dizia que tinham vida própria: “Um bicho não é apenas para ser contemplado e mesmo tocado. Requer relacionamento. Ele tem respostas próprias e muito bem definidas para cada estímulo que vier a receber”, escreveu.

A partir de 1966, Lygia Clark passou a se dedicar à exploração sensorial. Em 1968, mostrou sua trajetória até aquele momento em sala especial na Bienal de Veneza. De 1970 a 1976, viveu novamente em Paris, onde de tornou professora na Faculté d’Arts Plastiques St. Charles, na Sorbonne. Seu trabalho se direcionou a vivências criativas e em sentido grupal. Em 1978, passou a se dedicar ao estudo das possibilidades terapêuticas, criando os “objetos relacionais”.

Nos últimos anos de vida, declarou-se não artista e passou a se dedicar inteiramente às práticas terapêuticas. Não via os “objetos relacionais” como obras de arte, mas como instrumentos terapêuticos. Máscaras, pedras, sacos, óculos e outras peças eram confeccionadas por ela para serem usadas em vivências corporais, que serviriam para que o corpo dos pacientes, por suas reações, revelasse o que estava no inconsciente e não era comunicado verbalmente.

Lygia Clark é reconhecida como uma das mais importantes artistas brasileiras do século 20. O MAM Rio possui em seu acervo 23 obras da artista, sendo 21 da coleção do próprio museu e duas da Coleção Gilberto Chateaubriand MAM Rio. Entre as obras estão Bichos, óleos sobre tela, pinturas em tinta automotiva, Obras-mole de borracha e Livros-obra.

Texto: Márion Strecker

Neste vídeo de Matheus Freitas para o MAM Rio, uma tira elástica semelhante à utilizada por Lygia Clark na peça Diálogo de mãos, de 1966, de elástico, medindo 16 x 8 cm, é manipulada. A obra original pertence à Coleção do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e foi uma doação da artista.



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