“A Garota do Rio”, um trash movie no MAM

O longa-metragem “A Garota do Rio” (The Girl From Rio – EUA, Espanha, Alemanha) estreou no Brasil em 1969. O título remete a “O Homem do Rio“, que havia sido realizado quatro anos antes. Ambos têm sequências filmadas no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e são filmes de entretenimento, com uma visão idealizada do Brasil dos anos 60, então o “país do futuro”, playground da arquitetura modernista representada, entre outros por Affonso Eduardo Reidy, criador do MAM, e Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, cujos nomes estavam vinculados à emblemática novidade chamada Brasília.

Mas as semelhanças terminam por aí. “O Homem do Rio”, apesar dos estereótipos, tinha uma embalagem de luxo, com Jean-Paul Belmondo no elenco e Georges Delerue, o favorito de François Truffaut, assinando a trilha sonora. O tempo lhe concedeu status de clássico, com direito a uma minuciosa restauração digital exibida com pompa e circunstância no Festival de Cannes.

“A Garota do Rio”, por sua vez, foi condenado à fogueira da crítica especializada. Seu diretor, o espanhol Jesus Franco, que assinava Jess Franco, ardeu durante anos nas labaredas do preconceito, tachado de oportunista e vinculado a produções de baixa qualidade, descartáveis e sem valor artístico. A história iria redimi-lo e no final da vida chegou a receber um honorário prêmio Goya, o Oscar espanhol, pelo inacreditável currículo de 180 filmes.

Mas em 1969 a história era outra e “A Garota do Rio”, provocou a ira do Curador da Cinemateca do MAM, Cosme Alves Netto, que redigiu ao então Diretor Executivo do Museu, Maurício Roberto, um Comunicado Interno em que classifica o filme como “picaretagem sem nacionalidade definida“. O Comunicado está no acervo da Cinemateca do MAM.

Muitos anos depois, em 1995, o mesmo Cosme, que dá nome à sala da Cinemateca do MAM, se orgulharia das filmagens de “Cinema de Lágrimas“, de Nelson Pereira dos Santos, na Cinemateca do MAM. Mas esta é outra história.

(Ricardo Cota)

Teaser de seis minutos de “A Garota do Rio” (1969)

Comunicado de Cosme Alves Netto critica a filmagem de “A Garota do Rio” no
MAM Rio



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