As reafinações da expansão celestial, por Ricardo Bravo

Meu conhecimento de pintura é pouco mais que o básico, mesmo.

Nunca me interessou conhecer o DNA da pintura, apenas as sensações que elas me produzem; das cavernas a hoje em dia — são viagens onde me reconheço. Mas meu susto sobre o tema foi conhecer o Picasso – não esse seu cubismo mais popular – mas sua obra acadêmica, seus estudos; aí tudo que eu lembrava ter visto dele ganhou um novo contorno.

Foi assim também com o amigo Barnabé, de quem só conhecia sua música dodecafônica, “crocodílica”, até o Arrigo fazer a trilha do nosso ORIUNDI – uma desconcertante surpresa!

Com Mario da Silva – meu mais novíssimo amigo de infância! – não está sendo diferente. Não conheço toda sua obra, ao contrário, mal comecei mas, cada vez mais entendo suas composições; sua leitura sonora de nós – este primata sofisticado que somos, todos – como quando lemos um quadro, uma pintura. Ao expandir o violão, ao ouvi-lo nesse movimento, me sinto arremessado à infância, quando dedilhava ao piano sem buscar músicas, mas o prazer de associar as notas. Essa expansão do violão, a frouxidão de uma e outra corda, a parceria com uma caneta BIC e suas novas frequências e tensões são um atrevimento embasado, como Picasso fez.

As “reafinações” e, particularmente, essa percussão, me remete à sofisticada simplificação rítmica que assisti nos anos 1980 em Nova York com o querido Naná Vasconcelos, que acordava a criançada latente nas suas plateias adultas, fazendo do corpo e da voz – dele e da sua audiência! – instrumentos emocionantes. A erudição musical de Mario vaza pelos poros dessas desconstruções, desse movimento — dessa expansão celestial.

Ricardo Bravo é cineasta, roteirista e ator bissexto, diretor do filme ORIUNDI (2000) estrelado por Anthony Quinn.

A Cinemateca do MAM é patrocinada pela Samambaia Filantropias.

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