Cacá Diegues faz 80 anos

“SEM A CINEMATECA MINHA VIDA TERIA SIDO OUTRA“

Filho do antropólogo, sociólogo e folclorista alagoano Manuel Diegues,  Cacá Diegues comemora 80 anos nesta terça-feira, 19 de maio. O diretor é um dos pilares da cinematografia brasileira. Sua riquíssima obra, até por conta do laço paternal, nunca omitiu uma visão da realidade brasileira inspirada pelas ciências sociais.  

Desde o curta “Escola de Samba Alegria de Viver”, um dos que compõem “Cinco Vezes Favela”, produção coletiva do Centro Popular de Cultura realizada nos idos da década de 60, os filmes do diretor, antes, durante e depois do Cinema Novo, projetam um Brasil multifacetado, de formação sócio-econômica elitista mas de autenticidade cultural fundada em raízes populares próprias.  

Cacá mexeu no caldo do colonialismo em fases diversas da carreira, como em “Ganga Zumba”, “Xica da Silva” e “Quilombo”.  Registrou o inconformismo contra a segregação do migrante nordestino em “A Grande Cidade” e vasculhou o Brasil da decadência rural à errática democracia pós-Vargas no épico “Os Herdeiros”.  

Seus filmes sempre tiveram profunda relação com a música e alguns deles possuem títulos que se confundem com canções imortais, como “Joana, a Francesa”, “Quando o Carnaval Chegar” e “Bye, bye Brasil”.  

No seu biográfico livro “Vida de Cinema”, Cacá, que hoje ocupa a cadeira da Academia Brasileira de Letras anteriormente preenchida pelo seu mestre Nelson Pereira dos Santos, encontram-se afinadas pelo mesmo diapasão, observações sociais, históricas, políticas e casos pitorescos dignos de entreter os amantes do cinema, como os encontros com Fellini, Rita Hayworth e Bertolucci.

Cacá enfrenta polêmicas que atravessaram sua vida com absoluta franqueza e generosidade.  Não foge dos detratores do Cinema Novo, do debate sobre as patrulhas ideológicas, da Embrafilme e de outros tantos temas da política cinematográfica nacional.  Tampouco deixa de espalhar ternura e generosidade para seus afetos pessoais. “Penso em Glauber Rocha todos os dias”, escreve.  

Com a Cinemateca do MAM, Cacá preserva uma relação que antecede sua carreira. “A Cinemateca foi responsável pela minha formação cinematográfica. Ali, amadureci o desejo de fazer cinema e ali conheci Glauber Rocha”. Ainda hoje Cacá prestigia com assiduidade os eventos da Cinemateca e é o Curador do CineAcademia Nelson Pereira dos Santos, realizado em conjunto com a Cinemateca, que promove sessões de filmes essencias da história do cinema brasileiro.

A Cinemateca possui cópias de “A Grande Cidade“, “Xica da Silva“ e “Deus é Brasileiro“ em 35mm, além de uma de “Quando o Carnaval Chegar“ em 16mm. Aos 80 anos, Cacá resume sua relação com a Cinemateca de forma sucinta e emotiva: “Sem a Cinemateca minha vida teria sido outra”.

(Ricardo Cota – Curador da Cinemateca do MAM)



Filmografia:

O Grande Circo Místico (2018)
Rio de fé (2013)
Nenhum Motivo Explica a Guerra (2006)
O Maior Amor do Mundo (2006)
Deus é Brasileiro (2003)
Orfeu (1999)
Tieta do Agreste (1996)
Veja Esta Canção (1994)
Dias melhores virão (1989)
Um trem para as estrelas (1987)
Quilombo (1984)
Bye Bye Brazil (1980)
Chuvas de Verão (1978)
Xica da Silva (1976)
Joanna Francesa (1973)
Quando o Carnaval Chegar ( 1972)
Os Herdeiros (1970)
Oito Universitários (1967)
A Grande Cidade (1966)Oitava Bienal de São Paulo (1965)
Ganga Zumba (1963)
Cinco vezes Favela – curta “Escola de Samba Alegria de Viver” (1962)
Domingo (1961)
 Fuga (1960)



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