Rodrigo Amarante
Conheci o Nilson Primitivo com uns 20 anos e nos tornamos grandes amigos. Trabalhei pra ele como ator, dublador, produtor, motorista, figurinista, fazia o que ele precisasse, só pra poder vê-lo trabalhar, aprender com ele. Foi com ele que aprendi que sabia fazer poesia; a ser o que diabo eu quisesse ser.
Paulo Tiefenthaler
O Nilson Primitivo sempre foi muito espontâneo ,era uma pessoa que tinha um jeito de raciocinar muito próprio, muito autêntico. Os filmes dele são resultado dessa expressão espontânea. O Nilson montava exatamente como ele respirava. Então os filmes têm essa respiração, essa oxigenação espontânea. É uma figura única, muito especial. Muito autêntico, muito expressivo, muito fiel a ele mesmo. Tinha uma condução da sua vida e da sua obra cinematográfica muito autêntica, todo mundo que viu os filmes dele, foi impactado por essa cara de pau, essa alegria. Vai fazer muita falta, muita falta mesmo, porque ele era punk. Ele sempre será uma referência para gente muito grande, muito grande mesmo.
Luciana Borghi
com gravação, ou com o teatro, ou com música. Era sempre uma coisa envolvente, essa capacidade de aglomerar as pessoas, de fazer as pessoas se conectarem. Ele tinha uma ideia, mas ele respeitava muito o que acontecia na hora que estava ele, o ator, a locação e o set. Ele sabia o que ele queria dos filmes dele, sabia bem. Ele era bem
criterioso. Por um lado tinha o lugar de deixar solto e o outro de saber exatamente o que ele queria com o texto, com as coisas que eram ditas e subvertia o lugar do diálogo.
Leonardo Rivera
Nilsão é um clássico a ser relembrado eternamente, sua inteligência e suas tiradas eram muito fundamentais para a formação da personalidade artística de um grupo de pessoas que conhecemos e convivemos, como o Ericson Pires, o Botika na época com a banda Aneura e os irmãos Amarante, entre tantos outros amigos que frequentavam esse
apartamento no Baixo Gávea, onde morei por uns meses com ele em 1997. Experimentar suas obras criadas com o máximo de inspiração e desafios é uma forma de estar perto desse coração doce com tamanho grande.
Renato Borghi
O Nilsão foi uma surpresa muito agradável, um homem grande e ao mesmo tempo tão terno, tão carinhoso. Ele passou uma tarde aqui na nossa casa e, claro, uma pessoa criativa com ele logo apareceu uma proposta de fazer um filme com a gente que foi muito engraçado. A ideia mais original foi ele pegar Luciana Borghi e eu nadando na piscina que tinha aqui no fundo sem água nadando no ladrilho. Depois a gente fez alguma coisa na praça Roosevelt. Eu lembro-me de uma pessoa muito criativa, muito livre e muito terna. Tenho uma linda lembrança dele.
Marcelo Colaiácovo
Foi-se nosso último cineasta underground. Merda……… Nilsão é uma Força da Natureza. Eu já desconfiava disso, mas uma hora depois de recebermos a notícia de seu falecimento, eu e minha companheira Renata fomos tomar um ar na rua, chocados, numa cidade do interior de São Paulo que estávamos e, vimos, de repente, o pôr do sol mais lindo de nossas vidas. Uma bola de fogo imensa indo embora. Depois, uma serie de acontecimentos peculiares aconteceram. O carro que eu estava entrou em pane elétrica e os quatro vidros abriam e fechavam de forma independente, insistentemente. Olhei pra Rê e disse de bate pronto que o Nilsão tava me sacaneando. Na verdade, ele veio pra sacanear a tudo e a todos. A forma performática de sua existência questionava tudo, até mesmo um simples armário de seu cômodo era tombado de lado e usado da forma mais estranha e original possível (risos).
Seus filmes eram uma espécie de macumba cinematográfica. As coisas iam se encaixando quase que sem planejamento. Eu o conheci via meu mestre Mojica em um set de filmagem. Logo em seguida, gradualmente, já comecei a colaborar em seus filmes 16mm, seja como ator ou produtor. Mais tarde, formamos uma dupla e eu como coautor das obras o convenci a filmarmos em 35mm, mesmo com ele inicialmente putão “essa merrrrda meu irrrmão consome o dobro de químico pra revelar, porra!” e, pude assim, magicamente, vivenciar nos anos seguintes essa incrível experiência. Seria um milagre? Nossos negativos tinham vencido entre 10 e 30 anos atrás, nossa câmera era dos anos 50, filmávamos 1 pra 1 as cenas (não dava pra repetir take nenhum), a revelação era feita em latas de lixo grandes e nosso telecine caseiro era feito direto do negativo em uma moviola com espelho manchado.
PQP…. Se algum filme da nossa parceria 35mm existe, é um puta de um milagre, sem sombra de dúvidas. Talvez algo que precisasse ser realizado, por mais improvável que parecesse. Nilson Primitivo precisava ter existido também, nessa mesma lógica. E talvez, até morrido mesmo (será?) nesse insólito 7 de setembro de 2022, nesse país subdesenvolvido. Sem dinheiro e sem pensar voei pro Rio de Janeiro pra celebrar sua passagem pela Terra com seus amigos queridos. Foi uma celebração maravilhosa, com boa música, poesia, fumaça e muita cerveja. Ele parecia estar por todo lado, presente. No nome dele escrito errado e corrigido por cima no caixão, na imagem dourada do Cristo crucificado contornada toscamente com tinta (pois certeza que o pintor deve ter ficado com uma preguiça danada de tirar aquele único parafuso da parede pra fazer o serviço direito), cara, imagino na hora meu irmãozão rolando de rir e dizendo algo como “lei do menorr esforrrço cumpadi”. Até no cemitério, as gaivotas (e não urubus), primeiramente circulando sob nossas cabeças, ao som de Janis Joplin (Bye, bye, baby bye bye……), foram de repente todas embora após o fechamento da lápide. Uma última gaivota demorou um pouco mais pra ir………. vai nessa Nilsão! (pensei…) Voa!
Mário Bortolotto
Nilsão Primitivo é o cara que desconhecia sinais vermelhos. Ele sempre passou incólume por qualquer barreira que estivesse em seu caminho. Sua trajetória que parecia primar pelo desgoverno e pela errância sempre teve um destino certo. Seu espírito obsessivo reafirmava o tempo inteiro seu talento inato para recriar pequenas obras primas que ele construía de negativos usados e restos de filmes que ele ia recolhendo e editando conforme
sua prodigiosa inquietação lhe obrigava. Como um Hefesto do subúrbio carioca, Nilsão viveu para forjar com rara tenacidade e malandragem um tipo de cinema que ainda está para ser descoberto e devidamente apreciado.
Vanessa Gonzalez
Ele sempre foi um gigante, pessoa que sempre sobressaiu chegasse em qualquer lugar. Ou pelo tamanho ou pelo sorriso. Ou pela pelas ideias, abria a boca todo mundo fechava para ouví-lo. E, ao mesmo tempo, uma criança emocionalmente. Um amigo incrível, um anjo. Totalmente mal humorado. Às vezes parecia até exagerado em tudo. Era muito amor, às vezes era muita raiva. Mas era sempre muito doce. Muito doce, era só buscar que a criança
estava ali, o tempo inteiro e foi o que eu ouvi de todos os amigos dele que eu conheci agora indo ao Rio para enterrar esse meu irmão amado, foi só isso que eu ouvi o quanto ele era doce, o quanto ele era doce, o quanto ele era querido.
Fernanda Branco
Nilson O Primitivo
Avalassasor
se foi cortando o céu
na conjuntura de Marte com Aldebaran, a estrela mais brilhante da
constelacao de Touro
o olho vermelho de Touro
Nilsão partiu
cortando o céu
quando ali, Marte e Aldebaran estão em alinhamento
uma reta, uma flecha
Nilsão
cortando o céu
deixando marcas
margens
marginalizando
tatooando
constelações
com sua alma
inquietadora e dócil
Ida Leal
“PRESTA ATENÇÃO, O QUE EU QUERO EU TOMO!”
Quanto poder tem nessa frase, agora que o mundo é todo teu! Ensina, certeiro, que o segredo da vida é ‘Tanto Faz’. E também que a coragem é a arte de desrespeitar convenções. Todo Homem Tem Seu Preço; alguns não se vendem jamais. Absurdo é Um Absurdo, Vivemos Num Grande Absurdo, mas tua partida é – sobretudo, um erro!
Se me lembro que na tua mão o erro não existe, então já sei que é tudo puro brilho e invenção! Vai sonhar em outros mundos, querido S O N H A D O R. Lembra que te amo! Lembra que te amamos! Boa jornada!
Ida Leal, amiga e companheira de viagem. Outubro de 2022.
Junia Machado
Converso com um mercado de luxo e confesso que no primeiro momento achei pouco provável que “Nilsão Primitivo” conseguisse dar tal recado através de takes gravados em um ambiente verdadeiramente restrito e sem recursos não por opção, mas sim por imposição da pandemia. Ainda sobre a clausura da pandemia, na temporada que estivemos na serra, onde lá tínhamos uma pequena parte da produção não só dos vídeos, mas também das jóias , o Nilson “desenhou” (segundo ele sem querer) um dos brincos que vem a ser nosso “Must Have” do momento. O brinco Cisne surgiu a partir de uma argola de chaveiro que ele abriu separando as argolas uma para cada lado e deixou em cima da banca.
Cristiano Burlan
O cinema brasileiro perde um de seus realizadores mais radicais e eu me despeço de um amigo e companheiro de noite. Saudades da sua figura ímpar. Os seus filmes se eternizam. Saravá Primitivo!
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