Homenagem a Dib Lufti



No dia 8 de dezembro de 2022, às 18h30, a Cinemateca do MAM fez uma homenagem ao diretor de fotografia Dib Lutfi com a exibição de “A Catástrofe” (Das Unheil), filme em que o fotógrafo trabalhou em 1970, na Alemanha. Sessão em parceria com a ABC – Associação Brasileira de Cinematografia, ABC Cursos e com o apoio da Casa de Estudos Germânicos de Belém e Goethe-Institut.

_

Em 1970, a primeira experiência internacional de Dib Lutfi marcaria sua carreira como diretor de fotografia. Já consagrado no Brasil, tendo participado de 8 longas premiados até então, Dib havia viajado para a Alemanha junto a Ruy Guerra e Ruy Polanah, para o Festival de Cinema de Berlim. Era verão e eles acompanhavam a exibição hors concours do filme “Os Deuses e Os Mortos”, do qual Dib era responsável pela fotografia. Naquela ocasião, um jovem cineasta alemão, Peter Fleischmann (1937-2021), figura promissora do Novo Cinema Alemão, percebeu na desenvoltura de Dib com a câmera-na-mão uma possibilidade para realizar seus filmes. Ele entrou em contato com Dib e lhe fez um convite. A proposta inicial era ficar na Alemanha para filmar um documentário biográfico, mas o trabalho se estendeu por 6 meses. Dib acabou dirigindo a fotografia do primeiro longa de ficção do diretor, chamado Das Unheil – ou “a catástrofe por vir”, em português. Este filme foi lançado em 1972, apenas na França e na Alemanha. Nunca veio aos telões do Brasil. Nem mesmo Dib ou Lauro Escorel (seu assistente na época) conseguiram assistir a uma cópia.

Minha pesquisa sobre Dib Lutfi se iniciou em 2017 e uma das incógnitas era basicamente: que diabos de “catástrofe” é essa que o Dib se meteu? Foi mais uma ironia na catapulta. Descobri que em 2015, o filme entrou na mira do Deutsches Filminstitut de Frankfurt e no final de 2016 teve sua restauração concluída. Em 2018 houve uma sessão do filme na sala de cinema do Deutsches Filmmuseum, com a participação de Fleischmann e Volker Schaner (produtor do novo corte). A partir daí entrei com o projeto de cooperação internacional para empréstimo e legendagem do filme junto à Casa de Estudos Germânicos de Belém, ligado ao setor de Línguas Estrangeiras da UFPA e ao Goethe-Institut. Depois de ter assistido ao filme, em agosto de 2021, comecei a costurar um projeto com Hernani Herfner (Cinemateca do MAM-Rio) e com Lauro Escorel (ABC). Fizemos uma reunião e dias depois o Fleischmann veio a falecer. Meus planos começaram a esmaecer. Eu estava planejando uma exposição ampla sobre Dib Lutfi, com uma mostra de filmes, colagem de fotografias de cena (os “coreoesquemas”), mesas de conversa e uma sessão especial de “Das Unheil”, com a possível participação do alemão. Mas o caça-fantasmas parecia sozinho.

Depois de uma trabalhosa negociação com a viúva de Peter Fleischmann, com idas e vindas sobre acordos e licenciamento, conseguimos – com a ajuda de Volker Schaner e Michael Schurig (DFF) – produzir e emprestar uma cópia DCP em 2K para exibir em três sessões no Brasil: em Belém, Rio e São Paulo. Pela primeira vez o público brasileiro poderá apreciar um dos pontos mais altos da carreira de Dib Lutfi que, sem falar alemão – e talvez por isso – conseguiu realizar com maestria diversos planos-sequência, mais uma vez, com a câmera na mão.


Michel Schettert

São Paulo, 24 de novembro de 2022.

_

Informações
[email protected]



Acessibilidade | Fale conosco | Imprensa | Mapa do Site