IVAN PINHEIRO
Infelizmente, há alguns anos perdi contato com Julio Cesar de Miranda, que nos deixou presencialmente para ficar em nossa memória. Cinéfilo apaixonado e socialista, a meu juízo mais utópico e humanista que revolucionário, militou no então clandestino PCB durante a ditadura burguesa sob a forma militar, quando o partido era conhecido como o Partidão.
Quando o partido se dividiu em dois, com a criação do PPS, em 1992, ele ficou no PCB, onde nos anos seguintes contribuiu em várias iniciativas, sobretudo na área cultural e na solidariedade internacional aos povos em luta. Foi importante sua contribuição para a fundação da Casa da América Latina, no início deste século.
Julio Cesar tinha uma qualidade que valorizo muito e considero fundamental para todas as atividades humanas que dependem de decisões e ações coletivas. Ele não deixava de expressar suas opiniões, mesmo quando pareciam minoritárias, o que às vezes desagradava uns poucos intolerantes e donos da verdade.
Depois de 2005, Julio Cesar acabou se afastando organicamente do partido, pela porta da frente, sem deixar de expor suas divergências e o respeito que sempre lhe dedicou. Como fui o interlocutor da comunicação de sua despedida amigável do PCB, ficou claro que ele era contra os que queriam acabar com o Partidão, mas não concordou com as mudanças táticas e estratégicas promovidas pelo XIII Congresso do partido, realizado em março daquele ano. Foi uma despedida fraterna e respeitosa.
Nunca mais tive o prazer de encontrá-lo, mas estou certo de que jamais abriu mão de seus sonhos por uma sociedade mais justa e igualitária.
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Por ocasião da mostra “Homenagem a Julio Cesar de Miranda”, este espaço busca ainda ser uma espécie de memorial, um local onde estão recolhidos uma série de breves depoimentos escritos ou em vídeo enviados por muitos de seus amigos e companheiros de vida. Assista aos filmes na Cinemateca do MAM online de 1º a 30 de abril de 2022.
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