Lugares (de Sergio Santeiro)

Vou parar de dar palpite

Dar palpite é muito chato

Só se acertar no burro

Mas o burro pode ser você

Ou enxergar no escuro o gato

Andar na areia as ondas quebrando nas suas costas

Não adianta chutar pedras

Podes machucar o pé

Menos ainda chutar o balde

A cada balde o balde aumenta

A última vez que fui ao cinema estava escrito cinema fechado

Ninguém sabe se vai reabrir

Cinema agora é só na telinha de casa

E aí é filme nem é cinema

Cinema é aquela sala grande a tela enorme em que a gente fica pequeno

Um rosto na tela é de encher as medidas

Mas mesmo o cinema as grandes salas foram encolhendo

E agora cabem na palma da mão

Foi-se o espetáculo

Foi-se o drama

Fica o bagaço

Da cana o caldo

A vida é portátil?

Não é a vida é só a imagem

Que apresenta o que nos representa

O mundo era grande e ficou pequeno?

É claro que não

O mundo é o mundo como sempre foi e sempre será

Quem muda é o humano

Cada vêz mais gente que mais se espalha

Sem forma  ou medida

Como será que a gente será no ano que vem

Há de ser mais do mesmo

É difícil inventar

Outro rio a correr

Outro sol a brilhar

Reinventando o dia

Reinventando a noite

Arriscaria um palpite

Não não vou arriscar

Sergio Santeiro
13 de dezembro de 2020

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