Vou parar de dar palpite
Dar palpite é muito chato
Só se acertar no burro
Mas o burro pode ser você
Ou enxergar no escuro o gato
Andar na areia as ondas quebrando nas suas costas
Não adianta chutar pedras
Podes machucar o pé
Menos ainda chutar o balde
A cada balde o balde aumenta
A última vez que fui ao cinema estava escrito cinema fechado
Ninguém sabe se vai reabrir
Cinema agora é só na telinha de casa
E aí é filme nem é cinema
Cinema é aquela sala grande a tela enorme em que a gente fica pequeno
Um rosto na tela é de encher as medidas
Mas mesmo o cinema as grandes salas foram encolhendo
E agora cabem na palma da mão
Foi-se o espetáculo
Foi-se o drama
Fica o bagaço
Da cana o caldo
A vida é portátil?
Não é a vida é só a imagem
Que apresenta o que nos representa
O mundo era grande e ficou pequeno?
É claro que não
O mundo é o mundo como sempre foi e sempre será
Quem muda é o humano
Cada vêz mais gente que mais se espalha
Sem forma ou medida
Como será que a gente será no ano que vem
Há de ser mais do mesmo
É difícil inventar
Outro rio a correr
Outro sol a brilhar
Reinventando o dia
Reinventando a noite
Arriscaria um palpite
Não não vou arriscar
Sergio Santeiro
13 de dezembro de 2020
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