Marcharemos em tua luta: 60 anos da morte de João Pedro Teixeira (1962-2022)


Há 60 anos, no dia 02 de abril de 1962, forçosamente, João Pedro Teixeira marcava sua passagem por esta terra, após ser executado a mando do latifúndio paraibano. O pano de fundo para o assassinato do líder camponês e o de tantos outros já seria o aviso de incêndio para o que pouco tempo depois, em 1964, a ditadura civil-militar viria a fazer ao Brasil por mais de duas décadas.

Em meio a tudo isso, a família, a luta agrária e o cinema brasileiro tentam resistir à perseguição política e unidos insistem em nos contar essa história. Eduardo Coutinho e Elizabeth Teixeira são as figuras máximas desse empenho em “Cabra Marcado Para Morrer” (1964-84), documentário que trilha o mesmo caminho de vida que suas personagens. Mas façamos justiça, tal caminho foi trilhado por mais pessoas, lado a lado com Coutinho e Elizabeth. A luta, seja ela qual for, não é solitária, não deveria ser. Ou lembremos ainda do assassinato de Margarida Maria Alves, em 1983, símbolo da luta das mulheres no movimento camponês do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande, também na Paraíba. Ironicamente, naquele mesmo ano, com o início da reabertura política, as gravações de “Cabra” estavam sendo retomadas para então o filme ser lançado no ano seguinte. Como poderão conferir, tudo está conectado e o cinema não seria uma exceção.

Nesta conversa são intercaladas vozes distintas que juntas contribuem para uma melhor compreensão do impacto histórico do que João Pedro, mas não só ele, representou e segue representando no Brasil de 2022. Tamanhas são as semelhanças que podemos traçar entre o passado e o presente, não seria de total anacronismo dizer que após 60 anos, vivemos sinais infortúnios de ordem social, econômica, ambiental e cultural. De forma a honrar a memória desta data, reunimos Maria José Teixeira (filha de João Pedro e Elizabeth Teixeira), Alane Lima (presidenta do Memorial das Ligas e Lutas Camponesas), Iranice Gonçalves Muniz (membro da Comissão Estadual da Verdade PB), João de Lima Gomes (professor do Departamento de Comunicação da UFPB) com mediação de Kamilla Medeiros (mestranda da ECO-UFRJ).

A parceria com a Cinemateca do MAM Rio vem em boa hora para que mais pessoas saibam de novo e mais uma vez sobre os horrores pelos quais o nosso país sofreu. Igualmente, devemos marchar em nossa luta por um Brasil mais justo, por nós mesmos, por quem viveu e lutou por isso antes de nós e por quem ainda viverá pelas bandas de cá.

Fortaleza, abril de 2022
Kamilla Medeiros

PARTICIPANTES


Maria José Teixeira
Filha de João Pedro e Elizabeth Teixeira, é funcionária pública.

Alane Lima
Camponesa, especialista em Educação do Campo pela UFPB e Presidenta do Memorial das
Ligas e Lutas Camponesas, fundado em 2006, e com sede no Povoado de Barra de Antas,
município de Sapé/PB.

Iranice Gonçalves Muniz
Professora do Centro de Ciências Humanas Sociais e Agrárias da UFPB, ativista de direitos
humanos e membro da Comissão Estadual da Verdade e da Preservação da Memória do
Estado da Paraíba, criada em 2012.

João de Lima Gomes
Documentarista e professor do Departamento de Comunicação da UFPB. É também produtor
do Festival Quipauá de Santa Luzia/PB e coordenador do Núcleo de Documentação
Cinematográfica da UFPB.

Kamilla Medeiros (mediadora)
Cineclubista, realizadora audiovisual e mestranda no Programa de Pós-Graduação da Escola
de Comunicação da UFRJ, sob orientação de Consuelo Lins, pesquisa sobre a relação da obra
de Eduardo Coutinho com o Nordeste brasileiro.

Agradecimentos especiais
À Cinemateca do MAM Rio (Hernani Heffner, José Quental e José Caetano Correa), Anatilde
Teixeira, Lúcia Guerra, Ayala Rocha e Vladimir Carvalho.

Como complemento da conversa, acesse também:
Site e Instagram do Memorial das Ligas e Lutas Camponesas – Sapé/PB
https://www.ligascamponesas.org.br
@memorial.ligascamponesas

Site e canal do YouTube da Comissão Estadual da Verdade e da Preservação da Memória do
Estado da Paraíba (CEVPM-PB)

https://cev.pb.gov.br/relatorio-final
https://youtu.be/80mI1My5074

Site da Ocupação Eduardo Coutinho – Itaú Cultural (curadoria de Carlos Alberto Mattos)
https://www.itaucultural.org.br/ocupacao/eduardo-coutinho/um-marco/

Textos do crítico e curador Carlos Alberto Mattos sobre “Cabra Marcado Para Morrer”
https://carmattos.com/2021/09/30/o-cabra-do-pedagogico-ao-contraditorio/
https://carmattos.com/2014/03/31/sobreviventes-do-cabra/

Livros citados na conversa:
BANDEIRA, Lourdes Maria; et al. (Org.). Eu marcharei na tua luta – A vida de Elizabeth
Teixeira. João Pessoa: Editora Universitária / UFPB, 1997.
GOMES, João de Lima. Terra Distante. João Pessoa: Editora da UFPB, 2014.
ROCHA, Ayala A. Elizabeth Teixeira: Mulher da Terra. 2 ed. João Pessoa: CCTA, 2016.
TOSI, Giuseppe; et al. (Org.). 40 Anos da Anistia no Brasil: lições de tempos de lutas e
resistências. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2021.

Outros livros:
BRAGANÇA, Felipe (Org.). Eduardo Coutinho. Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2008.
LINS, Consuelo; MESQUITA, Cláudia. Filmar o real: sobre documentário brasileiro
contemporâneo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 2008.
LINS, Consuelo. O documentário brasileiro de Eduardo Coutinho. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Ed, 2004.
MAGER, Juliana Muylaert. Jogo de Cena: história, memória e testemunho no documentário
de Eduardo Coutinho. São Paulo: Alameda, 2020.
MATTOS, Carlos Alberto. Sete faces de Eduardo Coutinho. São Paulo: Boitempo: Itaú
Cultural : Instituto Moreira Salles, 2019.
OHATA, Milton (Org.). Eduardo Coutinho. São Paulo: Cosac Naify, 2013.
VALENTINETTI, Claudio M. “O cinema segundo Eduardo Coutinho”. Brasília: M. Farani
Editora, 2003.

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Informações
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