Mulheres de luz própria

HERNANI HEFFNER

Os filmes de Helena Ignez, Sinai Sganzerla e Djin Sganzerla
Assista a mostra online em www.vimeo.com/mamrio.

Ao longo de 2021 daremos continuidade a investigação das trajetórias de autores e autoras do cinema feito no Brasil nas duas primeiras décadas do século XXI. Nosso objetivo é o de revisitar um conjunto de filmografias do cinema contemporâneo, certas trajetórias e percursos que nos permitam construir um panorama dessa produção.

Helena Ignez e Rogério Sganzerla

Começamos o novo ano olhando para um grupo de filmes dirigidos por três mulheres de uma mesma família. Mãe e filhas. Três diretoras que vem realizando filmes de grande força e de relevância na produção atual do cinema produzido no Brasil. Helena Ignez, Sinai Sganzerla e Djin Sganzerla. 

Cada uma delas, à sua maneira e em diferentes chaves temáticas e de gênero, dialogam de forma livre e sólida com as linhas e influências do cinema brasileiro, em particular com a obra de Rogério Sganzerla, pai de Sinai e Djin e companheiro de Helena, morto em janeiro de 2004. O cinema de Sganzerla está muito presente na obra das três diretoras de forma direta – filmagem de roteiros, citações, presença em imagens de arquivo etc. – ou indireta – temas, estéticas, formas. Porém, Helena, Sinai e Djin trabalham essa presença de uma forma livre. Ela não limita seus cinemas, ao contrário, os potencializam e os ampliam. São filmes que dialogam com o presente, com as realidades e desejos de suas diretoras, ainda que a memória e inspiração criativa de Rogério Sganzerla pulse nessas obras.

Helena Ignez, que completou 80 anos em 2020, é uma atriz fundamental do cinema brasileiro moderno em suas diferentes vertentes e com uma trajetória também importante no teatro. Sem deixar de lado essa carreira no palco e nas telas, construiu um trabalho fecundo como diretora, tendo realizado em cerca de dezessete anos seis longas metragens e quatro curtas e médias, tais como: “Luz nas Trevas. A Volta do Bandido da Luz Vermelha”, “Canção de Baal”, “A Moça do Calendário” e ”Ossos”. São filmes que, dentre outros elementos, desdobram muito da sua experiência como atriz e dão continuidade na parceria criativa que teve com Rogério ao longo da vida.

Antes de se lançar na direção Sinai Sganzerla se dedicou à produção dos filmes de sua mãe e ao processo de organização, preservação e valorização da obra de Rogério Sganzerla. Apenas em 2018 lançou seu primeiro trabalho “O desmonte do monte”, documentário de arquivo que aborda a história do Morro do Castelo, seu desmonte e arrastamento. Já com “Mulher de Luz própria” e “Extratos” o olhar recai sobre a história de sua família. A memória, seja da cidade ou de sua família, são pesquisados e abordados com rigor e atenção em suas obras, explorando os múltiplos sentidos das imagens do passado.

Por sua vez, Djin Sganzerla foi a última a se dedicar a direção de filmes. Com uma consolidada carreira de atriz que tem início em “O signo do caos”, último filme de seu pai, e se desdobra em filmes de Carlos Reichenbach, Júlio Bressane, Bruno Safadi, Paulo César Saraceni, entre outros, Djin também atuou em diversos filmes de sua mãe Helena Ignez. Em “A mulher oceano” Djin Sganzerla permanece à frente das câmeras ao mesmo tempo em que assume a direção de um filme delicado, autoral e de expressivo cuidado de criação e composição.

Desta forma a mostra “Mulheres de luz própria: os filmes de Helena Ignez, Sinai Sganzerla e Djin Sganzerla” reúne 14 filmes realizados entre 2003 e 2020 e apresenta também duas mesas redondas online para refletir sobre essa produção. A primeira, Mulheres de luz própria, vai reunir as três realizadoras para falar de suas obras. A segunda, Conversa em torno de Mulher oceano, será especialmente dedicada à estreia de Djin Sganzerla na direção.

HERNANI HEFFNER é gerente da Cinemateca do MAM Rio.



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