A Cinemateca do MAM apresenta a mostra Neville 80, em comemoração ao aniversário de 80 anos do multifacetado diretor Neville D’Almeida. De 1 a 31 de maio de 2021, filmes elementares de sua obra ficam disponíveis no canal da Cinemateca do MAM online no Vimeo. Acesse em www.vimeo.com/showcase/neville80.
Nascido em maio de 1941 na cidade de Belo Horizonte, Neville D’Almeida é um dos cineastas mais singulares do cinema moderno brasileiro. Tendo iniciado sua carreira na década de 1960, construiu ao longo das décadas uma obra cinematográfica de muitas faces e que atravessa diversos movimentos e caminhos do cinema brasileiro. De um cinema político e experimental (Jardim de Guerra, Mangue Bangue, etc.), passando por um cinema popular e de grande sucesso de público (A dama do Lotação, Os sete Gatinhos) até uma produção importante no difícil período da pré-retomada e retomada do cinema dos anos de 1990 (Matou a família e foi ao cinema, Navalha na carne), a filmografia de Neville traz uma marca de liberdade e ousadia expressivas.
Detalhe do cartaz do filme Rio babilônia (1982), de Neville D’Almeida.
Detalhe do cartaz do filme Matou a família e foi ao cinema (1991), de Neville D’Almeida
Entre os filmes que serão apresentados na mostra, está Jardim de Guerra. Primeiro longa-metragem do diretor, teve sua exibição de estreia no Festival de Brasília de 1968. Já em sua segunda exibição foi interditado pela Polícia Federal da ditadura civil-militar brasileira, tendo sofrido diversos cortes pela Censura. Somente há alguns anos foi encontrada, na Europa, uma versão integral do filme. Esta cópia havia sido enviada para a Quinzena dos Diretores do Festival de Cannes, e hoje está salvaguardada na Cinemateca do MAM. Esta é a versão que será exibida na programação. O filme traz em seu corpo de atores grandes nomes da história do cinema brasileiro, como Zózimo Bulbul, Hugo Carvana, Joel Barcellos, Maria do Rosário, Paulo Villaça e Jorge Mautner, com direção de fotografia de Dib Lufti e roteiro escrito por Neville D’Almeida, Jorge Mautner, Rogério Sganzerla e Guará Rodrigues.
Já os filmes A dama do lotação, Os sete gatinhos, Rio Babilônia, estão entre os filmes de grande sucesso de público do diretor. A Dama do lotação, maior bilheteria do cinema brasileiro durante vinte anos, teve roteiro adaptado de obra de Nelson Rodrigues e apresenta a atriz Sonia Braga como protagonista, uma mulher que se casa e não consegue saciar seus desejos sexuais com o marido. O longa Os sete gatinhos, produzido em 1980, narra a história de uma família de personagens de personalidade extravagante, que tem a filha desviada para o caminho do pecado. Seu elenco é estrelado por Antônio Fagundes, Regina Casé, Lima Duarte, Ary Fontoura. Já Rio Babilônia, responsável por elevar a fama de D’Almeida a “diretor maldito”, traz a história de um rico empresário que descobre as paisagens turísticas do Rio de Janeiro, esbarrando com festas, drogas e o tráfico dos morros.
Finalmente, os programas 5 e 6 apresentam filmes produzidos no período contextualizado no cinema brasileiro como pré-retomada nos anos 90. O diretor construiu duas adaptações nesse difícil período do cinema nacional. Em Matou a Família e Foi ao Cinema (1991), Neville anarquiza o seminal longa estrutural de Julio Bressane o trazendo aos anos 90, aglutinado pela nova década, e filmando Alexandre Frota e Claudia Raia pelas ruas desse Rio de Janeiro com suas disparidades e similaridades àquele apresentado nos anos 60 por Bressane. Já em Navalha na carne (1997), o cineasta adapta a peça de Plínio Marcos sobre a vida da prostituta Neusa Suely, vivida por Vera Fischer – no último aceno à ficção antes de seu hiato de quase 20 anos. O texto de Marcos fora adaptado também nos anos 60 por Bráz Chediak, ressaltando a disposição de Neville em reimaginar essas obras de 30 anos antes sob os tempos políticos de incerteza no Brasil.
No século XXI Neville seguiu trabalhando ativamente tendo realizado seu último longa, Frente fria que a Chuva Traz (programa 7), em 2015 e co-dirigido o curta Redenção em 2017. A Obra de Neville extrapola também o cinema, com uma produção incontornável no universo das artes plásticas, em particular seu trabalho em parceria com Hélio Oiticica.
Em Neville 80, a Cinemateca do MAM apresenta sete longas metragens de Neville D’Almeida, assim como um debate com o diretor, buscando revisitar seu cinema e contextualizando sua obra. O debate acontecerá no dia 12 de maio às 16h, com Neville D’Almeida, participação especial de César Oiticica e mediação de Hernani Heffner.
PROGRAMAÇÃO
SAB 01 maio – SEG 31 maio
Programa 1. Jardim de Guerra de Neville D’Almeida. Brasil, 1968. 100′. Classificação indicativa 18 anos
Sinopse: Um jovem amargurado e sem perspectivas, apaixona-se por uma cineasta e é injustamente acusado de terrorista por uma organização de direita que o prende, o interroga e o tortura.
Programa 2. A Dama do Lotação de Neville D’Almeida. Brasil, 1978. 90′. Classificação indicativa 16 anos.
Sinopse: Solange casa com o amigo de infância Carlinhos e durante a lua-de-mel tenta adiar a consumação do matrimônio levando o marido a possuí-la violentamente, causando-lhe um trauma. Assediada por pesadelos, Solange procura um psicanalista mas não encontra a paz. Decide tentar algo mais prático: trai Carlinhos com seu melhor amigo, Assunção. A experiência fracassa e, no desespero de afirmar a própria sexualidade reprimida sob aparente frigidez, Solange passa a sair todas as tardes, buscando no ônibus companheiros para aventuras sexuais.
Programa 3. Os sete gatinhos de Neville D’Almeida. Brasil, 1980. 109′. Classificação indicativa 16 anos.
Sinopse: Seu Noronha é continuo da Câmara dos Deputados, onde serve cafezinho aos parlamentares. Aracy, sua esposa, a quem chama de Gorda, vive na mais completa solidão. O casal tem cinco filhas, quatro das quais prostitutas. Seu Noronha faz vista grossa para o comportamento de Débora, Arlete, Aurora e Hilda, desde que todas contribuam para o enxoval da caçula. Silene com 15 anos, interna num colégio de rígida disciplina, é um símbolo de pureza, mantida fora do ambiente familiar e preservada para o casamento.
Programa 4. Rio babilônia de Neville D’Almeida. Brasil, 1982. 115′. Classificação indicativa 16 anos.
Sinopse: Um jornalista é convidado a acompanhar um traficante internacional de ouro em sua estadia no Rio de Janeiro, e começa a investigar sua vida. Eles acabam passando por diversas situações na cidade, desde muitas festas até confrontos com a polícia.
Programa 5. Matou a família e foi ao cinema de Neville D’Almeida. Brasil, 1991. 86′ Classificação indicativa 16 anos.
Sinopse: Jovem assassina pai e mãe e vai ao cinema, onde assiste a varias mortes anunciadas por manchetes de jornais sensacionalistas, entremeadas por cenas de um homem que rouba calcinhas de mulheres.
Programa 6. Navalha na carne de Neville D’Almeida Brasil, 1997. 105′. Classificação indicativa 16 anos.
Sinopse: Neusa é uma prostituta decadente e explorada por Vado, seu cafetão. Em meio a brigas e desavenças, ela vai às ruas para ganhar dinheiro enquanto Vado sai com outras mulheres e passa a vida sossegado. O que eles não esperavam, era que Veludo, um homossexual que trabalha como faxineiro, roubasse todo o dinheiro deles para comprar drogas.
Programa 7. A frente fria que a chuva traz de Neville D’Almeida. Brasil, 2015. 80′ Classificação indicativa 16 anos
Programa 8. Boa noite Cinderela de Neville D’Almeida. Brasil, 2010. Com Ana Tavares e Otávio III. 18’. Classificação 18 anos.
Programa 9. Redenção de Joaquim Haickel e Neville D’Almeida. Brasil, 2017. Com Daya Ananias. 15’. Classificação 18 anos
Programa 10. A Voz do Provocador. Parte 1. Os artísticos de Neville D’Almeida. Brasil, [s/d]. Com Antônio Abujamra. 4’ + O Provocador. Internacionalização da Amazônia de Neville D’Almeida. Brasil, [s/d]. 5’+ O Diário de Jane Joy. Episódio: Receita de sedução de Neville D’Almeida. Brasil, [s/d]. 1’20’’. + O Diário de Jane Joy. Episódio: Calcinha de Neville D’Almeida. Brasil, [s/d]]. 2’. + A água, a mulher e o regador de Neville D’Almeida. Brasil, [20xx]. Com Ana Tavares. 6’. Classificação 18 anos.
Conversa com Neville D’Almeida
Debate com o diretor e Cesar Oiticica. Mediação: Hernani Heffner.
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Informações:
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