Pioneiro no cinema de terror brasileiro, José Mojica Marins nasceu em São Paulo em 1936. Quando criança, assistia a filmes no cinema em que seu pai trabalhava. Aos 12 anos, ganhou uma câmera em super-oito e não parou mais de filmar. Ao longo dos seus 83 anos, dirigiu mais de 40 produções e atuou em mais de 50 filmes.
Seu personagem mais famoso é o agente funerário Zé do Caixão, síntese das crenças mundanas brasileiras e da cultura cinematográfica de terror B, particularmente forte nos anos 1960. No livro “O cinema brasileiro no Século XX – Depoimentos”, organizado por Isabella Souza Nicolas, José Mojica conta a origem deste alter-ego. “Fui à procura de alguém para fazer o Zé do Caixão, mas ninguém topou. Aí o zelador do estúdio, que praticava umbanda, esqueceu uma capa preta e uma cartola. Como eu tinha um terninho preto, o maquiador sugeriu que eu fizesse o personagem”. Já as unhas grandes, outra marca de Zé do Caixão, foram inspiradas em “Nosferatu” (1922), de F. W. Murnau.
No início dos anos 1970, quando foi fortemente perseguido pela Censura, o próprio Mojica doou uma cópia de 16 mm de “O Estranho Mundo de Zé do Caixão” para o acervo da Cinemateca do MAM. Enquanto a sala de exibição permanece fechada na quarentena é possível assistir ao longa gratuitamente, na plataforma pública SPCine Play.
De 1968, “O Estranho Mundo de Zé do Caixão” é uma coleção de três curtas: “O Fabricante de Bonecas”, “Tara”, e “Ideologia”. Este último episódio talvez seja o experimento mais radical de sua carreira, pela leitura apocalíptica do contexto da guerra fria, a crítica política anti-intelectualista, a encenação engenhosa (incluindo o uso de um cadáver real) e um sadismo mais exacerbado. Mojica, que faleceu em fevereiro deste ano, é considerado um dos maiores cineastas brasileiros de todos os tempos.