Obrigado, Júlio!

MARCELO IKEDA

Conheci o Júlio ainda na época da loja física, em Copacabana, na rua Djalma Urich. Lembro bem da minha sensação de maravilhamento quando entrei na loja pela primeira vez e percorri demoradamente as prateleiras. Naquela época, em meados dos anos 1990, antes da popularização da internet, só era possível assistir a muitos clássicos do cinema em uma exibição especial na Cinemateca do MAM ou no Centro Cultural Banco do Brasil. Assim, a Polytheama era o paraíso para qualquer cinéfilo, e foi onde pude assistir, antes dos meus vinte anos, a filmes fundamentais como Acossado, Os incompreendidos, La strada, Umberto D, L´avventura, Teorema, Andrei Rublev, Persona, Diário de um padre de aldeia, No decurso do tempo, Contos da lua vaga, entre muitos outros. Ainda, a Polytheama era especializada em filmes do período silencioso, e vi o primeiro cinema (Lumière, Meliès, Porter, Edison, etc), os filmes das vanguardas europeias dos anos 1920 e outros filmes como Terra, A Paixão de Joana d’Arc ou Sherlock Jr. Eu também frequentava as sessões da sala de vídeo do Centro Cultural Banco do Brasil, e logo descobri que as fitas vinham do acervo do Júlio, onde vi mostras imperdíveis, como os curtas de Griffith, Lubitsch, expressionismo alemão, e várias outras. Naquela época, eu era muito amigo dos irmãos Pretti, e assistíamos filmes juntos e trocávamos fitas alugadas na Polytheama.

Quando a loja física fechou, recebíamos um disquete com os títulos atualizados, e ligávamos por telefone para pedir os filmes, que eram entregues em nossa portaria uma vez por semana. Nesse período, nossas relações se estreitaram, após eu ter sido monitor dos professores João Luiz Vieira e José Carlos Monteiro, no curso de Cinema da Universidade Federal Fluminense. Eu sempre tinha uma lista de filmes em mão, e ligava quase toda semana para o Júlio para pedir filmes. Mas o curioso é que ele não necessariamente entregava os filmes que a gente pedia, mas deixava outros rs. Quando ligávamos reclamando, ele dizia “você precisa assistir esse filme!”. E ele tinha razão. Foi por meio dessas sugestões do Júlio que conheci filmes que transformaram a minha vida, como Walden, do Jonas Mekas, O sol do marmeleiro, de Victor Erice, Gertrud, de Carl Dreyer ou Dog star man, de Stan Brakhage.

Devo parte significativa da minha cultura cinéfila às fitas alugadas com o Júlio. Nos anos 1990, quando ainda não era possível baixar filmes pelo emule ou recursos do tipo, a Polytheama era o oásis dos cinéfilos. Quando conversávamos, era nítido que se tratava de uma pessoa apaixonada por todos os cinemas. A contribuição do Júlio e de sua Polytheama na formação de uma geração de cinéfilos cariocas (em que me incluo) merece ser melhor investigada. Obrigado Júlio! BAN-ZAI!!!

Por ocasião da mostra “Homenagem a Julio Cesar de Miranda”, este espaço busca ainda ser uma espécie de memorial, um local onde estão recolhidos uma série de breves depoimentos escritos ou em vídeo enviados por muitos de seus amigos e companheiros de vida. Assista aos filmes na Cinemateca do MAM online de 1º a 30 de abril de 2022.

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Informações
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