GIORGIO GARCIA CRISTOFANI
O filme Raoni, gravado em 1976 e lançado internacionalmente entre 1977 e 1979 com músicas de Egberto Gismonti, narração de Marlon Brando (inglês) e Jacques Perrin (francês), acompanha a luta do cacique Raoni pela preservação do Território Indígena do Xingu, ameaçado por grileiros, caçadores e madeireiras. Dirigida por Jean Pierre Dutilleux, a obra foi selecionada para o Festival Cannes (1977), foi o primeiro filme brasileiro indicado ao Oscar de Melhor Documentário (1978), eleito Melhor Documentário no Festival Internacional de Cinema de São Francisco e recebeu cinco prêmios de melhor filme/ fotografia/ música (para Egberto Gismonti) e montagem no Festival de Gramado (1979).
O filme foi essencial para conscientizar o mundo sobre a existência e relevância dos povos indígenas na luta pela preservação das florestas, sobretudo da Amazônia, e pelo direito de viver em suas terras, tendo suas culturas, tradições e cosmologias respeitadas. Além de anunciar a rede internacional que une os povos indígenas do mundo todo, relacionando a luta norte-americana com a xinguana, o filme denuncia as principais ameaças e violências que esses povos vêm sofrendo ao longo de séculos. Com a consciência global e apoio internacional, o filme possibilitou que o Cacique Raoni se tornasse a maior liderança indígena fora do Brasil e tivesse reconhecimento o suficiente para reivindicar seus direitos e a demarcação de seu território.
O reconhecimento conquistado com o filme possibilitou que o Cacique Raoni e o Xingu se tornassem uma luta global, reconhecida pelas maiores lideranças e personalidades internacionais, levando Raoni a percorrer o mundo dando palestras e levantando recursos para demarcar seu território. Seu esforço ao lado de Jean-Pierre Dutilleux levou à conquista das terras indígenas Mekragnoti, Kayapó, Bau e Panara em 1993. O território de aproximadamente 103 240 km², um território maior do que a Coreia do Sul foi adicionado ao Parque Indígena do Xingu, que já cobria uma área de 26 420km².
No atual contexto de crescentes queimadas na Amazônia, mudanças climáticas e dificuldades na demarcação de terras indígenas, a Cinemateca do MAM exibirá a primeira obra com protagonismo indígena no cinema brasileiro. Às vésperas do lançamento do novo filme do diretor, Raoni 2, o evento contará também com uma sessão de perguntas e respostas com Jean Pierre e o produtor do novo filme, Marco Altberg da Indiana Produções.
O evento de exibição do filme também será um encontro para conversar sobre preservação e demarcação de terras indígenas a partir da realidade apresentada pela obra. Afinal, como disse o diretor Jean-Pierre Dutilleux em 1979, “nós devemos lutar contra a extinção desses povos. Será necessário criar outras reservas, maiores, onde os indígenas poderão se adaptar a seu próprio ritmo, sob a proteção de leis de entidades competentes. Os indígenas que vocês viram no filme estão vivos. Mas devemos pensar nos outros povos indígenas do Brasil, atualmente sem essa proteção, e ainda os do resto do mundo, minorias admiradas e destruídas”.
FICHA TECNICA
Produtores: Pierre Louis, Saguez Produções Cinematográficas e Barry Willians
Direção: Jean Pierre Dutilleux
Som Direto: Barry Willians
Montagem: Vera Freire
Assistência de Montagem: Valéria Mauro
Fotografia Luiz Carlos Saldanha
Música: Egberto Gismonti
Direção de Produção: Vania Monteiro
Narração:Paulo Cesar Pereio
Duração 1h24
As nações: MEKRONOTI, YAWALAPITI, KAIABI, SUYÁ e os últimos KREEN-AKRORE
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Informações
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