ANDRÉ FERNANDES
Em 1922, o diretor Allan Dwan realizou um dos filmes mais importantes de sua carreira. E o maior deles, se levarmos em consideração a escala dos cenários criados para sua realização. Robin Hood ou Robin dos Bosques, como ficou conhecido no Brasil, se propõe a contar a história de origem do justiceiro dos bosques, e, apesar de algumas liberdades criativas tomadas pelo diretor, se mantém bastante fiel à origem mais popular do personagem, que se passa no século XII, quando o cavaleiro Huntingdon (Douglas Fairbanks) serve sob comando do Rei Ricardo Coração de Leão (Wallace Beery), cujo reinado é ameaçado pela ganância do Príncipe John (Sam De Grasse).
Apesar de partir de uma premissa simples, Robin dos Bosques apresenta uma trama bastante elaborada que envolve não apenas o nascimento do mito de Robin Hood e seu papel na retomada do trono do Rei Ricardo, mas também sua história de amor com Lady Marian (Enid Bennett), personagem fundamental para a existência do protagonista.
Durante a primeira hora de projeção, Robin dos Bosques apresenta seus principais personagens com certa fluidez e estabelece características essenciais da trama, como as habilidades de Huntingdon, as verdadeiras intenções do Príncipe John, o romance entre o protagonista e Lady Marian. Entretanto, o filme também oferece ao espectador outro elemento fundamental ao estabelecer os espaços arquitetônicos do castelo do Rei e de seus arredores logo de início. Nesse sentido, a sequência em que Huntingdon sobe longas escadas para resgatar Marian dos avanços do Príncipe John acaba sendo bastante reveladora de uma ideia cinematográfica de fisicalidade que é central para o filme, ideia essa que é personificada no herói Robin Hood, nascido do desejo de vingança pela suposta morte de Marian e pela lealdade ao Rei Ricardo.
Na segunda metade do filme, o personagem de Fairbanks – agora Robin Hood – escala árvores e paredes, pula entre construções com extrema destreza, é um exímio atirador com o arco e parece estar sempre um passo à frente de seus inimigos. A naturalidade com que Fairbanks encara o papel deve-se não apenas ao seu grande talento, mas também a papéis anteriores que de certa forma prepararam o ator/produtor para este tipo de ação corporal, como A Marca do Zorro (1920) e Os Três Mosqueteiros (1921).
Apesar das restrições técnicas da época e da câmera permanecer fixa ao tripé durante a maior parte da projeção,
Allan Dwan consegue não somente acompanhar os movimentos de seu protagonista com dinamismo, ao utilizar uma variedade de ângulos e pontos de vista, como também acaba criando o primeiro “plano com grua” (crane shot) da história do cinema, de maneira improvisada, pois a grua como a conhecemos hoje ainda não havia sido inventada. Robin dos Bosques foi um dos filmes mais caros dos anos 20, com um valor de produção que se aproximava de 1 milhão de dólares.
O sucesso da parceria Dwan/Fairbanks transformou o longa na maior bilheteria de Hollywood em 1922, arrecadando aproximadamente 2,5 milhões de dólares. Além disso, o filme também foi o primeiro a ter uma noite de estreia formal em Hollywood, na inauguração do Teatro Egípcio de Grauman.
O legado de Robin dos Bosques para a história do cinema já está consolidado há muitas décadas, e agora, 100 anos após sua estreia, é interessante constatar que, além do valor histórico inerente, o filme continua possuindo um grande valor de entretenimento, e isso só é possível graças ao olhar apurado de Allan Dwan – amplamente considerado como um dos pioneiros do cinema – e ao vigor de Douglas Fairbanks, cuja performance como o príncipe dos ladrões segue sendo um verdadeiro deleite aos olhos.
André Fernandes
A Cinemateca do MAM é patrocinada pela Samambaia Filantropias.
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