Esta exposição é uma homenagem a Antonio Dias (1944–2018), um dos mais relevantes artistas brasileiros contemporâneos, recentemente falecido no Rio de Janeiro. A premência de sua realização nos levou para caminhos alternativos aos da elaboração de um discurso curatorial fundado em pesquisa histórico-crítica. “O ilusionista”, portanto, sem qualquer mediação que não aquela do sequenciamento visual e das relações objetivadas na montagem, confronta o visitante de maneira direta com a maioria das 62 obras do artista pertencentes às coleções MAM, produzidas entre 1961 e 1983 (sendo 12 delas não datadas).
Nascido em Campina Grande, na Paraíba, Antonio Dias mudou-se para o Rio de Janeiro em 1958, aos 14 anos. No Rio, trabalhou como desenhista, ilustrador e artista gráfico, e frequentou as aulas de Oswaldo Goeldi (1895–1961) no Atelier Livre de Gravura da Escola Nacional de Belas Artes – período em que conheceu artistas ligados ao neoconcretismo carioca, com os quais estabeleceu contato.
Foi, no entanto, a participação em exposições como Opinião 65 e Propostas 65 — que reuniram em 1965 no MAM Rio e na Faap, em São Paulo, tanto artistas brasileiros como de outros países; e a Bienal de Paris, em 1969 —, que despontou com destaque o jovem Dias, tanto nacional quanto internacionalmente. Os jovens integrantes dessas mostras tinham em comum o desejo de ultrapassar as poéticas abstrato-concretas em nome da aproximação da realidade social e política dos anos 1960. Tal tendência já estava em curso desde o final da década de 1950 quando ocorreu a reorientação mundial do foco nas sintaxes formais do abstracionismo para as possibilidades semânticas sinalizadas pela volta a uma nova figuração. Nessas seis décadas de intensa atividade produtiva, em que viveu em Paris, Milão, Berlim, Colônia e no Rio de Janeiro, Antonio tornou-se uma referência inequívoca da arte contemporânea brasileira, e internacional.
Dias nunca parou de produzir ativa e renovadamente uma obra cujo valor e importância podem ser resumidos com base neste escrito de Giulio Argan: “uma obra é vista como obra de arte quando tem importância na história da arte e contribuiu para a formação e o desenvolvimento de uma cultura artística. Enfim: o juízo que reconhece a qualidade artística de uma obra, dela também reconhece a historicidade”. Desde o início de sua trajetória, o artista encontrou no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro uma instituição sintonizada com as questões que contribuíram de modo decisivo para a renovação da produção artística brasileira. Definitivamente não é possível contar nossa história sem falar de Antonio Dias, assim como nossas coleções não teriam a mesma força sem as obras do artista que delas fazem parte e que agora podem ser vistas pelo público do museu.
Fernando Cocchiarale
Fernanda Lopes
Curadoria