Ao longo de 60 anos, um grupo de indígenas do povo Guarani construiu com jesuítas uma comunidade autônoma no território onde é hoje a fronteira entre Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai. Com as imposições estabelecidas pelo Tratado de Madri (1750), acordo que redefiniu a divisão das Américas entre Portugal e Espanha, essa população se rebelou contra as tropas das duas nações. Conhecidos como Guerras Guaraníticas (1753-56), esses confrontos almejavam a defesa de um modo de vida que entrava em choque com as decisões das Coroas.
Alguns anos depois, eclodiu a Revolta da Praia de Sangue (1790), na região do atual estado de Roraima, por meio da qual populações que habitavam o local, como os Macuxi e os Wapichana, se revoltaram contra as violências cometidas pelos colonos e soldados portugueses. Seu desfecho foi o massacre de centenas de indígenas. Essa foi uma das inúmeras tentativas de resistência desses povos diante dos abusos sofridos por décadas.
Decorridos em extremos – um no Sul e outro no Norte –, ambos os eventos exemplificam como a formação das fronteiras do que hoje se configura como território brasileiro não se deu de forma pacífica. Eles ecoam nas reivindicações e nas lutas contemporâneas pelo direito à terra, que propõem outros modelos de articulação política e administrativa.