São Paulo, SP, Brasil, 1996
Lua Cavalcante contribui em Composições para tempos insurgentes, com a instalação comissionada Oratório de Santa Maria Garra. A obra consiste em um oratório para uma santa inventada, onde se reza pelos corpos aleijados que já viveram, vivem e ainda viverão na terra. Um oratório onde se suplica para que a Santa interceda pela autonomia dos corpos com deficiências, dos corpos enlouquecidos, dos corpos aprisionados, vítimas do capacitismo, corpos entendidos como aleijados. Uma santa que não cura as deformidades da matéria, mas sim as perspectivas a respeito delas. Santa Maria Garra anuncia o entendimento de uma ancestralidade aleijada, ancorada na elaboração de modos de interpretar e produzir a realidade a partir de encantarias que cercam os corpos aleijados, trazendo noções de coletividade que vão além das violências que os conectam.
Lua Cavalcante é artista, educadora e aleijada. Tecnóloga em fotografia, pedagoga e se aventura pelos caminhos da pedagogia griô. Sua linguagem artística é a produção de experimentações em autorretrato, desenvolvendo investigações sobre as particularidades de seu corpo, lido sob o aspecto da deficiência. Coloca-se como um ser artístico, político e pedagógico, propondo reflexões sobre quais lugares reais e encantados ela habita e opera.
Texto enviado pela artista
Oratório de Santa Maria Garra (2021)
bordado, tinta spray, aquarela, colagem, miçangas, pérolas, espelhos, cianotipia a partir de raio-X, exame ortodôntico, acetato queimado, cera derretida, bijuterias coladas e unhas postiças sobre tela, vasos de vidro, bonecos, prótese ortopédica, fotografia com relevo, cerâmica pintada e assemblage
Escultura da Santa Maria Garra : Alien F.J. (Salvador, BA, 1993)
Produção de arte: Caio Costa