Nakoada: estratégias para a arte moderna
Nakoada. Uma estratégia de enfrentamento dos Baniwa em relação a seus inimigos, praticada a partir do acesso à cultura e aos saberes de outros para dar continuidade à existência do próprio povo. Trata-se de uma ferramenta de estudo, entendimento e familiarização que aspira a criar autonomia, confrontar silenciamentos e tornar outras histórias possíveis. Um exercício de persistência quando existir é um risco.
A exposição Nakoada: estratégias para a arte moderna adota essa metodologia em resposta ao centenário da Semana de Arte Moderna de 1922, evento inscrito na história da arte brasileira. Aqui, obras do acervo do MAM Rio, fundamentais para a história do modernismo no país, entram em relação com obras comissionadas de artistas contemporâneos e criações de culturas indígenas. Desta maneira, é feito um convite para enxergar de novo o que pensamos conhecer, e a revisar os legados do passado e seus usos no presente.
Uma serpente-tempo atravessa o Salão Monumental do MAM Rio e convoca as obras de artistas modernistas como Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Maria Martins, Tarsila do Amaral e Vicente do Rego Monteiro para dialogar com as obras criadas especificamente para a exposição por Cinthia Marcelle, MAHKU, Novíssimo Edgar e Zahy Guajajara.
A recorrência de linguagens e temáticas sugere continuidades, além de diferenças de origem e posicionamento. A presença do trabalho de Jaider Esbell e de cerâmicas do acervo do Museu do Índio apontam para gestos de aproximação e atos de apropriação, bem como possíveis respostas e recuperações de narrativas.
Em Nakoada, o corpo da buyaçú, a cobra grande, carrega em seu ventre a arte dos modernistas, ocupando o espaço expositivo. Mergulha pelas paredes e piso, conectando a herança moderna do museu com outros mundos, estabelecendo alianças. Conduzidos por ela, talvez possamos aprender como uma ética antiga pode se tornar um método que contribui para a manutenção da cultura e da própria vida.