O moderno e as máquinas

Em Macunaíma, o protagonista da história descreveu os primeiros automóveis como onças-pardas. Boitatás, tamanduás e outros animais foram comparados a relógios, faróis e chaminés. “Eram máquinas e tudo na cidade era só máquina!”. Essa zoomorfização nos impele a compreender a função das novas tecnologias como mimese do que já existiria antes na natureza. Na velocidade dos felinos, no tempo das cobras. Uma repetição mecânica de movimentos orgânicos dos bichos em paralelo ao eco primitivista que constituiria a imagem de um “Brasil profundo”. 

Esse cenário refletia a mudança que, desde a virada do século 20, apontava para a atividade industrial associada à modernidade, ao progresso e à civilidade, em um primeiro momento centralizadas em São Paulo e no Rio de Janeiro. As geometrias do contexto urbano, desde a arquitetura até as roupas, moldavam o comportamento social e os corpos das pessoas que habitavam aqueles espaços. A figura do operário e da massa trabalhadora emergiram, se deslocando dentro da cidade e engajados nas rotinas nas usinas e fábricas. 

Mas, se os sons das máquinas que passaram a fazer parte da rotina dessas metrópoles criaram uma nova paisagem, os processos de exclusão e a precariedade que caracterizaram tempos anteriores continuavam presentes. Por exemplo, nas práticas de trabalho nas regiões interioranas, como mostram as obras Cafezal (1952) e Fazenda de chá no Itacolomi (1958), de Djanira. A pintora, assim como Emiliano Di Cavalcanti e Carlos Drummond de Andrade, são exemplos de artistas interessados nas relações críticas entre o trabalhador e o impulso desenvolvimentista associado à industrialização. 





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