O Programa Solo – projeto de exposições individuais de artistas brasileiros reunindo apenas obras pertencentes às coleções MAM Rio – faz seu lançamento com uma exposição de José Damasceno. Dois objetos e um conjunto de desenhos, realizados entre 1987 e 2000, apresentam ao público um pequeno panorama da produção de um dos mais relevantes nomes da produção contemporânea.
José Damasceno desenvolve suas obras como artista desde o início dos anos 1990. Muito provavelmente, a curiosidade que demonstra, desde os primeiros trabalhos, pelo espaço tridimensional do mundo real e pelo espaço bidimensional virtual da folha de papel também o acompanhou na sua formação incompleta em arquitetura. Como artista, ele constrói objetos e instalações que se interessam pelos limites da forma escultórica com materiais industriais, como a estopa, a madeira, o concreto e o alumínio, que ganham novo significado. Sua poética envolve questões de superfície e profundidade, de solidez e gravidade. Isso não só nas peças tridimensionais, mas também no desenho, encarado pelo artista como local possível para simular, modelizar e inventar.
Para o Programa Solo reunimos desenhos e objetos feitos entre o fim dos anos 1980 — um período ainda de formação de Damasceno — e o início dos anos 2000, momento em que seu trabalho começa a alcançar notoriedade internacional. A litografia realizada em 1987, considerada pelo artista o ponto onde tudo começou, quando era estudante na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, já anuncia o estranhamento como um dos procedimentos que vai acompanhar seu trabalho até os dias de hoje. Aqui somos colocados diante de um conjunto de figuras de aspecto quase primitivo, algo raro na sua produção, que se misturam e se atravessam. Um desenho que deixa de lado ideias como estudo, preparação, escala, em favor da noção de autonomia.
Na produção de Damasceno tem algo do desenho que não se realiza como objeto, assim como há algo do objeto que não se captura como desenho. O trabalho mais recente da exposição é Cartograma (2000). A estrutura de linhas de metal apoiada em compassos revela o interesse do artista pelo espaço real e nos chama a atenção para sua dimensão móvel, instável, com o equilíbrio frágil que articula as peças e sustenta o objeto.
Reunir aqui essas obras é revelar ao público questões como essas que se reconfiguram ao longo do tempo na produção de José Damasceno, e também celebrar sua presença em nosso acervo e sua contribuição para a leitura desse imenso conjunto de obras e artistas.