O ritmo das ruas
Tia Ciata, figura fundamental na história do samba, reunia em sua casa, localizada na chamada Pequena África, no centro do Rio, compositores e músicos que sairiam de lá com os arranjos que ecoariam nas festas, bares e esquinas da cidade, quando o rádio ainda não existia. Esse movimento foi fundamental para o fortalecimento de todo um modo de vida, atribuindo caráter político à festa e aos corpos que vivem o ritmo.
O Carnaval – dos ensaios, desfiles, rodas de samba e blocos independentes –, traz a pulsão que irrompe durante os festejos, associada à história do país e à memória negra e periférica, protagonizada por saberes afro-brasileiros.
Não por acaso, durante muito tempo, andar pelas ruas com um pandeiro nas mãos era considerado “vadiagem”, prática qualificada como crime desde 1890. Nesse contexto, a perseguição ao próprio samba, à capoeira e a outras manifestações culturais de rua foi sistematizada.
As muitas imagens das ruas que a fotografia nos traz testemunham os corpos que podem circular nelas, e os processos de articulação, criação de cidadania e protesto que elas acolhem.
Assim, embates, disputas, reivindicações e modos de ser e estar no mundo localizam-se nas ruas, simultaneamente espaços de indignação e de prazer, essenciais para a forma como a história e a cultura se movimentam.