Hélio Oiticica em foto de Marco Rodrigues, do Acervo de Pesquisa e Documentação do MAM Rio
Nascido no Rio de Janeiro em 1937, Hélio Oiticica iniciou seus estudos artísticos no MAM Rio como aluno do Curso Livre de Pintura de Ivan Serpa, em 1954. A princípio, suas obras dialogavam com as experiências concretistas da época.
O artista participou do Grupo Frente, entre 1955 e 1956, e foi um dos signatários do Manifesto Neoconcreto, em 1959. Também integrou a Nova Objetividade Brasileira, e com os três grupos participou de exposições históricas no MAM Rio. A partir daí, Oiticica estabeleceu o corpo como motor de sua obra, que se abriu também para o contexto da rua e do cotidiano, apontando para uma relação entre arte e vida.
Para ele, o espectador era, na verdade, um participador colocado para circular e vivenciar o espaço, deixando de lado a postura contemplativa diante da obra de arte. Nesse período, o artista criou alguns de seus trabalhos mais importantes, como os Bilaterais, Relevos Espaciais, Núcleos, Penetráveis e Bólides.
Em 1964, Oiticica passou a frequentar a Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, no Rio de Janeiro, onde se tornou passista –um divisor de águas na vida e na obra do artista. A atividade o fez aprofundar suas reflexões sobre experiências estéticas para além das artes visuais, bem como das artes plásticas tradicionais, incorporando relações corporais e sensíveis ao seu trabalho através da dança e do ritmo.
Em 1965, Oiticica participou da exposição Opinião 65, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, considerada um marco na história da arte brasileira. Foi a primeira vez que ele apresentou os Parangolés. As capas foram usadas pelo artista e por sambistas e instrumentistas da Mangueira, que chegaram ao MAM Rio em uma espécie de “procissão-festiva”. Impedidos de entrar, realizaram a “obra festa” na parte externa do museu. Dois anos depois, em 1967, Oiticica voltou ao MAM Rio na exposição “Nova Objetividade Brasileira” e apresentou o penetrável Tropicália cujo percurso, segundo o artista, lembrava muito as caminhadas pelo morro. Experimental e crítica, a obra inspirou o nome do disco de Caetano Veloso e Gilberto Gil de 1968 e do importante movimento artístico e cultural liderado pelos baianos.
Naquele mesmo ano, no período mais duro da ditadura militar no Brasil, Caetano exibiu a bandeira “Seja marginal seja herói”, de autoria de Oiticica, em um show na boate Sucata, no Rio de Janeiro. A bandeira foi apreendida e o espetáculo interditado pela Polícia Federal. Em 1969, o artista teve sua primeira inserção internacional: uma exposição individual Whitechapel experience na Galeria Whitechapel em Londres, com curadoria do crítico Guy Brett. Nos anos seguintes ele expôs também no Museu de Arte Moderna de Nova York, na Rhode Island University e no evento coletivo Latin American Fair of Opinion, na Saint Clement’s Church de Nova York.
Na década de 1970, Hélio Oiticica viveu a maior parte do tempo em Nova York, onde foi bolsista da Fundação Guggenheim. Nesse período, fez experiências com filmes em super-8 e dezenas de projetos ambientais, como as Cosmococas, em parceria com Neville D’Almeida. Essas criações faziam parte do que o artista chamou de “quasi-cinema”, levando o corpo a uma situação de imersão na imagem. Oiticica retornou ao Brasil em 1978, quando dedicou-se a alguns eventos coletivos e exposições. O artista morreu em março de 1980 após sofrer um acidente vascular cerebral.
Imagem da COSMOCOCA 2, ONOBJECT, que condensa o sobrenome de Yoko Ono com a palavra object
Em 1992 foi realizada uma retrospectiva no Witte de With Center for Contemporary Art, em Roterdã (Holanda), que itinerou por Paris, Barcelona, Lisboa, Mineápolis e Rio de Janeiro. A mostra foi um marco na consolidação do nome de Oiticica como um dos nomes brasileiros de maior projeção internacional nas artes visuais, tornando-se quase como uma chave obrigatória de leitura e legitimação da arte brasileira, pela crítica, o mercado e os artistas.
Conheça algumas séries do artista
Metaesquemas, 1956-1958
Relevos espaciais, 1959-1960
Núcleos, 1960-1966
Bólides, 1963-1979
Parangolés, 1964-1979
Cosmococa, 1973-1974
Penetráveis, 1961-1980
Links relacionados
Sobre a exposição Hélio Oiticica: a dança na minha experiência, curada por Adriano Pedrosa e Tomás Toledo
Sobre a exposição COSMOCOCA – programa in progress: núcleo poético dos Quasi-Cinema, curada por Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes.
Por que homenagear bandidos, artigo sobre algumas obras de Hélio Oiticica
Revista Ars n. 30, da Universidade de São Paulo, dedicada a Hélio Oiticica
Documentos de Hélio Oiticica digitalizados pelo Itaú Cultural
Conheça o Projeto Hélio Oiticica
Assista um trecho do filme “Apocalipopótese – Guerra & Paz” (1968), de Raymundo Amado.