O centenário de um colecionador: Gilberto Chateaubriand

centenário de Gilberto Chateaubriand
centenário de Gilberto Chateaubriand

Ao longo de mais de cinco décadas, o empresário, diplomata e colecionador Gilberto Chateaubriand (Paris, 1925 – Porto Ferreira, SP, 2022) construiu uma das mais notáveis e relevantes coleções privadas de arte no Brasil, além de ter desempenhado um papel fundamental como mecenas da arte brasileira.

Nascido na França em 21 de maio de 1925, Gilberto chegou ao Brasil em 1926. Era filho de Jeanne Paulette Marguerite Allard e de Assis Chateaubriand, influente magnata das telecomunicações. Em 1948, formou-se como um dos primeiros diplomatas do Instituto Rio Branco, vinculado ao Ministério das Relações Exteriores, e a partir de 1956 passou a atuar como diplomata em Paris.

Segundo o próprio Gilberto, o colecionismo surgiu por acaso, durante uma viagem a Salvador, em 1953, quando foi apresentado ao pintor José Pancetti (1902–1958) pelo colecionador Odorico Tavares. Ao visitar o ateliê de Pancetti, ganhou algumas obras, entre elas Paisagem de Itapuã. A partir daí, iniciou um percurso que resultaria em uma das coleções mais importantes de arte moderna e contemporânea do país.

Uma marca distintiva de sua atuação como colecionador foi a relação próxima que cultivou com os artistas. Visitava seus ateliês, acompanhava seus processos e estabelecia vínculos diretos, em um período anterior à consolidação do mercado de galerias no Brasil.

Gilberto também participou ativamente de conselhos de museus no Brasil e no exterior. Foi presidente da Sociedade de Amigos do Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro e integrou os conselhos do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), da Fundação Cartier para a Arte Contemporânea (França), da Fundação Bienal de São Paulo, do Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC/USP), do Paço Imperial, do MAM Rio e do MAM São Paulo.

Desde 1993, parte de sua coleção está sob a guarda do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio), em regime de comodato, reunindo aproximadamente 6.600 obras. A aproximação entre o museu e a coleção, no entanto, começou ainda em 1981, com a exposição Do moderno ao contemporâneo: coleção de Gilberto Chateaubriand, com curadoria de Wilson Coutinho e Fernando Cocchiarale.

É marcada por sua amplitude temporal, geográfica e estética, abrangendo quase dois séculos de produção artística no Brasil. “A coleção de Gilberto possui a particularidade de sumarizar grande parte da história da arte brasileira do século 20, atenta aos movimentos e artistas que a compuseram, tornando-se uma das coleções mais vigorosas do país ao mesmo tempo que revela os gostos e particularidades de seu impulsionador”, comenta Raquel Barreto, curadora-chefe do MAM Rio.

Entre as obras fundamentais da história da arte no Brasil, destacam-se as modernistas Urutu (1928), de Tarsila do Amaral; Paisagem de Brodowski (1940), de Cândido Portinari; Moças com violões (1937), de Di Cavalcanti e A japonesa (1924), de Anita Malfatti.

Urutu, de Tarsila do Amaral. Foto Jaime Acioli.

Paisagem de Brodowski, de Cândido Portinari. Foto Jaime Acioli.

Moças com violões (1937), de Di Cavalcanti. Foto de autor não identificado.

A japonesa (1924), de Anita Malfatti. Foto de autor não identificado.

A coleção segue por movimentos como a arte concreta e neoconcreta, com obras de Lygia Clark, Hélio Oiticica, Maria Leontina e Lygia Pape. As vanguardas experimentais dos anos 1960 e 1970 estão representadas por artistas como Cildo MeirelesAntonio Manuel, Rubens Gerchman, TungaCarlos Vergara e Anna Bella Geiger.

Nas décadas de 1980 e 1990, a coleção acolheu nomes que marcaram a renovação da linguagem artística no país, como Beatriz Milhazes, Leonilson, Adriana Varejão, Ernesto Neto, Leda Catunda e Daniel Senise.

Mais do que uma reunião de obras, a Coleção Gilberto Chateaubriand é o testemunho de um olhar comprometido com a arte e com os artistas brasileiros. É um patrimônio vivo, em constante diálogo com o tempo e cuja preservação e difusão cabem ao MAM Rio, por meio de suas exposições e ações educativas.

Ao longo de sua trajetória, o MAM Rio realizou 52 exposições dedicadas à coleção, reafirmando sua importância como referência para o pensamento e a história da arte no Brasil.



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