Maria Martins


A ESCULTORA DOS TRÓPICOS E DO SURREALISMO

O Impossível (1945), escultura em bronze de Maria Martins, 79,5 x 80 x 43,5 cm, da Coleção Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Foto Jaime Acioli

A escultora Maria Martins (1894-1973) é uma artista importante do modernismo internacional. Começou sua carreira tardiamente, mas sua presença no cenário artístico foi marcante principalmente nos anos 1940 e 1950, quando viveu entre os EUA e a França e manteve colaboração com figuras como André Breton, Marcel Duchamp e Piet Mondrian. O crítico e historiador da arte Michel Seuphor se referiu a Maria Martins em livro de 1959 como “a grande escultora do surrealismo”. Seu trabalho, que inclui temática indígena brasileira, foi descrito como “poesia tropical”.

Ela nasceu em Campanha (MG), filha de mãe pianista e um advogado autodidata que se tornou senador e ministro da Justiça. Estudou em escola católica em Petrópolis (RJ), o Colégio Sion, com aulas em francês. Casou-se em 1915 com o historiador Otavio Tarquinio de Souza, autor de volumes sobre a fundação do Brasil Império e biógrafo de Dom Pedro I. Teve duas filhas, Lucia Maria e Maísa, que morreu criança com meningite. Separou-se do marido em 1925.

No ano seguinte, perdeu o pai e casou-se com Carlos Martins Pereira e Souza, um diplomata brasileiro de carreira, a quem acompanha em seus deslocamentos profissionais. Tem uma terceira filha com ele, Theresa, que morre ao nascer. Nora Yolanda e Anna Maria Pia são as filhas que o casal tem nos anos seguintes, quando já morava na França.

No Governo Vargas, Carlos Martins se torna embaixador em Copenhagen e depois em Tóquio, onde Maria se apaixona pela cerâmica japonesa e estuda Zen Budismo. Em 1936, morando na Bélgica, Maria estuda escultura com Oscar Jespers e começa a trabalhar com terracota e fazer retratos.

Em 1939, Carlos é nomeado embaixador nos Estados Unidos, onde serve até 1948. Em Washington D.C., Maria decide se dedicar seriamente à escultura. Faz trabalhos de grandes dimensões em jacarandá e outras madeiras nativas do Brasil, além de prosseguir com a cerâmica. Em 1940, começa a expor em instituições públicas, na Filadélfia e em Nova York.

No ano seguinte, faz sua primeira exposição individual importante, intitulada apenas Maria, na Corcoran Gallery of Art, em Washington, recebendo críticas positivas. Nelson Rockefeller compra a escultura Christ para o Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA). Foi sua primeira obra a entrar na coleção de um museu norte-americano. Começa a aprender a esculpir em bronze com Jacques Lipchitz, recém-chegado de Paris, e quem ela conheceu numa viagem.

Em 1942, Maria aluga um estúdio na Park Avenue em Nova York. Torna-se amiga da escultora Mary Callery, através de quem conhece os arquitetos Mies van der Rohe e Philip Johnson. Faz sua primeira individual na cidade, na Valentine Gallery. Sua obra St. Francis é comprada pelo Metropolitan Museum of Art e outra, Yara, é adquirida pelo Philadelphia Museum of Art.

Em 1943, a Valentine Gallery faz duas exposições simultâneas: uma de Mondrian, intitulada Mondrian: New Paintings, e outra de Maria Martins, chamada Maria: News Sculptures, com oito figuras da Amazônia e acompanhada por um livro escrito pela artista também chamado Amazônia. A maioria das esculturas foram vendidas e ela mesma adquiriu Broadway Boogie Woogie, de Mondrian, por US$ 800, que no mesmo ano doou para a coleção do MoMA.

Maria Martins com uma obra sua, em foto da Coleção da Embaixada Brasileira em Washington DC, de 1949.

Nessa época, conheceu André Breton e Rufino Tamayo, e se tornou parte do círculo de artistas refugiados em Nova York que, durante os anos de guerra, se encontravam no apartamento de Peggy Guggenheim. Entre eles estavam Yves Tanguy, Max Ernst, Marcel Duchamp, Marc Chagall e Piet Mondrian. Fernand Léger tornou-se um amigo próximo e desenhou esculturas dela numa visita a Maria em Washington.

Entre novas exposições individuais e estudos de impressão, a relação de Maria com Duchamp se intensifica e ela se torna modelo da obra Étant donnés, entre outras. Duas obras de Maria são incluídas na Exposition Internationale du Surréalisme na Galerie Maeght, em Paris, em 1947.

Em 1948, Carlos passa a ser o embaixador do Brasil na França e o casal se muda para Paris. Maria aluga um estúdio na Villa d’Alesia, em frente ao estúdio de Brancusi, de quem se torna amiga próxima. Sua primeira exposição individual em Paris mereceu a publicação de um livro, Les Statues Magiques de Maria, com ensaios de André Breton e Michel Tapié.

Em 1949, Carlos se aposenta, o casal volta ao Brasil e Maria se prepara para sua primeira grande exposição no país, que acontece no Museu de Arte Moderna de São Paulo, em 1950, com 36 esculturas. Naqueles anos ela ajuda a organizar a primeira Bienal Internacional de São Paulo. Ganharia o primeiro prêmio na terceira Bienal.

Em 1952 Maria foi sócia benemérita e fez parte do Conselho Deliberativo do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, exercendo um papel chave na formação de seu acervo. Uma retrospectiva de sua obra acontece no MAM Rio em 1956. Em 1959, ela conclui a grande escultura O Rito do ritmo, instalada em frente ao Palácio da Alvorada, em Brasília. Uma miniatura dessa escultura foi distribuída como lembrança na inauguração da nova capital federal.

Outras obras suas estão nos jardins do Palácio Itamaraty. Nos anos 1960, Maria escreve uma coluna chamada “Poeiras da vida”, entrevistando figuras notáveis para o jornal “Correio da Manhã”. Fica viúva em 1964. Em 1970, é comissionada por Oscar Niemeyer para fazer uma escultura para a Catedral de Brasília. Realiza os esboços, mas não chega a concluir a escultura. Morre aos 78 anos em sua casa no Rio de Janeiro.

De Maria Martins o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro possui uma obra-prima, a escultura em bronze O impossível (1945), em que duas figuras femininas de abraçam por tentáculos pontiagudos. Entre 1944 e 1949, ela criou diversas versões dessa escultura, em vários tamanhos e materiais. O exemplar que está no Museu de Arte Moderna de Nova York é O impossível, III, de 1946. Outra obra de Maria também está em comodato de longa duração no MAM. É uma escultura sem título, de bronze e mármore, de cerca de 1940, que faz parte da Coleção Gilberto Chateaubriand MAM Rio.

À dir., obra de Maria Martins sem título, c.1940, de bronze e mármore, medindo 52 x 39 x 28 cm. Coleção Gilberto Chateaubriand MAM Rio. Foto Jaime Acioli



Texto: Márion Strecker


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Animação sobre a obra de Maria Martins.

Exposição Realce.



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