MAURO DOMINGUES
Confira a programação completa da mostra.
Nasceu José de Almeida Mauro em 23 de março de 1921, na Cidade de Cataguases/MG, primeiro filho do Cineasta Humberto Mauro e da atriz Maria Vilela de Almeida Mauro, Dona Bebê, mas ficou conhecido como Zequinha Mauro, que é um apelido carinhoso de família e utilizado pelos tantos amigos que foram feitos em sua vida profissional.
Quem sempre o chamava de José de Almeida Mauro, separando bem as sílabas de forma pausada era o cineasta David Neves, a quem Zequinha considerava um irmão. Segundo Zequinha, “quando papai precisou de dinheiro para complementar os custos de uma cirurgia o David foi a Volta Grande e entregou o prêmio, em dinheiro, que recebeu pelo curta-metragem Mauro, Humberto, de 1975”.
Seu primeiro filme foi feito logo depois do Tiro de Guerra (órgão de formação de reservas no serviço militar em cidades onde não há uma unidade militar). Isso ocorreu no início dos anos de 1940. Humberto Mauro havia comprado uma câmera Eyemo 35 mm de corda, com uma única lente e pediu que o Zequinha filmasse a extração de ouro aluvião, de acordo com um filme feito pelo próprio Humberto em 16 mm. Após ver o filme Zequinha chamou um amigo, Nélson Haten, e eles fizeram o filme, agora em 35 mm. “Papai gostou muito”, segundo o Zequinha. O filme foi vendido para o cinegrafista, diretor e produtor Genil Vasconcelos.
Seria possível falar que nesse momento nascia o profissional de cinema que o Zequinha se tornaria, mas creio que o cinema já estava presente bem antes, pois não há como separar o cinema dos “Mauros” da Família Mauro.
Daí em diante, ainda nos anos de 1940, Zequinha Mauro começa a colaborar no Instituto Nacional de Cinema Educativo – INCE. Seu primeiro filme, onde dividiu a fotografia com o amigo Nélson Haten, foi o curta-metragem Farol, Dir. Humberto Mauro, em 1946, conforme registro no Livro Tombo, vol1, do Instituto Nacional do Cinema Educativo.
No início de suas atividades no INCE dividiu a fotografia dos filmes do Instituto, principalmente com o próprio Humberto Mauro e com o Manoel P. Ribeiro que era o responsável pela fotografia dos filmes naquela ocasião. Segundo Zequinha Mauro, “o Manoel não gostava de filmar as externas e eu ia fazer”.
Durante sua carreira profissional, encerrada oficialmente em 1991, por conta da aposentadoria compulsória ao completar 70 anos, Zequinha foi o responsável pela fotografia, montagem e até mesmo a direção de muitos dos filmes feitos produzidos pelo INCE e dirigidos pelo Humberto Mauro. Segundo Zequinha, em muitos casos “o papai me falava o que queria eu ia e fazia sozinho”. Não há como negar que seu papel sempre foi muito além da fotografia. Depois vem o Instituto Nacional de Cinema – INC e a Embrafilme, onde o Zequinha Mauro atuou como Diretor de Fotografia em filmes de Jurandyr Noronha, Paulo Cezar Saraceni. Walter Lima Júnior, Lyonel Lucini, entre outros.
O Canto da Saudade: lenda do Carreiro, de Humberto Mauro, 1952 foi o único filme de longa-metragem com a direção de fotografia e câmera do Zequinha Mauro. Segundo ele foi um filme difícil, com pouca equipe, basicamente ele, Matheus Collaço (o intérprete da velha no curta- metragem A Velha a fiar) e Humberto Mauro.
Uma coisa muito normal também era o encontro do Zequinha Mauro com amigos como Mário Carneiro, Hélio Silva, Paulo César Saraceni, Jurandyr Noronha, Affonso Beato, Walter Carvalho, Luiz Carlos Lacerda, Emanoel Cavalcante, Vladimir Carvalho entre tantos outros que o procuravam para uma conversa e muitas vezes uma consulta na busca de soluções para um problema técnico.
Conheci o Zequinha Mauro em 1986, em uma vista ao Centro Técnico Audiovisual da Embrafilme.
Na verdade, algum tempo depois, descobri que o conheci antes, através dos filmes que assistia na escola pública do subúrbio carioca, nos anos de 1970. Uma professora de arte e música projetava os filmes do INCE uma vez por semana. Foram aquelas imagens em preto e branco e o som do projetor 16 mm que definiram, mesmo sem eu saber, que era aquilo que eu queria fazer.
Ao entrar em sua sala, que era um misto de estúdio e laboratório fotográfico, encontrei um senhor bonito, magro, elegante e de cabelos grisalhos. De imediato começamos a conversar e essa conversa dura, de alguma maneira, até hoje, quando vejo seus filmes, lembro de suas histórias e até rio sozinho lembrando das nossas conversas e dos goles de cachaça que aprendi a gostar com ele.
Muitos anos depois daquelas aulas no ginásio de uma escola pública estava diante daquele senhor simpático e o autor das primeiras imagens que tenho lembrança.
Essa homenagem pretende reunir amigos em torno desse universo “maureano”, como diz o poeta, escritor, pesquisador e amigo Ronaldo Werneck, assistir seus filmes, ouvir profissionais que de alguma forma foram influenciados e beberam na fonte de Zequinha Mauro.
Além de preservar nossos filmes é necessário preservar de alguma maneira as histórias dos profissionais que contribuíram para o cinema que fazemos hoje.
Mauro Domingues
Fotógrafo e Arquivista com atuação na área de Preservação audiovisual desde 1986, no Centro Técnico Audiovisual – CTAV e Arquivo Nacional, com estágio no Laboratório de restauração da Filmoteca da Universidade Nacional Autônoma do México – UNAM, desenvolvimento e execução de projetos de restauração de filmes, digitalização de acervos arquivísticos e museológicos e consultoria técnica para uso de imagens de arquivo em produções audiovisuais.
Membro da Associação Brasileira de Preservação Audiovisual – ABPA Membro da Diretoria do Centro de Pesquisadores do Cinema brasileiro – CPCB, 2021 Membro da Diretoria da Sociedade de amigos do Museu de Imagens do Inconsciente – SAMII, 2021.
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