A Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro é um centro de patrimônio e memória audiovisual relacionado à expressão por imagens e sons em movimento, não importando o suporte de registro, intenção de uso ou valoração sócio-cultural.
Segunda cinemateca mais antiga em atividade no país, constituiu-se com um escopo de atuação que abrange a preservação em sentido lato e a conservação em sentido estrito de toda e qualquer manifestação relacionada com a atividade cinematográfica e mais amplamente audiovisual, nacional e internacional, de todas as épocas, tomando sempre como referência a criação através de imagens em movimento.
Famoso como espaço de resistência à ditadura militar no século passado, a Cinemateca teve inúmeras fases e faces, ora focando na formação de plateias para o filme antigo, como nos festivais dos anos 1950-60, ora ampliando a difusão, por intermédio da administração de um circuito de salas e do apoio ao movimento cineclubista nos anos 1960-70, ora desenvolvendo a prospecção mundial de filmes brasileiros considerados perdidos, como nos anos 1980, ora arcando com a recepção e conservação de conjuntos fílmicos abandonados à própria sorte, como nos desmontes da Era Collor, ora se reinventando com a chegada do computador e da internet, mantendo a exibição de filmes em película e ao mesmo tempo se tornando depositária legal de inúmeras instituições, como estratégia possível de conservação do efêmero mundo digital.
Como um dos mais importantes arquivos audiovisuais da América Latina, a Cinemateca possui hoje várias coleções de filmes, incluindo o filme brasileiro mais antigo preservado, Reminiscências, de Aristides Junqueira, cujas imagens remontam a 1909. São mais de 7.000 títulos em 35mm e 16mm, e cerca de 60.000 em base videomagnética analógica e digital e em mídias óticas, o que é complementado pela maior coleção documental sobre cinema do país, com quase 3 milhões de itens.
Como entidade cultural pulsante e mantendo o compromisso da instituição-mãe com a difusão democrática e acessível da cultura a amplas parcelas da população carioca e brasileira, a Cinemateca oferece agora uma parte deste imenso tesouro or meio deste site, interface viva com a história do cinema e com o momento presente.
A Cinemateca do MAM é filiada à FIAF, Federação Internacional de Arquivos de Filmes, entidade associativa e de intercâmbio de conhecimentos, acervos e iniciativas no campo da formação, responsável por congregar os arquivos audiovisuais do mundo inteiro.
Missão
Cinema, Arquivos e Preservação
Conhecer o cinema em suas variadas manifestações é uma tarefa complexa e intrincada. A produção cinematográfica profissional difundiu-se por praticamente todos os países do mundo ao longo do século 20. E a amadora, depois de passar décadas restrita às famílias mais abastadas, viu-se crescentemente praticada com o advento do computador, dos equipamentos de captação digital portáteis, dos canais de web e das redes sociais. Como expressões altamente significativas da cultura e das sociedades modernas e contemporâneas, representam uma documentação privilegiada para a compreensão da história do mundo e para a formulação de novas idéias, projetos, obras, programas e políticas, ou simplesmente para um novo contato com o objeto que nos interessou de alguma forma em algum momento da vida.
Restituir o passado e coletar o presente dos materiais que registram imagens em movimento e que quase sempre estão associadas a uma trilha sonora tornou-se com o tempo a tarefa das cinematecas e mais amplamente dos arquivos audiovisuais. Tarefa ampliada porque este universo não se restringe só aos filmes, mas abarca a documentação não-fílmica associada a eles, indo da publicidade ao roteiro, das críticas jornalísticas aos acetatos para animação, das revistas de divulgação cinematográfica às dissertações e teses acadêmicas, apenas para mencionar algumas modalidades e suportes de informação da área. A idéia da constituição de espaços de salvaguarda do patrimônio audiovisual surgiu na década de 30 do século passado como uma estratégia para enfrentar o desaparecimento sistemático da produção inicial do cinema, ameaçada pela obsolescência tecnológica e pela baixa rentabilidade, após o momento de lançamento comercial. Foi também à época uma iniciativa para afirmar e defender o caráter artístico do cinema. Com o tempo, impedir a destruição e promover a preservação dos filmes, vídeos e mídias óticas e digitais e documentação conexa, passou a ser uma ação mais ampla, reconhecida por toda a sociedade como um dos novos pilares de desenvolvimento educativo e cultural das nações.
Por conta do caráter massivo da produção audiovisual profissional e amadora e do entendimento de que sua importância extravasa eventuais qualidades estéticas, tendo se transformado em objeto de múltiplo uso pelas sociedades contemporâneas, o processamento destes materiais ganhou enquadramento arquivístico prioritário, sem prejuízo a eventuais usos biblioteconômicos e museológicos. As cinematecas, como grandes arquivos não-hierárquicos e sem preconceitos de qualquer ordem, procuram abrigar e acumular sistematicamente a produção corrente de uma cidade, uma região, um país, uma área, um gênero, um tema, ou, como é o caso da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, um mix de todas as possibilidades. Tal disposição é complementada pela iniciativa de restituir o cinema em sua linha de evolução social, cultural, artística e tecnológica pelo lado mais conhecido e intangível que é o da exibição das obras audiovisuais. É no espaço da sala de projeção que se presentificam os rituais históricos da área, indo do chamado cinema “mudo” à projeção digital em terceira dimensão. Aqui a preservação audiovisual ganha corpo definitivo, trazendo novamente ao convívio social as mais variadas características da expressão e do espetáculo cinematográficos.