Fayga Ostrower e Carlos Drummond

Fayga Ostrower foi artista, teórica das artes, escritora, intelectual e inspiração. Carlos Drummond de Andrade dedicou a ela um poema, encantado por seu trabalho. Reproduzimos abaixo o texto em que o poeta declara sua admiração pela artista, publicado em uma coluna do Segundo Caderno do jornal “Correio da Manhã”, em janeiro de 1969.

“Para começar bem o ano, minha receita é usar, no sentido de fruir, o álbum 20 Gravuras, de Fayga Ostrower, obra muito prima da Imprensa Nacional, feita por iniciativa de Murilo Miranda ainda no antigo Conselho Nacional de cultura, e que só há pouco, em dezembro de 1968, veio alegrar os olhos da gente. Consiste a receita em ler a apresentação muriliana, passar ao estudo-prefácio de Antônio Bento, e depois fazer de cada gravura um alimento do espírito, um bem-estar, uma felicidade que rumor nenhum da rua conseguirá perturbar. Pois a arte de Fayga Ostrower é isto: um motivo de felicidade. Em verso de circunstância, derivado dessa fruição, deixo aqui minha homenagem à artista incomum”.

“Fayga faz a forma
flutuar e florir na pauta
musicometálica.
Água forte, água tinta
a água fina
lavam
a crosta da terra
varam
a delicada ordenação das estruturas
manifestam
o diáfano.

Fayga exige à madeira
suas paisagens concentradas
mundos lenhosos que sobem à vida
no côro de côres, côr
ressoando nas coisas, independente de som.

Fayga faz e perfaz
a fundação de objetos líricos
sob superfícies falazes.
Depois bloqueia a luz, a espêssa
atmosfera do não volve em depósito
de infinitos esquemas
vibrando noturnamento.

Fayga é um fazer
um filtrar e descobrir
as relações da vista e do visto
dando estatuto à passagem
no espaço: viver
é ver sempre de nôvo
a cada forma
a cada cor
a cada dia
o dia em flor no dia”.

A exposição “Fayga Ostrower: Formações do Avesso”, reúne 80 trabalhos da artista, desde gravuras, objetos, tecidos, joias e suas citações sobre arte, criatividade, educação, e aprendizado, que saem das páginas dos livros para preencher as paredes do museu.

A mostra tem curadoria conjunta da equipe curatorial do MAM Rio, formada por Beatriz Lemos, Keyna Eleison e Pablo Lafuente, e da equipe de Educação e Participação, com Daniel Bruno, Gilson Plano e Shion Lucas. Visite essa e outras exposições do museu nos finais de semana, das 10h às 18h, e quintas e sextas, das 13h às 18h. 

Imagem: Carlos Drummond de Andrade, Victor de Carvalho e Fayga Ostrower, na Assembléia Geral dos Sócios para as eleições de novos sócios-delegados e membros para o Conselho Deliberativo, em 26 de setembro de 1958. Fotógrafo não identificado. Acervo MAM Rio.

Publicado em 29 de maio de 2021.



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