Memória MAM 75

Exposição

O MAM Rio apresenta o projeto Memória MAM 75, série de depoimentos com nomes da arte brasileira fundamentais para o legado da instituição, que comentam sobre suas trajetórias, em diálogo com a história do museu.

A série tem entrevistas conduzidas pelo diretor artístico do museu, Pablo Lafuente, direção criativa de Erika Palomino e direção de fotografia e montagem de Matheus Freitas.

Waltercio Caldas

O carioca Waltercio Caldas é o entrevistado do sexto episódio da série “Memória MAM 75”, com nomes da arte brasileira fundamentais para a história da instituição. O artista tem 166 obras nas coleções de arte do MAM Rio.

“Minha relação com o MAM Rio começa muito cedo: no início dos anos 1960, aos 18 anos, frequentava o museu em suas exposições. Sempre costumo pensar que o meu interesse pela arte surgiu com a experiência que tive, aqui, como espectador da arte, como público”, diz o artista em seu depoimento, concedido ao diretor artístico Pablo Lafuente.

Em 1964, Waltercio Caldas estuda pintura com Ivan Serpa no MAM Rio. O dia a dia das aulas e as visitas ao acervo do museu o aproximam da produção moderna e contemporânea. “Mais do que aulas, eram encontros”, relembra o artista. A partir dali, ele desenvolve um conhecimento específico: “não só de uma profissão, mas de uma prática. Especialmente de um tipo de liberdade que eu só via na arte”, resume.

Em sua fala, Waltercio Caldas traz lembranças das exposições individuais que apresentou no MAM Rio: em 1973, apresenta a série ”Condutores de percepção”; em 1976, “Objetos e desenhos”, e em 1999, “Livros”. “A produção de uma exposição não é simplesmente mostrar uma obra. Ela é a continuação da linguagem que você pratica”, diz o artista.

Iole de Freitas

A mineira Iole de Freitas é a entrevistada do quinto episódio da série “Memória MAM 75”, com nomes da arte brasileira fundamentais para a história da instituição. Em depoimento conduzido pelo diretor artístico do museu, Pablo Lafuente, Iole fala de sua experiência como artista e visitante, em relação com o MAM Rio.

Quando tinha 9 anos de idade, Iole realizou um curso para crianças com o artista Ivan Serpa, no Bloco Escola do MAM Rio, comentando que “a primeira ideia de liberdade que eu já tive em relação a qualquer gesto criativo pictórico foi com ele”.

Ela ressalta a importância das trocas entre artistas no bar do museu, que funcionava como foco de criatividade e, segundo a artista, eram “essenciais para compartilhar e aprimorar atitudes estéticas, que obviamente eram atitudes éticas, que obviamente eram atitudes políticas”.

Escultora, gravadora e artista multimídia, em 2015, Iole de Freitas ganhou uma icônica exposição individual no MAM Rio, ocupando o Salão Monumental com uma instalação inédita, feita especialmente para o espaço, composta por três esculturas de grandes dimensões.

Antonio Manuel

A série “Memória MAM 75” apresenta em seu quarto episódio o depoimento de Antonio Manuel. Nascido em Portugal em 1947, veio com a família para o Brasil aos seis anos, fixando-se no Rio de Janeiro. Escultor, pintor, gravador e desenhista, o experimentalismo e o tom político marcam seu trabalho, cuja história se entrelaça com a do MAM Rio.

“Parte da minha vida foi aqui”, resume o artista, na entrevista conduzida pelo diretor artístico Pablo Lafuente, realizada no terceiro andar do espaço expositivo. 

Antonio Manuel relembra o MAM Rio em sua efervescência: “O MAM funcionava como um point dessa força que a arte tem. O Cinema Novo vinha para cá: Glauber Rocha, Cacá Diegues, Arnaldo Jabor, Julio Bressane, Rogerio Sganzerla, Neville de Almeida. O teatro também, com Zé Celso Martinez Corrêa, Luiz Fernando Guimarães. Era rico como troca de ideias, como cultura. Encontrei várias vezes Haroldo de Campos e Mário Pedrosa. Essas coisas todas mexiam com a minha cabeça”, conta.

Das muitas histórias que Antonio Manuel divide nesse registro, conta de como conheceu Hélio Oiticica na Cantina do MAM, o que resultou no convite para participar de “Tropicália”, parte da exposição “Nova objetividade brasileira”, onde atualmente está a Cinemateca. “Depois, passei a frequentar todo dia o museu, com o Hélio. O pessoal da Mangueira vinha, ficava jogando cartas”, diz.

O artista relata como era o clima sob o regime militar, a repressão e a censura, de seus flans (feitos a partir da matriz para a impressão de jornais) e da participação no Salão da Bússola. Narra também a gênese de “Corpobra”, recém-exposta no MAM Rio, em “Terra em Tempos”.

A obra se dá a partir de uma proposição de participação no 19º Salão de Arte Moderna do museu, em que seu corpo seria a obra. “É o corpo que vai falar por mim, são os sentidos que me interessam”, explicou ao júri. Na noite de abertura da mostra, ele levou o trabalho adiante.

Antonio Manuel elogia a importância dos Domingos da Criação e fala da carpintaria do MAM Rio, cuidada pelo marceneiro Madureira e seu filho. Encerra contando como acabou ficando com a prancheta que havia sido do arquiteto Affonso Eduardo Reidy. “Parte do museu foi feita nela. Eu amo aquela prancheta, ela está no meu ateliê até hoje”.

Carlos Zilio

O carioca Carlos Zilio é o entrevistado do terceiro episódio da série “Memória MAM 75”, com nomes da arte brasileira fundamentais para a história da instituição. Em entrevista conduzida pelo diretor artístico do museu, Pablo Lafuente, Zilio, 79, fala de sua experiência como artista, visitante e agente cultural, em relação com o MAM Rio.

Ele conta desde sua primeira participação em uma exposição no museu, em 1965, o Salão de Abril. Fala do impacto que teve sob a “Opinião 65” e de sua presença em “Opinião 66”, no contexto das artes no Brasil em meados dos anos 1960. “‘Opinião’ era uma coisa híbrida, com características brasileiras, espontaneamente. A exposição me impressionou muito, particularmente um trabalho do Antonio Dias. Posso falar isso em público com tranquilidade: o maior artista da minha geração. Foi uma experiência muito importante, eu entrar nessa turma – Roberto Magalhães, Carlos Vergara, Pedro Escosteguy, todos nessa faixa dos 20 anos”, conta.

“Nova Objetividade Brasileira” foi um marco diferente, com uma outra relação com a política da arte: “Havia a disponibilidade dos artistas em atuar, de se colocar em campo.”

O advento do circuito de arte e sua atuação política são assuntos da conversa. 

Zilio conta também de seu pós-doutorado com o filósofo e professor francês Hubert Damisch: “ele tinha essa visão histórica da arte, sem cronologias, o que consolidou minha relação mais ampla com a arte”, diz.

Aponta caminhos para o MAM Rio. Em sua visão, a sociedade carioca deve manter um museu atuante e ter um vínculo permanente com a cultura plástica. “Existe já um museu que acompanha a história cultural da cidade, conquistada com esforço. Esse museu tem que ter continuidade.”

Carlos Vergara

O artista Carlos Vergara é o entrevistado do segundo episódio da série Memória MAM 75, com nomes da arte brasileira fundamentais para a história da instituição. “Eu tenho 82 anos, mas estou olhando para a frente”, declara. Em conversa com o diretor artístico Pablo Lafuente, Vergara fala de sua primeira exposição, quando colou seus trabalhos no bar que então havia no MAM Rio. “Fiz à revelia de todo mundo”, conta. “Quando o museu abriu, os jovens se aproximaram. Entre eles, eu. Queríamos uma brecha”, conta, citando Rubens Gerchman, Antonio Dias e Hélio Oiticica.

No começo dos anos 1960, a arte moderna ainda era “uma coisa estranha”, ele diz. Eram tempos da ditadura. “Vínhamos ao museu, que era o lugar em que se podia ter uma conversa sobre arte. Era quase clandestina, a arte contemporânea. Aqui era um lugar também quase clandestino”, conta o artista. Vergara fala de suas participações nos Domingos da Criação: “a ideia de trazer a minha mãe foi a de que qualquer pessoa, mesmo não sendo artista, poderia fazer arte”.

Ele menciona também sua icônica série de fotografias sobre o carnaval, mostrada no museu em 1972. “Eu já trabalhava com o Cacique, que tinha uma frase: dos 7 mil, eu sou um. Isso significava que havia a ideia do coletivo. Era político o que o Cacique levava para a avenida.” Ele retoma experiências como o ateliê de gravura e a cinemateca, e encerra apontando caminhos para o MAM Rio: “insisto que se deveria retomar a vanguarda”. Na conversa, Vergara discute a função do museu e diz que as pessoas que gostam de arte devem se aproximar. “Tudo cabe aqui. Poderíamos fazer um teatro contemporâneo, na sala. E na inauguração de uma exposição, chamar jovens dramaturgos para fazer um happening”. “A cidade precisa do museu”, resume.

Anna Bella Geiger

A artista carioca Anna Bella Geiger estreia o programa Memória MAM 75. Ela conta que tinha “mania de MAM”. Dentre os destaques do depoimento, suas primeiras interações com o museu, no ateliê de gravura em metal. “Quando a gente é jovem, mulher, é como na pré-história: fazia tudo. Eu vinha de manhã e de noite” conta a artista, que morava perto do museu, retornando para casa para amamentar sua filha recém-nascida.

Na entrevista, Anna Bella Geiger relata também o período da ditadura militar no Brasil e sobre sua famosa fase visceral, entre 1965 e 1969. Relata também o surgimento da Área Experimental do MAM Rio, conforme batizado por ela. “A ideia era de ocupação total. Achávamos que todo o museu deveria ser experimental.”

Na conversa, Anna Bella relembra a gênese de “Brasil nativo/Brasil alienígena”, de 1976/1977, e o início de sua atuação com videoarte, ao lado do grupo que incluía Ivens Machado, Letícia Parente, Fernando Cocchiarale, Paulo Herkenhoff e Ana Vitória Mussi, usando a câmera Super 8 de segunda mão que ela ganhou de um funcionário do Itamaraty e que emprestava aos colegas.



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