Memória MAM 75

Exposição

O MAM Rio apresenta o projeto Memória MAM 75, série de depoimentos com nomes da arte brasileira fundamentais para o legado da instituição, que comentam sobre suas trajetórias, em diálogo com a história do museu.

A série tem entrevistas conduzidas pelo diretor artístico do museu, Pablo Lafuente, direção criativa de Erika Palomino e direção de fotografia e montagem de Matheus Freitas.

Antonio Manuel

A série “Memória MAM 75” apresenta em seu quarto episódio o depoimento de Antonio Manuel. Nascido em Portugal em 1947, veio com a família para o Brasil aos seis anos, fixando-se no Rio de Janeiro. Escultor, pintor, gravador e desenhista, o experimentalismo e o tom político marcam seu trabalho, cuja história se entrelaça com a do MAM Rio.

“Parte da minha vida foi aqui”, resume o artista, na entrevista conduzida pelo diretor artístico Pablo Lafuente, realizada no terceiro andar do espaço expositivo. 

Antonio Manuel relembra o MAM Rio em sua efervescência: “O MAM funcionava como um point dessa força que a arte tem. O Cinema Novo vinha para cá: Glauber Rocha, Cacá Diegues, Arnaldo Jabor, Julio Bressane, Rogerio Sganzerla, Neville de Almeida. O teatro também, com Zé Celso Martinez Corrêa, Luiz Fernando Guimarães. Era rico como troca de ideias, como cultura. Encontrei várias vezes Haroldo de Campos e Mário Pedrosa. Essas coisas todas mexiam com a minha cabeça”, conta.

Das muitas histórias que Antonio Manuel divide nesse registro, conta de como conheceu Hélio Oiticica na Cantina do MAM, o que resultou no convite para participar de “Tropicália”, parte da exposição “Nova objetividade brasileira”, onde atualmente está a Cinemateca. “Depois, passei a frequentar todo dia o museu, com o Hélio. O pessoal da Mangueira vinha, ficava jogando cartas”, diz.

O artista relata como era o clima sob o regime militar, a repressão e a censura, de seus flans (feitos a partir da matriz para a impressão de jornais) e da participação no Salão da Bússola. Narra também a gênese de “Corpobra”, recém-exposta no MAM Rio, em “Terra em Tempos”.

A obra se dá a partir de uma proposição de participação no 19º Salão de Arte Moderna do museu, em que seu corpo seria a obra. “É o corpo que vai falar por mim, são os sentidos que me interessam”, explicou ao júri. Na noite de abertura da mostra, ele levou o trabalho adiante.

Antonio Manuel elogia a importância dos Domingos da Criação e fala da carpintaria do MAM Rio, cuidada pelo marceneiro Madureira e seu filho. Encerra contando como acabou ficando com a prancheta que havia sido do arquiteto Affonso Eduardo Reidy. “Parte do museu foi feita nela. Eu amo aquela prancheta, ela está no meu ateliê até hoje”.

Carlos Zilio

O carioca Carlos Zilio é o entrevistado do terceiro episódio da série “Memória MAM 75”, com nomes da arte brasileira fundamentais para a história da instituição. Em entrevista conduzida pelo diretor artístico do museu, Pablo Lafuente, Zilio, 79, fala de sua experiência como artista, visitante e agente cultural, em relação com o MAM Rio.

Ele conta desde sua primeira participação em uma exposição no museu, em 1965, o Salão de Abril. Fala do impacto que teve sob a “Opinião 65” e de sua presença em “Opinião 66”, no contexto das artes no Brasil em meados dos anos 1960. “‘Opinião’ era uma coisa híbrida, com características brasileiras, espontaneamente. A exposição me impressionou muito, particularmente um trabalho do Antonio Dias. Posso falar isso em público com tranquilidade: o maior artista da minha geração. Foi uma experiência muito importante, eu entrar nessa turma – Roberto Magalhães, Carlos Vergara, Pedro Escosteguy, todos nessa faixa dos 20 anos”, conta.

“Nova Objetividade Brasileira” foi um marco diferente, com uma outra relação com a política da arte: “Havia a disponibilidade dos artistas em atuar, de se colocar em campo.”

O advento do circuito de arte e sua atuação política são assuntos da conversa. 

Zilio conta também de seu pós-doutorado com o filósofo e professor francês Hubert Damisch: “ele tinha essa visão histórica da arte, sem cronologias, o que consolidou minha relação mais ampla com a arte”, diz.

Aponta caminhos para o MAM Rio. Em sua visão, a sociedade carioca deve manter um museu atuante e ter um vínculo permanente com a cultura plástica. “Existe já um museu que acompanha a história cultural da cidade, conquistada com esforço. Esse museu tem que ter continuidade.”

Carlos Vergara

O artista Carlos Vergara é o entrevistado do segundo episódio da série Memória MAM 75, com nomes da arte brasileira fundamentais para a história da instituição. “Eu tenho 82 anos, mas estou olhando para a frente”, declara. Em conversa com o diretor artístico Pablo Lafuente, Vergara fala de sua primeira exposição, quando colou seus trabalhos no bar que então havia no MAM Rio. “Fiz à revelia de todo mundo”, conta. “Quando o museu abriu, os jovens se aproximaram. Entre eles, eu. Queríamos uma brecha”, conta, citando Rubens Gerchman, Antonio Dias e Hélio Oiticica.

No começo dos anos 1960, a arte moderna ainda era “uma coisa estranha”, ele diz. Eram tempos da ditadura. “Vínhamos ao museu, que era o lugar em que se podia ter uma conversa sobre arte. Era quase clandestina, a arte contemporânea. Aqui era um lugar também quase clandestino”, conta o artista. Vergara fala de suas participações nos Domingos da Criação: “a ideia de trazer a minha mãe foi a de que qualquer pessoa, mesmo não sendo artista, poderia fazer arte”.

Ele menciona também sua icônica série de fotografias sobre o carnaval, mostrada no museu em 1972. “Eu já trabalhava com o Cacique, que tinha uma frase: dos 7 mil, eu sou um. Isso significava que havia a ideia do coletivo. Era político o que o Cacique levava para a avenida.” Ele retoma experiências como o ateliê de gravura e a cinemateca, e encerra apontando caminhos para o MAM Rio: “insisto que se deveria retomar a vanguarda”. Na conversa, Vergara discute a função do museu e diz que as pessoas que gostam de arte devem se aproximar. “Tudo cabe aqui. Poderíamos fazer um teatro contemporâneo, na sala. E na inauguração de uma exposição, chamar jovens dramaturgos para fazer um happening”. “A cidade precisa do museu”, resume.

Anna Bella Geiger

A artista carioca Anna Bella Geiger estreia o programa Memória MAM 75. Ela conta que tinha “mania de MAM”. Dentre os destaques do depoimento, suas primeiras interações com o museu, no ateliê de gravura em metal. “Quando a gente é jovem, mulher, é como na pré-história: fazia tudo. Eu vinha de manhã e de noite” conta a artista, que morava perto do museu, retornando para casa para amamentar sua filha recém-nascida.

Na entrevista, Anna Bella Geiger relata também o período da ditadura militar no Brasil e sobre sua famosa fase visceral, entre 1965 e 1969. Relata também o surgimento da Área Experimental do MAM Rio, conforme batizado por ela. “A ideia era de ocupação total. Achávamos que todo o museu deveria ser experimental.”

Na conversa, Anna Bella relembra a gênese de “Brasil nativo/Brasil alienígena”, de 1976/1977, e o início de sua atuação com videoarte, ao lado do grupo que incluía Ivens Machado, Letícia Parente, Fernando Cocchiarale, Paulo Herkenhoff e Ana Vitória Mussi, usando a câmera Super 8 de segunda mão que ela ganhou de um funcionário do Itamaraty e que emprestava aos colegas.



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