7 de julho de 2020

Detalhe da pintura de Djanira, “Fazenda de chá no Itacolomi” (1958), óleo sobre tela, 81 x 116,2cm, aquisição em 1958, Coleção MAM Rio

Obras restauradas

Restauração de parte da Coleção Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro anterior a 1978

Desde sua fundação em 1948, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro desempenha um importante papel na difusão da arte e preservação de patrimônio artístico e cinematográfico brasileiro. Porém, no dia 8 de julho de 1978, um trágico incêndio começou durante a madrugada com um curto-circuito na Sala Corpo e Som, no terceiro andar do Bloco de Exposições. Havia profissional que fazia a ronda no museu, que acionou os bombeiros. Entre trinta e quarenta minutos depois, quando os bombeiros chegaram, a água das mangueiras não chegava ao terceiro pavimento, o que fez com que o incêndio não fosse controlado em fase inicial. Horas depois, centenas de obras haviam desaparecido ou estavam gravemente danificadas, entre elas trabalhos de Picasso, Miró, Matisse, Dalí e Portinari, além de 74 telas do uruguaio Torres-García, que não pertenciam ao museu e estavam na exposição temporária “Arte Agora III – América Latina: Geometria Sensível”. Uma tragédia inominável com estrago tamanho que apenas nos anos 1990 instituições internacionais voltariam a confiar no país para abrigar exposições de grande porte.

Segundo relatório parcial sobre a pesquisa e levantamento de obras de artes plásticas destruídas, de autoria da então coordenadora de Museologia do museu, Cláudia Calaça, concluído em 2018 depois de três anos de pesquisa, 586 das 1.150 obras do acervo do museu se perderam naquele episódio. O incêndio, felizmente, não afetou nenhum item da Cinemateca do MAM.

Uma pequena parte das obras de arte atingidas que não foram inteiramente destruídas nem puderam ser restauradas naquela época, foi mantida na reserva técnica. Em 2012, por meio do concurso Pró-Artes Visuais da Secretaria de Cultura da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, o museu conseguiu apoio para restaurar parte dessas obras com o projeto “Restauração de Parte da Coleção MAM anterior a 1978”.

Em um minucioso e longo processo, 12 pinturas danificadas foram tratadas e recuperadas. Obras de Ivan Serpa, Lygia Clark, Djanira, Manabu Mabe, Wega Nery e Silvia Chalreo, para citar os artistas brasileiros. E Alberto Magnelli, Serge Poliakoff, Oton Gliha, Maria Luisa Pacheco, Michel Patrix e Jorge Páez Vilaró, entre os estrangeiros. Uma décima-terceira, “Homenagem a Fontana”, de Nelson Leirner, não pode ser restaurada, mas o artista supervisionou a produção de uma réplica para o museu em 2013, que tem sido exibida em algumas exposições lado a lado com o original danificado.

“Composição” (1944), de Alberto Magnelli, óleo sobre tela, 65 x 81cm, doação de Josias Leão em 1951, Coleção MAM Rio

“Composição” (1944), de Alberto Magnelli, restaurada

“A pesquisa na documentação histórica precedeu a fase de restauro para que determinados documentos e imagens fotográficas das obras fossem localizados com antecedência pela pesquisadora contratada e que depois servissem de consulta nos trabalhos de restauração”, conta Fátima Noronha, conservadora do MAM.

Segundo a conservadora, “os restauradores buscaram soluções técnicas apropriadas para cada caso, aliadas a materiais estáveis e reversíveis, dosando equilíbrio estrutural e estético para reaproximar cada pintura à sua unidade potencial de obra de arte, com resultado admirável. Dos métodos de reintegração pictórica não imitativa, os restauradores escolheram o retoque pontilhado, absolutamente perceptível a olho nu, deixando evidente as áreas reintegradas, evitando a contrafação da técnica e da fatura dos artistas”.

As restaurações foram realizadas em ateliês particulares. Fotografias existentes no arquivo do museu, ainda que em preto e branco, foram essenciais no processo. “Registros, como fotos e ficha catalográfica, são ações de preservação”, comenta a curadora de Pesquisa e Documentação do MAM Rio, Elizabeth Catoia Varela.

Ao final do projeto, foi feita uma exposição no museu e editado um livro que mostra o antes e o depois, com fotografias de Jaime Acioli. O catálogo do projeto de restauração, que se estendeu de 2012 a 2014, está disponível para leitura online e pode ser baixado gratuitamente.


Links relacionados

Baixe o PDF da publicação “Restauração de parte da coleção Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro anterior a 1978”. 

Saiba mais sobre a solução encontrada para a obra “Homenagem a Fontana”, de Nelson Leirner.

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