Brava Gente: a Beija-Flor no MAM Rio

Exposição da bandeira Por um novo nascimento

QUI 30 MAR – DOM 28 MAI . 10h – 18h
A bandeira foi criada para o desfile Brava gente! O grito dos excluídos no bicentenário da Independência, apresentado pelo GRES Beija-Flor de Nilópolis no carnaval do Rio de Janeiro de 2023. O lema “Por um novo nascimento” figura de forma direta na bandeira, na alegoria e no próprio desfile, que propunham o renascimento da independência desta nação, e está atrelada também aos versos do samba-enredo do carnaval anterior, que dizia: “Por um novo nascimento um levante, um compromisso”. Com isso, a escola deixa como mensagem, ao final do desfile deste ano: para um novo nascimento da nação independente Brasil, há de se mobilizar a sociedade em um levante que esteja fortemente associado a seu compromisso.

As cores utilizadas na bandeira têm os seguintes significados: azul pela inclusão e participação na diversidade de gêneros; branco pela igualdade de classes; amarelo pelo respeito ao direito de todas as raças; verde pelo direito à vida digna. 

A presença da bandeira na exposição dá continuidade a uma colaboração entre o MAM Rio e a Beija-Flor, desenvolvida durante os processos de preparação tanto de Atos de revolta: outros imaginários sobre independência, em cartaz no MAM Rio entre setembro de 2022 a maio de 2023, e ao desfile de Brava gente! O grito dos excluídos no bicentenário da Independência, em fevereiro de 2023, no sambódromo da avenida Marquês de Sapucaí.

O programa “Brava gente: a Beija-Flor no MAM Rio” contemplou oficinas, palestras, visitas da comunidade ao museu e a participação de integrantes da escola, como a porta-bandeira Selminha Sorriso e o mestre-sala Claudinho, ensinando sua arte para o público nos pilotis. De modo inédito, quatro fantasias que participaram do desfile de carnaval ficaram em exibição no espaço expositivo de Atos de revolta, em dezembro.

Espaço expositivo da mostra Atos de revolta: outros imaginários sobre independência do MAM Rio. Classificação indicativa livre.

Título da obra: Por um novo nascimento
Ano: 2023
Dimensões: 16 x 11m
Técnica: cetim, elastano, tule, malha, estopa e outros tecidos, com arame, polietileno expandido, cordões, búzios, sementes e miçangas
Autores do projeto/Carnavalescos: André Rodrigues e Alexandre Louzada
Elaborador/Pesquisador do enredo: Mauro Cordeiro
Coordenação/Gestora de projetos: Cheyenne Santos
Contribuições de ONG Criola (organização na defesa e promoção dos direitos das mulheres negras); OMA (Organização das Mulheres de Manguinhos); Escola de Divines (grupo LGBTQIAP+); alunos da pós-graduação do curso de Gestão e Design de Carnaval da faculdade CENSUPEG, que recriaram arte indígena da Aldeia Maracanã (Augusto Cavalcanti, Rodrigo Costa, Lilian Moreira, Edy Rodrigues, Paula Cristina Lemos, Aline Gama, Joyce Pinto e Carolina Furtado); Escola Vida Reluz de Nilópolis (escola municipal de Nilópolis, que contribuiu com 100 desenhos feitos pelos alunos); Thiago Kuerque (escritor e CEO do Site da Baixada), Airton Barbosa e Ilê Asé Manjele’o (coletivo de mulheres idosas)


Exposição de fantasias

SÁB 3 – DOM 18 DEZ . 10h – 18h
A mostra apresenta quatro figurinos do Carnaval 2023 da Beija-Flor de Nilópolis, em diálogo com a exposição Atos de revolta: outros imaginários sobre independência, também em cartaz no MAM Rio. É a primeira vez que uma escola de samba exibe suas fantasias ao público, antes do desfile.

Foyer e espaço expositivo da mostra Atos de revolta: outros imaginários sobre independência do MAM Rio. Classificação indicativa livre.

Alexandre Louzada e André Rodrigues 
Niterói, RJ, 1957; São Paulo, SP, 1991

A PRESSA DA FOME 2022
malha sublimada, plástico, talheres recicláveis e espuma
confecção: Fábio Santos e Rodrigo Pacheco (Ateliê Beija-Flor)

Contexto da fantasia no enredo, segundo a escola:
“A miséria, a extrema pobreza e a fome são sintomas do caráter desigual e excludente da formação nacional. Desde a colonização, o modelo econômico e social imposto no território brasileiro produziu a escassez e a insegurança alimentar. A brutal concentração de terras, o sistema escravista e a prioridade para exportação são algumas das raízes desta mazela. Este gigante de dimensões coloniais, onde a produção de alimentos bate recorde, ano após ano, também é o país onde o flagelo da fome é fato histórico. Uma nação verdadeiramente independente não pode conviver com a fome. Enquanto no ano de 2014 comemoramos o fato do país ter saído do Mapa da Fome da ONU; hoje, dados do Segundo Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia de Covid-19 no Brasil apontam que mais de 33 milhões de brasileiros não têm garantido o que comer, vivendo em situação de insegurança alimentar. O combate à fome no Brasil é uma luta histórica pela preservação da própria vida daqueles e daquelas condenados à carestia. A sociedade civil organizada é protagonista na denúncia, na mobilização, no enfrentamento e na conscientização em prol da conquista de políticas públicas que promovam a diminuição da pobreza. O objetivo primordial é garantir a todos os brasileiros e brasileiras o acesso a alimentação saudável, nutritiva e suficiente. Quem tem fome, tem pressa.”

Alexandre Louzada e André Rodrigues 
Niterói, RJ, 1957; São Paulo, SP, 1991

AMEAÇA VERMELHA 2022
lamê, moldagem a vácuo, organza, tule e decorativos diversos
confecção: Fábio Santos e Rodrigo Pacheco (Ateliê Beija-Flor)

Contexto da fantasia no enredo, segundo a escola:
“Em dois momentos distintos da história, em 1937 e 1964, setores conservadores da sociedade brasileira fizeram do medo o combustível para justificar intervenções autoritárias que romperam com as garantias constitucionais e instituíram regimes de exceção. Não à toa, nos dois momentos, teorias conspiratórias sobre uma ameaça comunista no Brasil ganharam força, com o objetivo de criar na população temor e insegurança. Mobilizando valores, crenças e ideias, construíram uma representação que se disseminou acerca do comunismo e legitimou ações violentas. Sendo um país forjado na desigualdade e erguido, em seus pilares, para manutenção desta, uma corrente ideológica que defende a transformação social entra em choque com o sentido desta nação, com a sua lógica fundante, sua razão de ser. O anticomunismo se enraizou devido à ação de órgãos estatais e entidades privadas que o disseminaram com forte apoio e adesão de setores conservadores da sociedade como, por exemplo, a Igreja e os militares. Tanto no Estado Novo quanto na Ditadura civil-militar, o que se viu foram intervenções arbitrárias que cercearam direitos duramente conquistados para evitar uma ‘ameaça vermelha’ que nunca esteve próxima de se concretizar. Assim, ainda hoje, em momentos de crise ou instabilidade política institucional, o fantasma de um ‘perigo vermelho’ é acionado para legitimar medidas autoritárias, excludentes e antidemocráticas. A grande ironia é que a justificativa da implantação destes dois períodos ditatoriais foi uma suposta defesa do regime democrático.”

Alexandre Louzada e André Rodrigues 
Niterói, RJ, 1957; São Paulo, SP, 1991

ODE AOS BOTUCUDOS 2022
malha sublimada, penas artificiais, moldagem a vácuo e decorativos diversos
confecção: Fábio Santos e Rodrigo Pacheco (Ateliê Beija-Flor)

Contexto da fantasia no enredo, segundo a escola:
“Indígenas integrantes do complexo Macro-jê, os ‘botocudos’ são caçadores e coletores seminômades que cultivam a crença nos espíritos encantados dos mortos. Seus hábitos e modos de vida foram classificados pelo olhar eurocêntrico do colonizador, desde o primeiro contato, como obstáculos a um projeto civilizatório homogeneizador e violento. No ano de 1808, assim que a Corte Portuguesa chegou ao país, Dom João declarou uma guerra ofensiva aos chamados botocudos que só seria revogada em 1831. O que justificava essa medida e a guerra que se instaurou era o interesse nas terras. No século 19, eles ocuparam os sertões de Minas Gerais e do Espírito Santo, na região dos rios Doce, Mucuri e Jequitinhonha, lugar cobiçado no roteiro de expansão econômica que tinha justamente na questão fundiária uma pauta decisiva. Mesmo durante as guerras da independência, os conflitos entre as tropas do nascente Império brasileiro e os indígenas não cessaram. No alvorecer de um Brasil emancipado de Portugal, indígenas, filhos desta terra, foram combatidos como inimigos da nação a se construir. Em 1824 os ‘botocudos’ realizam um cerco na cidade de Vitória em um episódio emblemático de insubmissão em um contexto violento onde a própria existência desta nação indígena estava em jogo. Reconhecemos sua altivez e bravura através de diferentes táticas e estratégias em uma saga de resistência heróica. Fazemos aqui nossa ode a estes heróis da terra.”

Alexandre Louzada e André Rodrigues 
Niterói, RJ, 1957; São Paulo, SP, 1991

SONHO MALÊ 2022
tecido oxford sublimado, penas artificiais, lamê, malha sublimada, moldagem a vácuo e decorativos diversos
confecção: Fábio Santos e Rodrigo Pacheco (Ateliê Beija-Flor)

Contexto da fantasia no enredo, segundo a escola:
“Permeava o imaginário de todos os cativos o sonho da liberdade. Após o grito de 1822, não se compreendia a tal Independência com tantos ainda presos e forçados ao trabalho, sustentando sob a barbárie os alicerces do ‘progresso’ desta terra. A manutenção da escravidão estava nas letras miúdas deste pacto mentiroso. A tensão dos escravizados explodia por vários cantos do Brasil. Salvador, que entre escravizados e libertos, tinha 78% da população composta por afrodescendentes, foi palco de diversas rebeliões negras sendo a mais significativa dentre estas a Revolta dos Malês. Um protesto coletivo, um levante, uma rebelião que, embora tenha sido rapidamente controlada, estremeceu a classe senhorial em seu temor de um novo Haiti. Este movimento pode ser compreendido a partir de uma combinação sui generis de três elementos: pertencimento étnico, condição de classe e religião. Os malês eram negros muçulmanos de origem iorubá – nagôs, haussás, ewes e etc. – e esta identidade étnica e religiosa se articulava a condição de classe: a maior parte dos revoltosos eram escravizados. Mesmo os revoltosos libertos, compunham o estrato mais baixo da pirâmide social. Nas reuniões de mobilização, havia a leitura e a memorização de passagens do Alcorão. Partilhavam coletivamente a crença no poder protetor de amuletos. Os filhos de Alá na Bahia ensejaram transformar radicalmente a sua realidade e, embora não tenham sido vitoriosos, os malês legaram heranças históricas e culturais até hoje presentes em nosso cotidiano, mas, acima de tudo, nos ensinaram, através de sua experiência, a importância da organização coletiva para os nossos anseios de liberdade, por isso um retrato glorioso em nosso ato, aos que vieram antes e lutaram. Vestir-nos de Malê é incorporar seus sonhos, mesmo que marginalizados em um projeto de sociedade.”

Em dezembro, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro dá início a uma série de atividades desenvolvidas em parceria com a escola de samba Beija-Flor de Nilópolis. A programação gratuita é pautada pela interseção entre o enredo do Carnaval 2023 da tradicional escola – Brava Gente! O grito dos excluídos no bicentenário da Independência, de autoria dos carnavalescos Alexandre Louzada e André Rodrigues – e a exposição Atos de Revolta: outros imaginários sobre independência, que aborda a mesma temática no museu.



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