Formas das águas

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25 JAN – 1 JUN 2025
curadoria Pablo Lafuente e Raquel Barreto

Em um tempo em que a consciência da emergência climática nos obriga a reconsiderar a relação com nosso entorno e seus processos, a exposição Formas das águas pensa histórica, poética e especulativamente a partir da Baía de Guanabara e suas águas, lugar em que estamos e que dá contorno ao que somos enquanto museu e cidade. A baía aparece como origem e contexto; a água, como metáfora; seus fluxos, como métodos. 

Obras de 14 artistas de diferentes gerações e locais apresentam imagens, narrativas, experiências e acontecimentos que tiveram lugar nesta baía e definiram nossa história. Assim propõem reflexões sobre modos possíveis de estar e circular pelos cursos do passado e do presente, e nos fazem sentir em movimento. O espaço expositivo, atravessado por plataformas de passagem e pontos de observação, mostra caminhos que separam as obras ao mesmo tempo que as conectam. 

Os trabalhos, em diálogo uns com os outros, mostram que, para entender a nossa conjuntura, precisamos pensar em conexão. Imaginar cenários de vida viáveis demanda não só encontrar equilíbrios em relação ao mundo e aos seres que o formam, mas também entender as questões e os diversos percursos que nos trouxeram até aqui. E, para isso, seguimos as sensações, ideias, movimentos e vidas que as formas das águas revelam.

ARTISTAS

Agrade Camíz, brasileira, vive no Rio de Janeiro. Em 2011, começou sua pesquisa em pintura, inicialmente nas ruas, depois se estendendo para instalações, videoarte e fotografia. Em 2024, integrou coletivas como Dos Brasis: arte e pensamento negro (Sesc Quitandinha, Rio de Janeiro, e Sesc Belenzinho, São Paulo), The Ocean is the Axis (Galeria Mariane Ibrahim, Cidade do México) e Rio: a medida da terra (Galeria Flexa, Rio de Janeiro). Em 2023, realizou a mostra individual Última Forma, na galeria A Gentil Carioca, Rio de Janeiro. Suas obras integram coleções como as do Instituto Inhotim e do Instituto PIPA.

Aline Motta nasceu em Niterói e mora em São Paulo. Combina diferentes técnicas e práticas artísticas em seu trabalho, como fotografia, vídeo, instalação, performance e colagem. Em 2022, lançou seu primeiro livro A água é uma máquina do tempo, finalista do prêmio literário Jabuti. No mesmo ano, abriu exposição individual no átrio do Sesc Belenzinho e na sala de vídeo do MASP. Em 2023, expôs na 15a. Bienal de Sharjah (Emirados Árabes Unidos), no MoMA Museum of Modern Art (Nova Iorque) e na 35a Bienal de Arte de São Paulo. Em 2024, recebeu o Prêmio PIPA de artes visuais.

Arthur Bispo do Rosario (1909–1989), sergipano, viveu no Rio de Janeiro, onde foi marinheiro e boxeador. Em 1938, após relatar uma revelação divina, foi diagnosticado com esquizofrenia e passou quase 50 anos internado na Colônia Juliano Moreira. Durante esse período, criou bordados, assemblages e objetos feitos com materiais descartados, obras repletas de simbolismo e espiritualidade. Reconhecido como um dos maiores artistas contemporâneos do Brasil, Bispo transformou memória e vivências em arte, questionando as fronteiras entre saúde mental, marginalidade e genialidade.

Amélia Toledo (1926–2017), paulistana, foi uma escultora, pintora, desenhista e gravadora de grande relevância na arte brasileira. Iniciou sua formação no ateliê de Anita Malfatti e ampliou seus estudos com Yoshiya Takaoka e Waldemar da Costa. Estudou em Londres na Central School of Arts and Crafts (1958) e lecionou em instituições como Mackenzie e ESDI. Explorou pintura, escultura em metal, design de joias e projetos públicos, como o cromatismo da estação Arcoverde do metrô do Rio. Em 1999, teve uma retrospectiva no Sesi-SP, consolidando seu legado inovador e multidisciplinar.

Artur Barrio nasceu em Porto, Portugal, passou parte da infância em Luanda, Angola, e  mudou-se para o Rio de Janeiro em 1955, onde iniciou sua carreira artística. Em 1965, dedicou-se à pintura e, a partir de 1967, frequentou a Escola Nacional de Belas Artes, desenvolvendo “cadernos livres” que desafiavam padrões tradicionais. Em 1969, criou as “Situações”, intervenções como as “Trouxas Ensanguentadas”, feitas com materiais orgânicos, criticando normas artísticas e questões sociopolíticas. Participou da mostra Do Corpo à Terra, onde documentou suas ações em fotografias e filmes Super-8. Com passagens pela África e Europa, Barrio consolidou um perfil internacional e segue sendo revisitado por publicações e exposições sobre sua arte efêmera e crítica.

Emilia Estrada, nascida em Córdoba, Argentina, vive no Rio de Janeiro. Formada em Artes Visuais pela Universidade Nacional de Córdoba, foi bolsista no programa de Práticas Artísticas Contemporâneas da EAV Parque Lage. Participou das exposições Otra Orilla (Manarat Al Saadiyat, Abu Dhabi, 2024), ABRE ALAS 19 (A Gentil Carioca, Rio de Janeiro, 2024), A Parábola do Progresso (SESC Pompeia, São Paulo, 2023) e Casa Carioca (Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro, 2020).

Isa do Rosário é artista de Franca, São Paulo. Tecelã de memórias e guardiã de histórias. De suas cores nascem raízes, entrelaçando cultura e conexão ancestral. Em 2023, participou da 12ª edição da Liverpool Biennial of Contemporary Art, na Inglaterra, e, em 2024, integrou a mostra Ancestral: Afro-Américas [Estados Unidos e Brasil], no Museu de Arte Brasileira da FAAP, em São Paulo.

Jota Mombaça, artista interdisciplinar brasileira, vive entre Lisboa e Amsterdã. Sua obra explora poesia, teoria crítica e performance, abordando crítica anticolonial e desobediência de gênero. Participou da 34ª Bienal de São Paulo (2021) e realizou individuais como THE SINKING SHIP/PROSPERITY (Kadist San Francisco, 2022) e A CERTAIN DEATH/THE SWAMP (CCA Berlin, 2023). Publicou o livro Ñ V NOS MATAR AGORA (2021) e integra coleções como Kadist e GfZK. Por meio de performances e ficções, propõe a reinvenção do mundo pós-colonial.

Laís Amaral vive e trabalha no Rio de Janeiro. Identifica-se como uma artista-artesã, termo influenciado por sua formação familiar e pelas experiências com o Trovoa, coletivo que fundou em Niterói, Rio de Janeiro. Suas individuais mais recentes incluem What happens at the seaside at dawn? (Mendes Wood DM, Nova York, 2024); Entre dormir e acordar (Bela Maré, Rio de Janeiro, 2024); Estude fundo (Mendes Wood DM, Bruxelas, 2023); No meio do peito um buraco fundo, o mais fundo da cachoeira, onde a luz não vem de fora (HOA Gallery, São Paulo, 2023); e Lais Amaral: Cement and Water (M+B Almont, Los Angeles, 2022). Entre suas exposições coletivas destacam-se Defeito de Cor (Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro, 2022) e Possible Agreements (Mendes Wood DM, Brussels, 2022).

Lia Mittarakis (1934-1998), artista autodidata, viveu por muitos anos na Ilha de Paquetá, cuja paisagem inspirou grande parte de sua obra. Em 1964, realizou sua primeira mostra individual e participou de coletivas nos Estados Unidos, Itália e Portugal. Em 1977, participou do Primeiro Encontro Carioca de Pintura Ingênua, no Rio de Janeiro. Suas obras estão em coleções de instituições como o Museu Internacional de Arte Naïf do Brasil, o Vaticano, o Musée de l’Île-de-France e o Palácio de Mônaco. Durante a ECO-92, uma de suas pinturas foi capa da revista Times. 

Nádia Taquary nasceu em Salvador (BA), onde vive e trabalha. Investiga tradições e práticas em torno do sagrado afro-brasileiro, em particular, a mulher negra e o seu legado ancestral. Já realizou individuais em Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro, Paris e Miami, além de exposições coletivas em Los Angeles, São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Nova York. Mais recentemente, participou da 24ª Bienal de Sydney. Suas obras integram acervos de importantes coleções institucionais como Pérez Art Museum Miami (PAAM), Museu de Arte e Design de Nova York (MAD), Pinacoteca de São Paulo, Inhotim, Museu de Arte do Rio (MAR) e Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM/BA).

Renata Tupinambá é jornalista, roteirista, consultora, curadora, poeta e multiartista. Fundadora da Originárias Produções, atua desde 2005 na difusão das culturas indígenas por meio da etnocomunicação. Em 2024, idealizou, em parceria com Mi Mawai, o Programa Guanabara Pyranga, voltado ao intercâmbio cultural e artístico entre diferentes matrizes, identidades e etnias. No mesmo ano, participou da Residência Artística Cosmopercepções da Floresta (Goethe Institut Rio). Em 2024, participou da Residência artística Cosmopercepções da Floresta, do Goethe Institut Rio. É curadora-adjunta do Museu de Arte de São Paulo (MASP).

Sandra Cinto vive e trabalha em São Paulo. Sua prática artística estabelece entre o desenho e outras linguagens, como a arquitetura, a escultura, a pintura e as instalações. Realizou exposições individuais em instituições como Fundação Hermès e Itaú Cultural (2020), Dallas Art Museum (2019) e Cincinnati Art Center (2017). Suas obras integram coleções como Inhotim, MAC/USP, MASP, MAM e MoMA. Recentemente, concluiu as obras públicas permanentes “Melodia para as estrelas e prelúdio para sonhar”, no Teatro Cultura Artística, São Paulo, e “The Wishes Boulevard”, em Korat, na Tailândia, instalação com 32 árvores e 700m2 de azulejos. 

Siwaju nasceu em São Paulo, vive e trabalha no Rio de Janeiro. Sua prática escultórica investiga a relação do tempo com diferentes ecologias, e é por meio do reaproveitamento de peças de aço doadas, coletadas e recicladas a partir da pesquisa periódica aos centros de reciclagem que seus trabalhos estabelecem uma relação íntima e direta com o pensamento tridimensional brasileiro. Estabelecendo relações entre a matéria, o Cosmos, as energias visíveis, invisíveis, entre o objeto e seu entorno, entre corpo escultórico e o espaço, sempre numa dimensão temporal em espiral e em movimento de expansão e retrospecção ativando conhecimentos afro diaspóricos. 

A exposição Formas das águas é patrocinada pela Petrobras e pela Wilson Sons por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.



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