O logotipo do MAM
Fundado em 1948, o MAM Rio experimentou nos seus primeiros anos de vida assinaturas visuais bem variadas, até eleger uma, como mostram muitos de seus impressos institucionais.
Entre os documentos desse arquivo histórico estão convites para exposições individuais do pintor expressionista austríaco Oskar Kokoschka (1886-1980) e dos brasileiros Emiliano Di Cavalcanti (1897-1976) e Maria Martins (1894-1973). Cada um desses convites explora possibilidades gráficas e conceituais bem diferentes, alguns com inspirações geométricas, outros de cunho caligráfico.
O arquivo da Pesquisa e Documentação do MAM Rio, onde esses convites estão, oferece acesso gratuito a pesquisadores externos, brasileiros e estrangeiros. A especialidade do arquivo é a arte moderna e contemporânea brasileira, em especial os artistas que fazem parte do acervo, que expuseram ao longo dos seus 72 anos de história, ou que tenham relevância artística nos períodos moderno e contemporâneo.
Convite para exposição de Oskar Kokoschka, abril de 1954.
Convite para exposição de Di Cavalcanti, setembro de 1954.
Convite para exposição de Maria Martins, maio de 1956.
Uma fotografia de 1954, do arquivo de Pesquisa e Documentação do MAM, mostra um trator no canteiro de obras da sede definitiva do museu tendo atrás uma placa com uma assinatura visual da instituição.
O artista e designer argentino Tomás Maldonado (1922-2018), a quem já se atribuiu a autoria da assinatura visual embrionária do logotipo atual do museu, assegurou não ter criado esse desenho. Esse depoimento, de 2003, está arquivado na Cinemateca do MAM. O motivo? Segundo a pesquisadora Mariana Boghossian, o desenho original tinha espessuras variáveis em suas hastes e uma espécie de serifa em suas terminações, traços típicos de penas de ponta chata, comuns às famílias tipográficas oriundas da caligrafia. Maldonado não faria isso, foi até professor e depois reitor da escola Hochschule für Gestaltung Ulm, na Alemanha, instituto de ensino de design fundado nos preceitos da Bauhaus.
Com a ausência de outras fontes comprobatórias, não é possível até o momento assegurar quem foi o autor (ou autora) do logotipo embrionário do MAM. Seja quem tenha sido, Boghossian supõe que teve acesso ao projeto arquitetônico do museu, feito por Affonso Eduardo Reidy, uma vez que as linhas do símbolo remetem às colunas da sede definitiva do MAM Rio no Parque do Flamengo.
Foto de autor não identificado, 1954, mostra assinatura visual do MAM.
Capa do catálogo da individual de Alberto da Veiga Guignard, em 1953.
Reprodução em vetor de assinatura visual do MAM.
Empregado desde os anos 1950, o logotipo do MAM Rio é um exemplo de sucesso e de atemporalidade que ajudou a propagar o design moderno no Brasil.
O projeto de assinatura visual do museu é cercado de incertezas e conjecturas. Vestígios sugerem diversas origens para seu logotipo, já que não há documentos que comprovem a autoria do primeiro desenho. As formas adotadas pelo museu para sua distinta e inconfundível linguagem gráfica atestam exatidão em seus traços e a clareza de seu berço: o modernismo.
Um grande nome do design brasileiro, Alexandre Wollner, assumiu a autoria do redesenho do logotipo do MAM feito em 1959. Wollner participou como aluno dos cursos do Instituto de Arte Contemporânea, do MASP, e da Hochschule für Gestaltung Ulm, na Alemanha. Ele ficou conhecido pela extrema proficiência técnica e pelo rigor formal e sintético, impressos na assinatura visual do MAM Rio.
O logotipo do MAM mantém a síntese de aspectos construtivos marcantes do edifício principal do museu e remete à sua sigla como no símbolo anterior, somados às características essenciais como a modulação geométrica e proporcionalidade com base no número três: marcas do trabalho de Wollner.
Na imagem abaixo, é apresentado o desenho estrutural do redesenho de Alexandre Wollner.
Fonte: STOLARSKI, André. Alexandre Wollner e a formação do design moderno no Brasil: depoimentos sobre o design visual brasileiro. São Paulo: Cosac Naify, 2005. p. 20. Reprodução em vetor.
Texto publicado em 12 de maio de 2020, a partir de pesquisa de Mariana Boghossian.