Pensamos em fazer o encontro presencial com Sergio Santeiro na Cinemateca do MAM, o segundo lar do Sergio, palco de muitos debates calorosos, tela exibidora de seus filmes, casa onde encontrava o amigo Cosme e o irmão Gilberto. Por motivos absolutamente necessários, a Cinemateca irá exibir, em seu canal online, o conjunto dos seus filmes de curta-metragem. VIVA!
O que escrever sobre o Sergio de forma sucinta?
O nome de origem incerta, talvez etrusca, foi traduzido pelo latim como Sergius cujo significado remete àquele que cuida, que protege.
É ao mesmo tempo difícil e fácil defini-lo. Difícil por ser persona mui singular de raríssima possibilidade de comparação. Fácil porque sendo singular sua personalidade se torna bastante nítida.
Carioca da gema, pais mineiros, nasceu, cresceu e está a envelhecer em Copacabana onde também descobriu o cinema e a beleza de Tonia Carreiro no filme “Tico Tico no Fubá” de Tom Payne mas se apaixonou por “Rio, 40 graus” de Nelson Pereira dos Santos. Em 1ª de abril de 1964, perto dos seus 20 anos, saiu a caminhar sem destino. No mesmo ano ingressou na faculdade de Sociologia da PUC Rio no lugar da carreira diplomática. Devorou livros, escreveu poemas, adquiriu sólida formação de sociólogo de pensamento original e definitivo. Pensador de esquerda, seu cinema é eminentemente social, engajado na forma, na produção e no conteúdo. Não é a toa que predomine em sua obra os filmes curtos. “Um terço a menos tudo fica melhor”.
O primeiro filme de Sergio Santeiro é “Paixão”. Filme de perseguição que nos leva ao cinema primitivo. Realizado em 1966, entre o “Desafio” (1965) de Paulo Cezar Saraceni e ” Terra em Transe” (1967) de Glauber Rocha “Paixão” compõe, ao lado deles, o que poderia ser chamado de trilogia da angústia.
Sergio é capaz de ler um livro por dia e assim fez durante bastante tempo. Conhece a literatura brasileira até o modernismo. Desse conhecimento criou para o cinema sua versão de “O Guesa” de Sousândrade e “Klaxon”, a revista dos modernistas. Da pintura fez “Ismael Nery”. Da música filmou “Samba em Copacabana”, da vida fez “Humor Amargo”, “Isto é Brasil”. De sua poesia, fez “Primeiros Cantos” quando jovem e “Antigamente” já maduro. Da história, fez “Viagem pelo Interior Paulista”, do desenvolvimento documentou “A indústria do Solúvel”, da política filmou “Encontro com Prestes”, da academia, realizou “Universidade Fluminense” e da paixão, “Passion a la vie”. Todos os filmes juntos formam o panorama do Brasil por Sergio Santeiro.
Professor de Cinema, lecionou na UFF, no Parque Lage e no CUP. Por 40 anos, Sergio deixou seu legado de formação humana libertadora. Basta conhecer seus alunos e as relações construídas com o mestre.
Conheci Sergio no Festival de Cinema de Itu. Trazido por Luiz Rosemberg Filho, nosso padrinho, Sergio me encantou com seu olhar penetrante, seus cabelos cacheados e pelo modo interessado de se apresentar. É no detalhe que ele se faz presente, no que aparentemente ninguém percebe mas que gera um significado muito especial a quem ele destina sua curiosidade. Viver ao seu lado é aventura permanente intermediada por sutilezas surpreendentes.
Desejo ótimas sessões!!!
Renata Saraceni
Janeiro de 2022
TEXTOS DE SERGIO SANTEIRO
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PROGRAMAÇÃO DA MOSTRA
Assista gratuitamente em www.vimeo.com/channels/cinematecadomam
SEX 28 JAN – QUI 03 FEV
Curtas 1. Paixão de Sérgio Santeiro. Brasil, 1966. 9’. + O Guesa de Sergio Santeiro. Brasil, 1969. Documentário. 20’. + Companhia siderúrgica nacional de Sergio Santeiro. Brasil, 1970. Documentário. 25’. Classificação indicativa 12 anos
SEX 04 FEV – QUI 10 FEV
Curtas 2. A indústria do solúvel de Sergio Santeiro. Brasil, 1971. Documentário. 9’. + Volta Redonda, a capital brasileira do Aço de Sergio Santeiro. Brasil, 1971. Documentário. 10’. Klaxon de Sergio Santeiro. Brasil, 1971. Documentário. 20’. + Humor Amargo de Sergio Santeiro. Brasil, 1973. 7’. Classificação indicativa 12 anos
SEX 11 FEV – QUI 17 FEV
Curtas 3. Viagem pelo interior paulista de Sergio Santeiro. Brasil, 1975. Documentário. 15’. + Universidade fluminense de Sergio Santeiro. Brasil, 1976. Documentário institucional. 12’. + Ismael Nery de Sergio Santeiro. Brasil, 1979. Documentário. 7’. + • 1984: Isto é Brasil de Sérgio Santeiro. Brasil, 1984. Com Rodrigo Mendonça, Otávio Müller e Ingrid Vorzats. 4’. + Encontro com Prestes de Sergio Santeiro. Brasil, 1987. Documentário. 12’. Classificação indicativa 12 anos
SEX 18 FEV – QUI 24 FEV
Programa 4. Problemas de Sergio Santeiro. Brasil, 2003. Com . 7’. + Samba em Copacabana de Sérgio Santeiro. Brasil, 2004. Documentário. 15’. + Paratodos de Sérgio Santeiro. Brasil, 2007. Documentário. 10’. + Passion à la Vie de Sergio Santeiro. Brasil, 2008. 3’ + Preto no Branco de Sergio Santeiro. Brasil, 2009. 3’. + Antigamente de Sergio Santeiro. Brasil, 2011. 6’. Classificação indicativa 12 anos
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